Brasil na Feira de Frankfurt 2024: editores falam sobre tendências, expansão e novas oportunidades no evento
PublishNews, Talita Facchini, 29/10/2024
Diversos editores estiveram presentes na 76ª Feira de Frankfurt e contam o que viram, ouviram e esperam para o mercado nos próximos meses

Em 2024, a participação brasileira na 76ª Feira do Livro de Frankfurt foi marcada por um recorde de empresas participantes e editores reportando um aquecimento do mercado e maior receptividade nas inúmeras reuniões durante a semana.

No estande do Brasil, além das 28 empresas que foram para Frankfurt em parceria com o Brazilian Publishers — parceria entre a Câmara Brasileira do Livro (CBL), a Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e o Ministério das Relações Exteriores (MRE) — e as outras 10 que foram selecionadas pelo programa CreativeSP, da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas e da InvestSP; o projeto Ruth Rocha também realizou diversas reuniões com o objetivo de expandir o já consolidado trabalho da autora com mais de 50 anos de carreira, 200 livros publicados e traduções para mais de 25 idiomas.

Outra participação que vale destaque é a de Fabricio Corsaletti, vencedor do prêmio Jabuti 2023. Foi a primeira vez que a CBL levou um vencedor para um dos maiores eventos do mercado do livro, com o objetivo de dar ainda mais visibilidade para a literatura brasileira no exterior.

“A Feira de Frankfurt deste ano foi excelente, com um fluxo maior de pessoas em comparação aos outros anos, além disso, o estande do Brasil estava mais movimentado, com um número recorde de editoras participantes”, comemora Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro. Ela também comenta que sentiu o mercado mais aquecido, com negociações acontecendo em um ritmo maior. “Isso é positivo para o Brasil, tanto em termos de visibilidade quanto de oportunidades de negócios, estamos otimistas e aguardando os resultados dos negócios gerados pelas editoras brasileiras”.

Outras grandes editoras como Sextante, Grupo GEN, Grupo Editorial Record, Grupo Companhia as Letras, Planeta e Grupo Autêntica também estiveram na feira e puderam sentir o que os leitores devem ver nas livrarias nos próximos meses.

Alguns editores, assim como Sevani, reportaram um ritmo acelerado nos negócios. “Tivemos uma presença bem forte dos brasileiros por aqui então sinto que realmente voltou como era antes da pandemia em termos de ofertas e várias perspectivas. Sinto que as coisas estão andando muito rapidamente: as avaliações têm que ser cada vez mais rápidas e os editores estão se movimentando com agilidade”, comentou Flavia Lago, editora sênior do Grupo Autêntica.

Quando o assunto é uma possível tendência, a unanimidade entre os editores é o gênero healing fiction – que já apareceu forte na Bienal Internacional do Livro de São Paulo, em setembro – e as rom-coms. “Tenho notado que o gênero de romantasy continua forte, além dos livros de negócios, e a autoajuda especializada, com a ciência como base. Não vi nada muito diferente, mas destaco a healing fiction como tendência que continua”, compartilha Felipe Brandão, diretor editorial da Editora Planeta Brasil, que também sentiu o mercado mais receptivo em termos de trocas de ideias.

“Todo mundo está de olho na healing fiction e em livros com personagens de perfis psicológicos ‘interessantes’, como psicopatas e sociopatas que vão de situação desde cômicas até serial-killers, numa onda forte de true crime, mas contada em outros gêneros e subgêneros como thriller, romance, comédia”, destaca Pedro Almeira, Publisher da brasileira Faro Editorial. O comentário é reforçado por Lago. “Algo que pode ser uma tendência para os próximos meses, além da ficção de cura, são os thrillers psicológicos e algo mais voltado para o terror. Tem uma força bastante evidente nos catálogos para esse segmento”, destaca a editora, que também citou a romantasy e rom-coms como destaques.

Os mesmos gêneros também são citados por Cassiano Elek Machado, diretor editorial do Grupo Editorial Record, frequenta a Feira de Frankfurt desde 1998 e já viu muitos altos e baixos em relação a participação brasileira. Sem sentir o aquecimento do mercado citado por outros editores, o profissional da importante editora brasileira dá seu panorama sobre o evento. “Este ano não tive a sensação que já tive de pegar um livro forte e depois ver que ele já tinha sido vendido para outras editoras, ou ver muitos livros em muitos leilões simultâneos. Mas a Record, em especial teve um ano de muita aquisição, nem era um plano, mas já fechamos desde a semana pré-feira, até agora, oito contratos, além dos que estão em leilão, então foi um ano muito forte para a Record final das contas”, disse.

Além das tendências editoriais, outros assuntos devem aparecer no mercado editorial com mais força nos próximos meses. Karine Pansa – que participa dos seus últimos eventos como presidente da International Publishers Association (IPA) – tem percebido que o furacão da IA está cada vez mais forte e presente no nosso mercado. "O que vi as pessoas discutindo agora é sobre a questão da sustentabilidade relacionada à inteligência artificial nas questões de usinas de energia que algumas empresas estão fazendo aquisições, e o quanto isso pode ser prejudicial pro meio-ambiente, acho que essa é a discussão do momento", disse.

Sevani Matos também destaca a preocupação global com ESG no setor editorial e a inteligência artificial, abordada tanto sob a ótica da regulamentação quanto da sua aplicação para otimizar processos.

*A jornalista viajou com o apoio do CreativeSP, e do Publishing Perspectives, veículo de comunicação ligado à Feira de Frankfurt. A matéria foi originalmente publicada no Publishing Perspectives.

[29/10/2024 08:00:00]