Videl é britânico e também já foi diretor de novos negócios e head de áudio da distribuidora digital alemã. A filial brasileira da Bookwire é líder de mercado e trabalha com cerca de 700 editoras e 80 mil livros digitais. “Desde que cheguei ao Brasil, já tive reuniões interessantes com diversos profissionais do audiolivro, e acho que consigo avaliar em que estágio está o mercado atualmente. O mercado brasileiro está numa jornada e tem muito potencial. Não acho que há algo errado, não sei se existe um problema, mas a visão de longo prazo deve ser de continuar a investir nos audiolivros”, comentou – e um dos motivos é que eles são o principal impulsionador do crescimento do livro digital em diversos mercados do mundo.
O catálogo brasileiro atualmente é de cerca de 9 mil livros. “Claro que pode ser muito maior, mas já é alguma coisa. Eu diria que a partir de 15 mil pode chegar a ser um negócio mainstream”, avaliou.
“O negócio do áudio é um voto de confiança do mercado”, explicou Videl. “Tenho certeza que a Audible tem um plano de longo prazo para o Brasil”, comentou, respondendo a uma pergunta sobre a chegada da subsidiária da Amazon e seu impacto no mercado.
Para ele, existem diferentes aspectos no desenvolvimento do mercado de audiolivros. “Um dos primeiros é uma educação para editores, para eles entenderem qual o potencial”, comentou. “Há muita concorrência na vida do editor, ele precisa coreografar diferentes funções o tempo todo, então esse passo inicial é necessário”.
“No Brasil, entendi que não há tanta tradição de audiolivros em formatos físicos (como CDs), mas pelo que entendo o público de podcast é grande, então há um costume de ouvir. É um sinal positivo na formação do mercado. Requer muito trabalho de toda a indústria para produzir novos audiolivros, conquistar novos clientes, ajustar preços. Acredito que há um grande futuro para audiolivros no país”, ressaltou.
Marketing para áudio, tecnologia e oportunidades de formação
Uma preocupação demonstrada pelo público foi a de concorrência de leitores-ouvintes com leitores de formatos tradicionais. “Em mercados de áudio mais maduros, vemos que não há ‘canibalização’ de leitores físicos. O mercado é maior, se amplia, ou seja, há oportunidades para alcançar novos leitores e consumidores. Editores nos mercados europeus já descobriram isso, estão encontrando novas audiências. Campanhas de marketing e outras iniciativas são direcionadas neste sentido”, observou.
“É preciso atingir diferentes consumidores. Quem escuta em casa, no carro, fazendo hobbies, etc. Faz parte de um processo de dedução, como o áudio pode entrar nas vidas das pessoas. Em Londres, há 10 anos, ninguém sabia, hoje todo mundo ama. Há diferentes formas de fazer essa divulgação”, lembrou.
Videl também foi questionado sobre o uso de técnicas de inteligência artificial para audiolivros – e ele acredita que o ecossistema será misto, ou seja, tanto narradores quanto técnicas de automatização poderão dividir espaço na produção. “Os consumidores vão decidir qual o melhor modelo. Mas é uma necessidade ser transparente. Quando se tenta esconder o que se está fazendo, isso nunca vai ser uma boa experiência”, observou.
“Sobre as vozes digitais, ainda estamos entendendo como podem ser utilizadas e vendidas, há muitas discussões e experimentações… Nos dois últimos anos, houve um acréscimo de qualidade. Claro que nunca vai ser igual a uma voz humana, mas há desafios no mercado. Precisamos desenvolver mais títulos, mas o custo é alto. Usando a voz digital o custo pode ser menor, mas ela não serve para todos os livros”.
*O jornalista viajou a convite da Câmara Brasileira do Livro.