Todos os anos o mercado editorial global dá destaque para alguns temas que acabam aparecendo na maioria dos eventos. No ano passado, por exemplo, foi a inteligência artificial que rompeu bolhas e protagonizou painéis Brasil a fora – não somente relacionados ao mercado editorial.
Em 2024, o tema continuou em alta. Mas não só ele: audiolivros, sustentabilidade e a agenda ESG e acessibilidade também foram abordados e discutidos sob diferentes pontos de vista e deixaram o mercado como um todo em alerta e preparado para se adaptar às mudanças que já começaram. O PublishNews construiu uma linha do tempo sobre o que foi dito sobre cada um desses temas ao longo de 2024.
Em março, a Feira do Livro de Londres – um dos eventos internacionais mais importantes do primeiro semestre – deu destaque exatamente para esses temas em sua edição de 2024. “O que ficou claro é que as grandes editoras inglesas já estão usando o IA em todos os seus processos produtivos. Em alguns casos a utilização é bem explícita, em outros casos fica subentendido”, disse André Castro, reitor da Faculdade LabPub e que participou do evento. Em outro painel, Michele Cobb, diretora executiva da Audio Publishers Association, compartilhou dados do mercado de audiolivros nos EUA: pela primeira vez em 2023, a pesquisa da Associação mostrou que mais de 50% dos adultos nos EUA ouviram um audiolivro. As receitas do subsetor cresceram a dois digitos por 11 anos seguidos.
Em março, ABDR, Saber e SNEL realizaram um Summit para discutir a IA no mercado editorial. O apelo principal foi em relação a regulamentação da inteligência artificial na legislação brasileira, assunto que também foi abordado e detalhado pelo PN.
Uma das principais preocupações aparece em relação aos direitos autorais e sobre o uso da IA no processo de tradução, por exemplo. “Ainda não entendemos as consequências da IA sobre os direitos autorais", destacou Karine Pansa, presidente da International Publishers Association (IPA) em sua participação na Feira de Londres, ao abordar o assunto.Em maio, o Conselho da União Europeia aprovou a primeira lei abrangente a nível mundial que regulamenta a IA. A chamada Lei da IA será aplicada progressivamente até 2026, quando entrará plenamente em vigor, e visa estabelecer um quadro jurídico que garanta que o desenvolvimento e a utilização da IA sejam realizados de forma segura e ética. Ao mesmo tempo, visa garantir o respeito pelos direitos fundamentais dos cidadãos e estimular o investimento e a inovação em torno da ferramenta.
Por aqui, no mês seguinte, o Senado aprovou um requerimento para debater o projeto de regulamentação da IA. O tema também foi assunto no 3º Encontro de Livreiros, Editores, Distribuidores e Gráficos, que aproveitou também para abordar a questão da pirataria. “Esse é um problema sério, tanto do livro impresso como do livro digital. Você derruba um site por aqui, e logo ele tá em outro país, com o mesmo conteúdo. As pessoas brincam que é como enxugar gelo, mas a gente tem que continuar pensando em alternativas para evitar isso e educar o consumidor em relação a valorização do livro”, disse na ocasião a presidente da IPA.
Na Feira Internacional do Livro de Pequim, profissionais defenderam que o uso da IA é coletivo e aberto. Entre a virada de página sem uso das mãos (ou seja, controlando a leitura pelos olhos do leitor) e a produção instantânea de leitura em voz alta com uso de uma ferramenta de IA, a discussão atravessou também a utilização acadêmica dos dados e aspectos tecnológicos de aplicação dos modelos de linguagem.
O tema ainda foi assunto em Frankfurt, em Sharjah e no Interlivro – programação realizada pelo PN na Bienal do Livro de São Paulo.
E a Bookwire lançou no último mês uma funcionalidade que permitirá maior controle sobre como os conteúdos digitais são usados em aplicações de inteligência artificial (IA).
Para reforçar, os colunistas do PublishNews André Palme e Fernando Tavares abordaram o tema em diversos artigos publicados ao longo do ano e que passam ainda pela questão da inovação como um todo no mercado editorial.
Audiolivros
A Feira do Livro Infantil de Bolonha, por exemplo, realizou este ano a primeira edição do Audio Forum, reunindo diversos especialistas no assunto e com o objetivo de fornecer insights, dados e cobrir uma variedade de tópicos, desde o alcance internacional até as novas plataformas. O novo espaço deu tão certo que sua segunda edição já está confirmada para 2025.
Em maio, a Bookwire divulgou o seu relatório referente ao ano anterior e constatou que o mercado de audiolivros cresceu 43% em 2023. Ao participar do 3º EELDG, Videl Bar-Kar, vice-presidente de áudio da empresa alemã, disse que “o audiolivro é para as editoras de todos os tamanhos” e destacou que o mercado brasileiro ainda está numa jornada de consolidação, mas tem muito potencial. “A visão de longo prazo deve ser de continuar a investir nos audiolivros”, aconselhou.
Também com painéis exclusivos em Frankfurt, Sharjah, Chile (Contec), Flip e Interlivro, o audiolivro foi notícia com a Narratix, que lançou um novo selo editorial voltado ao público infantil, com a chegada da Sonora Books ao mercado brasileiro, com a Volyo Books, que prepara uma plataforma para criação de audiolivros com IA e vozes neurais; e com a Audible, que completou um ano de operação por aqui com um catálogo que já conta com 700 mil títulos, sendo 6 mil deles em português.
Para reforçar o peso de todas essas notícias, a Dosdoce.com – que desenvolve estudos e relatórios sobre o uso de novas tecnologias em diferentes áreas – divulgou os números do primeiro Mapa da Indústria de Áudio em Língua Portuguesa que mostra que o Brasil lidera essa expansão.
E lá fora, o Spotify continua seus investimentos no mercado de audiolivros. No meio do ano, a empresa estabeleceu uma parceria com a Ingram Content Group, um dos maiores distribuidores para editoras e autores independentes em todo o mundo, para incluir mais de mil audiolivros no seu catálogo, disponível em países de fala inglesa.
No PN, o tema dos audiolivros também foi analisado sob diferentes perspectivas em artigos publicados por Nathan Hull e novamente, André Palme.
Sustentabilidade e ESG
Já no final de 2023 os temas da sustentabilidade e a agenda ESG entraram na pauta do mercado de uma maneira mais significativa, ganhando espaço, inclusive, na programação da Casa PN na Flip 2023.Publicamos também um artigo escrito por Mayara Flores e Thomas Vieira que refletiu sobre as embalagens de plástico nos livros. “O debate perpassa o fato de que o plástico que embala os livros é reciclável. Contudo, a dúvida é: ele é de fato reciclado?”, questiona o texto. Em setembro, a Câmara Brasileira do Livro (CBL) lançou o Guia ESG para o mercado editorial, material que oferece estratégias para que as empresas alcancem destaque no mercado, alinhando suas operações aos princípios de responsabilidade e inovação. Cada capítulo traz informações atualizadas e orientações claras para facilitar a implementação de ações alinhadas a esse modelo, além de incluir referências para aprofundamento nos temas.
O que vale destaque também é a fusão entre todos os temas acima abordados. “O que vi as pessoas discutindo agora é sobre a questão da sustentabilidade relacionada à inteligência artificial nas questões de usinas de energia que algumas empresas estão fazendo aquisições, e o quanto isso pode ser prejudicial pro meio-ambiente, acho que essa é a discussão do momento", comentou Karine Pansa durante sua participação na Feira do Livro de Frankfurt. A preocupação global com ESG no setor editorial e a inteligência artificial, abordada tanto sob a ótica da regulamentação quanto da sua aplicação para otimizar processos, também foram destaque para Sevani Matos, presidente da CBL.
Acessibilidade
Outra questão que tem ganhado destaque em painéis ao longo do ano é sobre a acessibilidade. "Os livros se tornaram indiscutivelmente muito mais acessíveis, permitindo que a gente se conecte e se envolva com um público mais amplo”, Chantal Restivo-Alessi, Diretora Digital e CEO de Língua Estrangeira da HarperCollins em painel na Publishers Conference de Sharjah.
Em setembro, a Bookwire e a Fundação Dorina Nowill se juntaram para facilitar a disponibilização de livros em formatos acessíveis. De acordo com as orientações do Tratado de Marrakesh e a Lei Brasileira de Inclusão, as editoras parceiras da Bookwire poderão disponibilizar com segurança e transparência seus livros digitais acessíveis para a Dorinateca, biblioteca digital da Fundação.
O PN publicou também um artigo escrito por Isadora Cal, que abordou a importância de se olhar para a questão da acessibilidade no mercado editorial. “Não existe e nunca existirá um país leitor se não trabalharmos extensivamente para tornar o livro um produto acessível. E acessibilidade não deve ser entendida apenas do ponto de vista físico, mas sim como acesso a informação. Só assim teremos cidadãos capazes de tomar decisões conscientes”.
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