A Dosdoce.com – plataforma especializada em tendências da economia digital e que desenvolve estudos e relatórios sobre o uso de novas tecnologias em diferentes áreas do setor cultural – divulgou os números do primeiro Mapa da Indústria de Áudio em Língua Portuguesa. Realizado durante três meses (julho, agosto e setembro de 2024), analisando as diferentes atividades econômicas relacionadas com a indústria do áudio, o estudo revela um crescimento acelerado no consumo de conteúdos sonoros, como podcasts e audiolivros, nos países de língua portuguesa.
Nos últimos cinco anos, o mercado testemunhou um número crescente de organizações que apostam no formato de áudio – podcast, audiolivros, áudio-séries, audiodramas, entre outros – em português. No estudo, a Dosdoce.com identificou 365 entidades que estão apostando no desenvolvimento da nova indústria de áudio nos mercados de língua portuguesa. Uma delas é a Audible, que iniciou sua operação no Brasil há pouco mais de um ano e tem reportado resultados positivos.
As quase 400 empresas que representam esta indústria criaram, nos últimos anos, mais de 250 mil podcasts e cerca de 10 mil audiolivros em português, entre outros formatos. A previsão é que a indústria do entretenimento sonoro (podcasts, audiolivros, rádio e música em streaming) continue a crescer cerca de 10% em todo o mundo até ao final desta década, graças às receitas geradas pelas plataformas de assinatura, venda avulsa, empréstimo digital, venda em massa através de grandes empresas como operadoras telefônicas, receitas publicitárias, conteúdos de marca, entre outros, mas com contribuições de receita de formatos muito variados, segundo o relatório Audiobook Global Growth Report, recentemente publicado pela Feira do Livro de Frankfurt.
A indústria de áudio em língua portuguesa gera aproximadamente € 30 milhões por ano, enquanto nos mercados de língua espanhola a cifra ronda os € 100 milhões – número comparativamente baixo aos dos bilhões de euros que a indústria gera nos mercados de língua inglesa.
“Nos últimos cinco anos, as plataformas de streaming lideraram a indústria do áudio, investindo milhões de euros na produção de audiolivros. Quase dois terços dos audiolivros existentes em língua portuguesa pertencem a editoras, as plataformas de streaming têm sido as principais promotoras da indústria do áudio investindo na produção de mais de 90% dos audiolivros para impulsionar os mercados de língua portuguesa. As editoras devem optar pelo formato áudio investindo na produção própria de audiolivros para beneficiarem do crescimento da indústria”, afirma Javier Celaya, analista especialista na indústria de áudio e fundador da Dosdoce.com.
Ainda segundo o estudo, a indústria de áudio no Brasil não só está crescendo, como também diversificando suas fontes de receita por meio de parcerias estratégicas e novos modelos de negócios, como o B2B2C, liderado pelo Skeelo, plataforma e comunidade de leitura, que conta com o maior app e a maior rede social de livros do país, o Skoob. O aplicativo soma mais de 14,3 milhões de instalações e quase 1 milhão de acessos mensais. Só no que diz respeito à audiolivros, o formato representa 10% do consumo no app e desde o mês de janeiro, são mais de 87 milhões de minutos consumidos com e-books e audiolivros.
"Nos últimos anos, o Brasil experimentou um crescimento exponencial no consumo de áudio, especialmente com o aumento dos podcasts. A tendência é que o mercado de audiolivros acompanhe essa curva de crescimento, se tornando tão relevante para os brasileiros quanto a música e os podcasts já são hoje", analisa André Palme, diretor de marketing e conteúdo do Skeelo e colunista do PublishNews.
"Nosso modelo B2B2C tem se mostrado uma excelente estratégia para democratizar o acesso aos audiolivros, ampliando o alcance do formato e conectando grandes empresas a seus consumidores por meio de conteúdos de áudio", completa Palme, dizendo acreditar ainda que o Brasil se tornará, em breve, um dos maiores mercados de audiolivros do mundo.
O Brasil já é o segundo maior mercado de podcasts do mundo, com mais de 35 milhões de ouvintes, demonstrando enorme potencial de crescimento da indústria de audiolivros.
Produção de áudio em língua portuguesa
Ao definir a origem dos conteúdos de áudio em língua portuguesa, o Brasil lidera a indústria de áudio neste idioma. 84% das entidades identificadas no primeiro Mapa da Indústria de Áudio em Língua Portuguesa são de origem brasileira (mais de 300 entidades), enquanto Portugal representa 10% da indústria de áudio. Os 6% restantes são entidades que produzem e comercializam em português, mas vêm de outros países europeus, bem como dos Estados Unidos e Canadá.
Principais atividades das entidades de áudio no Brasil
Das mais de 300 entidades de áudio identificadas no Brasil, 59% são editoras como Companhia das Letras, Sextante, Intrínseca, Editora Gente, Buzz Editora, Grupo Editorial Record, Alta Books, Editora Globo, Grupo Ediouro ou Grupo Planeta, que apostam no audiolivro, seguidas por 26,5% de estúdios que produzem todo o tipo de conteúdos sonoros em português.
Em terceiro lugar, aparecem os meios de comunicação (7,5%) como a Globo, CNN, TV Record, Band, Folha de São Paulo, Estadão, etc., que apostam no formato podcast para ampliar o público. Em quarto lugar, cerca de 4% das entidades são empresas que oferecem serviços relacionados com o áudio, como a Bookwire.
E em quinto lugar, as plataformas que comercializam conteúdos de áudio no Brasil, como a Audible, Skeelo, Storytel ou Ubook, representando 3% do total da indústria. Vale lembrar que embora as plataformas de streaming representem apenas 3% do total da indústria de áudio, são as principais promotoras do setor, dado que investem milhões de euros na produção de audiolivros pelas editoras.
Portugal
Enquanto no Brasil existem mais de 300 entidades que apostam no áudio, apenas 40 apostam nos conteúdos sonoros em Portugal. Os meios de comunicação (56%) são o principal grupo que aposta no áudio, principalmente em podcasts, seguidos por editoras como Leya ou Porto Editora, que representam 19% das entidades analisadas.
Em terceiro lugar, estão os estúdios de produção, que representam 14% do total de entidades que apostam nos formatos sonoros. Em quarto lugar, 5,5% das entidades identificadas são plataformas de escuta de conteúdos de áudio baseados na palavra falada (podcasts, audiolivros, audioteatros, bookcasts, etc.) como a Bertrand ou Kobo-FNAC. Por fim estão entidades que promovem o uso de IA no setor de áudio, bem como entidades especializadas em organizar eventos setoriais (2,75% em cada caso).
Confluência dos formatos de áudio para dinamizar a indústria
Uma das principais conclusões do estudo é a crescente tendência internacional das diferentes entidades da indústria em investir numa ampla diversidade de formatos de áudio, sejam podcasts, audiolivros, áudio-séries, etc., em vez de apostar em apenas um. Enquanto nos EUA, um mercado de áudio muito mais maduro, 47% das entidades de áudio giram em torno dos podcasts e 40% em torno dos audiolivros, na Europa os dados indicam que ainda há um forte desequilíbrio entre os formatos sonoros.
“A indústria de áudio em língua portuguesa crescerá mais rapidamente se as entidades do setor apostarem firmemente no desenvolvimento de produtos e serviços em múltiplos formatos de áudio, a fim de criar uma categoria global denominada ‘conteúdos de áudio’”, afirma Celaya.
"O Mapa de Áudio dos Mercados de Língua Portuguesa ilustra o potencial significativo da indústria de áudio nos mercados de língua portuguesa, particularmente no Brasil, onde a infraestrutura necessária – desde estúdios a editoras e plataformas de streaming – já está estabelecida", analisa Carlo Carrenho, Fundador da Pop Stories no Brasil e Embaixador de Áudio da Feira do Livro de Frankfurt 2023/2024. "No entanto, a infraestrutura por si só é insuficiente. Desenvolver uma audiência de áudio requer investimentos substanciais em marketing, publicidade e parcerias estratégicas com indústrias que tenham um amplo alcance de consumo. Para transformar o potencial do mercado de áudio lusófono em realidade, são essenciais investimentos significativos e parcerias estratégicas”.
“O mercado de Audiolivros no Brasil, ainda embora em estágios iniciais, vem se consolidando em uma geografia relevante para o formato. A Bookwire no Brasil vem investindo não apenas na distribuição de audiolivros para suas mais de 800 editoras, mas também, de forma robusta, atua na produção de novos títulos com objetivo de crescimento de catálogo, algo essencial para o sucesso do mercado. Nosso programa de produção WAY – We Audiobook You no Brasil já gravou mais de 1,5 mil títulos que se unem ao nosso catálogo de mais de 5 mil títulos, número que nos posiciona como o principal vetor de comercialização do formato no país”, diz Marcelo Gioia, managing director da Bookwire Brasil.