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Futuros compostos | O livro: a visão de um estudioso do futuro
PublishNews, Lu Magalhães, 11/03/2025
Com a proposta de entrevistar futuristas e especialistas de diferentes áreas do conhecimento, coluna de Lu Magalhães inicia 2025 com uma conversa com Rafael Silva, da Box 1824

Analisar as obras que são lançadas em diferentes países – ou mundialmente – é uma forma de estudar futuros, uma vez que os livros são catalisadores de mudanças comportamentais. Entender como esses conteúdos mobilizam transformações em territórios específicos, como borram as fronteiras e furam bolhas me parecem formas bem legítimas de investigar as tendências.

Com essa perspectiva (e convicção), a coluna Futuros Compostos chega a 2025 com a proposta de entrevistar futuristas, estudiosos do comportamento humano e especialistas de diferentes áreas do conhecimento para vislumbrar o que pode ser o futuro dos livros e de mercados correlatos. Para o início da conversa, trago um pouco do bate-papo com Rafael Silva, diretor de Estratégia e Tendências da Futures Unit, na Box 1824.

Rafael conta que conecta marcas e cultura para gerar impacto comercial significativo. “Com um olhar para comportamentos emergentes, mudanças de consumidores e dinâmicas de mercado, transformo insights em estratégias que alimentam a inovação, o crescimento da marca e a relevância cultural. Eu navego na ambiguidade, transformando dados e sinais culturais em estratégias que ajudam as marcas a liderar em vez de seguir. Meu trabalho fica na intersecção de previsão, criatividade e estratégia de negócios, garantindo que as empresas não apenas reajam às tendências, mas moldem ativamente o futuro”, detalha.

Quais sinais a Box 1824 tem visto que podem impactar a experiência de produzir e consumir livros?

Os principais estão no impacto de tecnologias emergentes como inteligência artificial e realidade aumentada, por exemplo. Não tanto no livro como um material, mas no que é gerado a partir dele e como se dá a interação do leitor. A empresa de tecnologia Sol lançou o Sol Reader, um headset vestível - semelhante ao Vision Pro (Apple) e ao Quest Pro (Meta), projetado para imergir o usuário em um mundo de e-books livre de distração, sem nenhuma interrupção; o produto é descrito como “cancelamento de ruído para os olhos". É a leitura, então, tendo o apoio da tecnologia para resolver o problema da dispersão das múltiplas telas, criando um ambiente imersivo. Trago esse case, porque na Box 1824, olhamos para dois eixos: sempre que vemos uma tendência, investigamos tanto o aspecto tech dela quanto o comportamental.

Com o olhar da tecnologia, você acredita em um futuro sem livros físicos ou livrarias?

Não acredito que teremos um futuro sem livros ou livrarias. Em Londres, por exemplo, há livrarias que estão combinando a venda de livros com espaços para gravação de podcasts e para tomar um café, gerando um senso de comunidade nas pessoas, trazendo experiências combinadas. Ou seja, os livros estão ali como parte de uma narrativa que o espaço está criando. E isso me leva a outro ponto: no final do dia, sempre vai ser sobre histórias, pessoas e a conexão humana trazida pelos livros. Esse é o tipo de coisa muito difícil de encontrar em outro lugar; a tecnologia pode até vir, mas não vai substituir esse lastro humano que a gente tem tão grande.

Ainda pensando na tecnologia, ela não está mais relacionada ao ato de afastar/separar do que de agregar?

Podemos encarar a tecnologia como algo que afasta, sim. Mas, ela também aproxima. Os algoritmos criam um senso de comunidade ao juntar pessoas em torno de um mesmo interesse, apesar das polarizações. Quando pegamos o fenômeno do BookTok... poderíamos considerar que o TikTok iria afastar as pessoas da leitura, entretanto, impulsionou um movimento de pessoas que descobriram uma paixão por livros que nem sabiam que tinham. E isso deu a elas uma comunidade, vários clubes de leitura para trocar ideias. Se antes uma pessoa tinha que achar outras com o mesmo interesse na sua cidade para ingressar em um clube de leitura mais físico, hoje esse núcleo passou a ser ampliado. A tecnologia afasta quem tem uma visão diferente da sua, mas o aproxima de quem, no caso do livro, tem a mesma paixão. E, dentro da ultrapersonalização.

Como essa ultrapersonalização pode escrever esse futuro do livro?

Em um futuro não distante, teremos a expansão de livrarias muito mais específicas do que há hoje. Se uma pessoa ama true crime, por exemplo, ela pode ir a uma livraria com vários eventos sobre o tema. Não apenas terá acesso a vários títulos, mas a pessoas com esse interesse. Ou seja, vai ter motivação para se deslocar até esse ambiente; algo que surgiu por conta dessa possibilidade trazida pela tecnologia de ultrapersonalização. Se eu tenho isso no ambiente virtual, vou querer, também, no físico.

De alguma forma, esse futuro não está amparado no passado? Na relação que tínhamos com livrarias de bairro com um grande senso comunitário?

Sempre que vemos uma tendência emergindo, há um movimento de contracultura. Tivemos uma realidade de muitas telas – o que nos trouxe uma fadiga, que me faz querer voltar para coisas quase analógicas. Em 2025, a tendência de log off e analog on deve se tornar uma prática de bem estar, promovendo um estilo de vida mais lento e menos tecnológico. Na prática, quero descansar e o livro me dá exatamente esse distanciamento das telas. Mas, não quero um livro qualquer; quero o que atenda aos meus gostos, porque aprendi, no TikTok, que isso é possível: tudo que chega até mim é personalizado lá na rede. Então, busco espaços que entendam quem eu sou; que há pessoas como eu; e nos quais eu possa trocar experiências. A Amazon criou um modelo de livraria on-line que fechou, justamente, porque as pessoas estão buscando experiências físicas. Em resumo: há uma busca por conexões e experiências mais autênticas!

Falando em tempo para ler, a tecnologia dará mais tempo para a leitura?

O que eu tenho visto é a tecnologia facilitando, porque o tempo é algo muito difícil, né? Tem surgido inteligências artificiais que endereçam essa demanda. Há as que ajudam o leitor a diminuir o tempo para acessar o conteúdo; você coloca o PDF e conversa com ela sobre os temas. Há uma curadoria que seleciona fontes adequadas ao que você quer assimilar em termos de conhecimento. Existem plataformas que oferecem aos leitores experiências interativas. Uma delas é a Rebind – uma plataforma de publicação inovadora que dá um toque de modernidade à literatura clássica ao integrar contexto e conversas com tecnologia de IA. Na prática, o serviço permite que os leitores se envolvam com os clássicos por meio de insights de autores e pensadores renomados. Com base em entrevistas, as interações são estabelecidas com apoio da inteligência artificial. Você pode pegar um livro de Machado de Assis e fazer perguntas a ele sobre a obra. Então, é um encurtamento do processo de leitura. No contexto brasileiro, não temos muito tempo para o lazer; a tecnologia não está vindo para substituir tarefas operacionais e nos oferecer mais tempo – ela é mais usada em um panorama estratégico. Com isso, a tecnologia não está vindo para me dar mais tempo de leitura, mas para encurtar o meu acesso ao ler e interagir com outras pessoas.

Na Box, como a equipe tem consumido livros?

Ganhamos o Kindle da Box 1824, mas sempre voltamos ao livro físico! E vemos esse movimento acontecendo cada vez mais: consumimos novas tecnologias, mas voltamos sempre ao livro. E a leitura sempre vai ter lugar. Outro dia, estávamos conversando sobre o porquê de o livro me emocionar mais do que filmes. Acredito que seja porque ele vai preenchendo as lacunas com experiências; vamos pensando nas personagens a partir dos nossos pontos de vista. O livro, então, alimenta um lugar muito único. Em um momento em que estamos imersos em tecnologias e em um mundo incerto, vamos querer sempre voltar para o que a gente conhece. E o livro, pelo menos para mim, leva a esse lugar.

*Lu Magalhães é fundadora do Grupo Primavera (Pri, de primavera & Great People Books), sócia do PublishNews e do #coisadelivreiro. Graduada em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), possui mestrado em Administração (MBA) pela Universidade de São Paulo (USP) e especialização em Desenvolvimento Organizacional pela Wharton School (Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos). A executiva atua no mercado editorial nacional e internacional há mais de 20 anos.

**Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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