
Os livros de colorir estão no centro do debate do mercado editorial em 2025. A tendência aparece de maneira mais abrangente do que na década passada, com obras abordando diferentes temas e com públicos-alvos mais diversos. Atualmente, a onda é classificada como um fenômeno jovem pela influência direta da comunidade do BookTok, mas abrange também um público que — assim como em 2015 — busca se distanciar das telas e encontrar nas pinturas um momento de relaxamento e "aconchego". O PublishNews conversou com editores e publishers para entender quais as características editoriais desses livros.
Na primeira onda, o subgênero teve saturação no mercado no segundo semestre de 2015, ano em que teve seu pico de vendas, com mais de 3 milhões de exemplares vendidos. Agora, em novembro de 2024, a escritora Johanna Basford, que marcou época nos anos 2010 com títulos como Jardim secreto e Floresta encantada (Sextante), retornou ao segmento com Pequenas conquistas (Sextante). Desde a primeira Lista de Mais Vendidos do PublishNews de 2025, os títulos de colorir são presença constante. No início de abril, 12 dos 20 livros mais vendidos nas livrarias já eram de colorir. A febre do modelo tem impulsionado a venda de itens do mercado das papelarias, já que a nova moda está em pintar as páginas com canetinhas coloridas, vendidas em kits.
Após a Bienal do Livro Rio, a diretora executiva da HarperCollins Brasil, Leonora Monnerat, disse ao PublishNews que a marca Boobie Goods foi um grande destaque no evento, com os títulos da autora e designer norte-americana Abbie Goveia nas primeiras posições de vendas no estande.
Diferenciais técnicos dos livros de colorir
Leticia Howes, supervisora editorial da Estação Liberdade, diz que o trabalho editorial dos livros de colorir concentra-se na qualidade técnica das imagens. “Temos que verificar se os contornos estão nítidos, se os espaços são adequados para colorir e se não há falhas no traçado. Além disso, o design é pensado para garantir que as ilustrações tenham margens seguras, evitando que partes importantes sejam cortadas durante a impressão”, afirma. Ela complementa que outro detalhe fundamental é o da escolha do papel, que precisa ser de uma gramatura maior para evitar que canetas ou lápis vazem para a outra face da folha.

Nas páginas de algumas séries há, inclusive, estratégias e recomendações para evitar que as páginas se manchem. Muitos desses livros apresentam páginas isoladas, sem imagens na parte de trás. O título Capyvibes (Tatu-Bola), por exemplo, apresenta na

Felipe Brandão, diretor editorial da Planeta, diz que a editora pensa em publicar livros de colorir em outros selos, não apenas no infantojuvenil, e acredita que há espaço para livros voltados para adultos, com temas como bem-estar, autorreferências literárias e cultura pop. “É um território fértil e estamos explorando com cuidado. Nos próximos meses, podemos esperar o livro de colorir da influenciadora Nath Araújo, de Bruna Frog, Alice no país das maravilhas e também romantasia”, afirma o editor.
No mês de maio, estrearam na Lista de Mais Vendidos do PN livros de colorir temáticos da franquia Harry Potter e dos personagens de Lilo & Stitch. O filme da Disney retornou aos cinemas após mais de 20 anos de sua estreia. Em abril, Nana Vaz de Castro, diretora de aquisições da Sextante, e Daniela Kfuri, diretora comercial e de marketing do Grupo HarperCollins Brasil, discutiram o assunto no Podcast do PublishNews.
Inovação nos temas das edições
Nas conversas da reportagem com editoras e autores, ficam claros dois caminhos possíveis na construção de um novo título de colorir. A primeira é a compra de uma obra estrangeira, com a tradução das poucas frases presentes nas imagens, e em seguida a publicação, em um processo bastante ágil e que permite que o livro seja rapidamente inserido no mercado.

Maíra detalha que a parceria e comunicação com a ilustradora Aline Yurika foi fundamental para não perder o timing do lançamento dos livro de colorir de Carnaval da Edipro, que tinham como prazo o próprio feriado para a sua confecção. "Era um processo bastante intenso e dinâmico, em que eu contava pra ela [Aline] como imaginava as cenas, citava os elementos e ela me mostrava o resultado, e íamos conversando e ajustando a partir daí. Fizemos um livro de colorir original em 25 dias", diz.
Felipe Brandão diz que o personagem de Capyvibes já é conhecido do público por conta de outro título da casa, As aventuras de Mike. Para ele, quando o leitor se depara com um elemento conhecido, há uma maior identificação com a obra. “Quando o público se depara com a loira do banheiro, uma rede na varanda, um gatinho ou, claro, uma capivara deitada preguiçosa na beira do lago, há um encontro com o cotidiano que emociona. E isso é muito poderoso. Por isso, estamos apostando em temas que criem essa identificação, com algo novo além de desenhos aleatórios para colorir. É preciso contar uma história”, afirma.
No caso da Estação Liberdade, o mais recente lançamento da editora tem como mote o tempo de residência da artista Mikankey no Japão, ao longo das quatro estações do ano. Com livros de colorir com traços mais finos e mais espaços para pinturas de detalhes, editora também tem publicados livros com ilustrações sobre a Amazônia, arabescos e ilustrações de arquitetura.