Nesses dias, onde enfrentamos simultaneamente a emergência climática, a crise de biodiversidade e uma crescente desigualdade social, empresas de todos os setores são chamadas a repensar sua cadeia de valor. No segmento do livro, isso significa olhar para cada etapa — da concepção do conteúdo à entrega ao leitor — com lentes mais amplas, incorporando o uso de energia, a logística, a pegada digital, a economia circular e a inovação.
O problema é que o tema costuma ser tratado de forma fragmentada. Uma editora pode corretamente orgulhar-se de imprimir em papel certificado, mas manter práticas de distribuição ineficientes que multiplicam emissões. Ou não ter foco no impacto dos servidores e data centers que as sustentam suas operações digitais. Por isso, proponho expandir a conversa.
Nos mercados mais maduros – e, diga-se, por pressão legal e regulatória – a sustentabilidade editorial já é vista como parte da estratégia de negócio, e não como ação pontual de marketing. Há países onde vemos editoras com metas para zerar emissões de carbono ou com objetivos ambientais bastante arrojados na logística. E, claro, muita preocupação com as operações digitais e a pegada energética de servidores e dispositivos.
O livro, seja físico ou digital, é o resultado de uma cadeia complexa que envolve diferentes etapas. Na criação, há deslocamentos de autores e equipes, uso de energia, equipamentos, plataformas e concepção de projetos – que cada vez mais consideram a desplastificação. Na produção, entram em cena os insumos, o consumo de energia e água, e o uso de químicos e tintas. A logística adiciona o transporte de insumos e produtos acabados, embalagens e eventuais devoluções. Por fim, o fim de vida de um título envolve descarte, reciclagem ou reaproveitamento. A pegada de carbono dessa cadeia, portanto, vai muito além da impressão.
Em um país como o Brasil, não se pode desprezar a conta ambiental da logística. Estudos europeus indicam que o transporte pode responder por até 30% das emissões totais de um livro físico. Melhorar a eficiência logística pode ter um custo ambiental muito relevante.
Na América Latina, a sustentabilidade editorial enfrenta barreiras significativas. A logística é excessivamente dependente do transporte rodoviário. E, falta também uma base sólida de dados consolidados sobre a pegada ambiental do setor.
Avançar nessa agenda exige combinar estratégia e ação concreta. É fundamental mapear a pegada de carbono para identificar onde estão os maiores impactos, estabelecer metas claras de redução de emissões, aumentar o uso de energia renovável e diminuir desperdícios. É igualmente necessário integrar fornecedores às metas de sustentabilidade, gerar mais dados e informações que ajudem na tomada de decisões mais conscientes e responsáveis ambientalmente e cultivar uma cultura interna de sustentabilidade, envolvendo todos os níveis da organização.
Empresas que adotam a sustentabilidade de forma séria e consistente colhem benefícios em reputação, fidelidade de clientes e até acesso a novos mercados e financiamentos. Em um cenário em que leitores estão cada vez mais conscientes, comunicar ações concretas com transparência se torna um diferencial competitivo. Sustentabilidade no setor editorial não pode ser apenas um selo na contracapa: precisa estar no centro da estratégia, atravessando todas as decisões, da escolha de fornecedores ao design de produtos e à logística. É um processo contínuo, que exige mensuração, inovação e, sobretudo, coerência entre discurso e prática.
O desafio é grande, mas a oportunidade é maior. O livro, seja físico ou digital, pode e deve ser não apenas portador de conhecimento, mas também exemplo de responsabilidade com o futuro do planeta.
Luciano Monteiro é diretor corporativo global de Comunicação e Sustentabilidade do grupo educacional Santillana, vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Grupo de Editores Iberoamericano.
**Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews
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