
Mas onde entra o setor editorial nessa história? Nossas possibilidades são múltiplas. O livro tem uma função essencial nesse debate: engajar a sociedade, dar voz a diferentes perspectivas e propor compromissos que vão além das negociações entre chefes de Estado.
O setor editorial sempre cumpriu um papel de mediação entre conhecimento e sociedade. A ciência só se transforma em cultura quando circula em linguagem acessível, quando chega às salas de aula, às livrarias, às bibliotecas comunitárias. A COP-30 é uma oportunidade de renovar essa missão: o livro tem – e muito — potencial para ser o elo entre a complexidade da agenda climática e a vida cotidiana das pessoas.
Isso pode vir, por exemplo, de obras que traduzam a linguagem científica para públicos diversos, ou daquelas que sensibilizam e ajudam a formar a consciência para as pautas da sustentabilidade. Mas chega também ao dar espaço a narrativas locais. Povos indígenas, comunidades ribeirinhas e quilombolas guardam saberes fundamentais para a preservação da Amazônia. Incorporar essas vozes em catálogos editoriais, coleções e projetos de leitura é uma forma de reconhecer que a sustentabilidade também é cultural e social, não apenas ambiental.
Além disso, programas de leitura, clubes do livro, feiras literárias e até edições digitais podem ser usados como veículos para aproximar cidadãos do debate que vai ocupar o mundo em Belém.
Algumas propostas possíveis passam por ampliar o uso de papel certificado (FSC, PEFC) e redução de plásticos; minimizar o desperdício, melhorar a eficiência energética e a logística. E, ainda, publicar dados de sustentabilidade do setor, alinhados a padrões internacionais (GRI, SBTi, ISSB). Por último, a aposta em obras e projetos que ajudem a sociedade a entender e agir diante da crise climática.
Iniciativas internacionais já apontam caminhos. Na IPA, a Associação Internacional de Editores, a iniciativa Publishing 2030 Accelerator traz um grande painel de compartilhamento de práticas e busca pela neutralidade climática. No Brasil, algumas casas editoriais têm iniciativas pontuais, mas ainda falta um esforço coordenado e setorial. A COP30 pode ser o momento de dar esse passo coletivo.
Um chamado à ação
Belém 2025 será lembrada não apenas pelos acordos diplomáticos, mas também pela capacidade de setores diversos se mobilizarem em torno de uma agenda comum. O livro não é neutro nesse processo. Ele pode ser a voz que traduz ciência em cultura, que transforma dados em histórias, que inspira compromissos em ações reais.
A COP30 será um espaço de pactos. Setores inteiros da economia chegarão a Belém com metas claras. Por que o editorial deveria ficar de fora? Proponho pensar em um “manifesto editorial da sustentabilidade”, com compromissos que unam editoras, gráficas, livrarias e fundações.
Se a Amazônia é o coração do planeta, cabe ao setor editorial ser uma de suas vozes. A COP30 é a chance de provar que o livro não é apenas um produto cultural, mas uma ferramenta estratégica para o engajamento social e para a construção de compromissos duradouros.
Que o setor editorial chegue a Belém com coragem de assumir seu papel. E que, no futuro, possamos olhar para trás e dizer: o livro também ajudou a escrever o capítulo mais importante da sustentabilidade no Brasil e no mundo.
Luciano Monteiro é diretor corporativo global de Comunicação e Sustentabilidade do grupo educacional Santillana, vice-presidente de Comunicação e Sustentabilidade da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Grupo de Editores Iberoamericano.
**Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews
Mais de 13 mil pessoas recebem todos os dias a newsletter do PublishNews em suas caixas postais. Desta forma, elas estão sempre atualizadas com as últimas notícias do mercado editorial. Disparamos o informativo sempre antes do meio-dia e, graças ao nosso trabalho de edição e curadoria, você não precisa mais do que 10 minutos para ficar por dentro das novidades. E o melhor: É gratuito! Não perca tempo, clique aqui e assine agora mesmo a newsletter do PublishNews.
Precisando de um capista, de um diagramador ou de uma gráfica? Ou de um conversor de e-books? Seja o que for, você poderá encontrar no nosso Guia de Fornecedores. E para anunciar sua empresa, entre em contato.
O PublishNews nasceu como uma newsletter. E esta continua sendo nossa principal ferramenta de comunicação. Quer receber diariamente todas as notícias do mundo do livro resumidas em um parágrafo?