Influenciadores literários ganham espaço no tradicional mercado do livro
PublishNews, Beatriz Sardinha, 12/12/2024
Pesquisa Retratos da Leitura 2024​ deu ainda mais destaque à participação dos profissionais entre suas categorias

Influenciadores e produtores de conteúdo correspondem a 22% dos responsáveis pela origem do interesse por literatura | © Reprodução TikTok
Influenciadores e produtores de conteúdo correspondem a 22% dos responsáveis pela origem do interesse por literatura | © Reprodução TikTok

A cada ano, os influenciadores e produtores de conteúdo digital têm sido integrados ao calendário oficial do mercado editorial brasileiro. A pesquisa Retratos da Leitura 2024 deu ainda mais destaque à participação dos profissionais entre suas categorias. Eles estão presentes como mediadores e atrações em grandes festivais literários, protagonizam ações em grupos de leitura, escrevem livros e, como o próprio nome diz, exercem influência nas escolhas e no interesse pela leitura. Entre os leitores de literatura, os influenciadores e produtores de conteúdo aparecem como 22% dos responsáveis pela origem do interesse por literatura – número importante, mas ainda atrás de indicações de professores, familiares e amigos, bem como filmes e músicas inspirados em livros.

Taty Leite é jornalista, produtora de conteúdo e colunista do PN | © Divulgação
Taty Leite é jornalista, produtora de conteúdo e colunista do PN | © Divulgação
A categoria também apareceu no setor da pesquisa entre Fatores que influenciam na escolha de um livro, com 2% de participação. A jornalista, criadora do perfil Vá ler um livro e colunista do PublishNews Taty Leite comenta que é complexo analisar esse número: "Influenciadores não são vendedores, mas trabalham - como o nome diz – com influência. Da mesma maneira como antes não era possível mensurar quantas compras tinham sido impactadas diretamente no ponto de venda ou com o banner do livro no metrô. O potencial leitor poderia estar no caminho de casa, ser impactado por uma propaganda do livro e só efetivamente comprá-lo dias ou meses depois quando tivesse a oportunidade. O mesmo se aplica ao criador de conteúdo, já que nosso papel é incentivar e propagar a leitura a longo prazo. A prova é que o percentual aumenta quando perguntados sobre a indicação da compra em si", afirma.



Influenciadores dentro do mercado editorial brasileiro

Felipe Neto durante sua mesa na Flip | © Divulgação
Felipe Neto durante sua mesa na Flip | © Divulgação
O influenciar carioca Felipe Neto conta com mais de 45 milhões de seguidores no Youtube e está na internet desde o começo da popularização do Youtube, nos anos 2000. Em 2024, ele lançou pela Companhia das Letras o livro Como enfrentar o ódio e, quase conjuntamente, deu início ao seu próprio clube de leitura. Neto foi uma das principais atrações da programação oficial da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), atraindo um público jovem — e curioso, para saber o posicionamento do empresário sobre diversos temas, como a leitura de clássicos nas escolas e a aplicação da Lei Cortez. Sua jornada literária também foi tema do Podcast PublishNews.

Outro caso de participação solidificada dentro do calendário do mercado brasileiro é o do bookster Pedro Pacífico. O advogado integrou painéis na Flip 2024 e na Bienal do Livro, e participou da bancada do Roda Viva que entrevistou Édouard Louis, em outubro deste ano. Em 2024 a TAG Experiências Literárias lançou um projeto com ele, o clube Bookster pelo mundo. No próximo ano, ele também será um dos curadores da Bienal do Livro Rio 2025.

Pedro Pacífico é parceiro de nova iniciativa da TAG | © Renato Parada
Pedro Pacífico é parceiro de nova iniciativa da TAG | © Renato Parada
A proposta do novo clube da TAG consiste em fazer com o que o leitor dê uma "volta ao mundo" por meio da leitura de títulos clássicos e contemporâneos de 12 países durante o ano de 2025, teve a meta de vendas alcançada em apenas duas semanas do lançamento, obrigando o projeto a duplicar os pedidos de box, que foram esgotados na última semana de novembro. Em entrevista ao PublishNews, Laura Zuanazzi, diretora de Marketing e Produto da TAG, reforça que Pedro Pacífico se colocou como uma voz ativa na concepção do projeto: "Muitos autores não têm disponibilidade ou mesmo interesse para fazer esse papel ativo de divulgação da literatura. A ideia do Projeto com o Pedro surgiu a partir de uma conversa informal e da paixão em comum de reunir leitores".

"Se queremos que o país leia mais, é preciso equalizar o tom de voz ao falar sobre literatura com todos e não apenas com alguns. Claro que, como em qualquer área, é necessário filtrar quem realmente faz um bom trabalho, mas temos muitos produtores de conteúdo comprometidos em falar sobre livros de uma maneira mais horizontal, em que o foco é sempre o livro e não a pessoa", diz o influenciador Rodrigo de Lorenzi. Ele está no Youtube, Instagram e TikTok como o moço do vinho. Um de seus vídeos recentes de maior sucesso corresponde a um comentário sobre o principal resultado da pesquisa, de que 53% da população brasileira não lê.


O alcance dos influenciadores

Com mais de 2,5 milhões de publicações, a comunidade do #BookTokBrasil é uma das maiores do TikTok, e se coloca como possível espaço de encontro entre leitores, autores e fãs de livros, ao mesmo tempo em que estimula a venda de obras que se tornam tendência entre o público. Taty Leite lembra uma pesquisa realizada pelo INEP em 2023, que dizia que no Brasil, 88% das pessoas com 10 anos ou mais de idade utilizavam a internet. Nesse sentido, torna-se impossível desconsiderar o movimento de criadores de conteúdo: "Influenciadores falam com uma comunidade engajada e se transformaram em fontes confiáveis de indicações", comenta.

Clara Alves | © Divulgação Seguinte
Clara Alves | © Divulgação Seguinte
A escritora Clara Alves também foi uma das curadoras da Bienal do Livro Rio 2023. Para ela, a principal força dos influenciadores está em sua capacidade "surreal" de alcançar leitores. "Influenciadores literários não apenas ajudam a promover obras e autores, mas também humanizam o mercado editorial. É como se a gente tivesse transformado o 'ser leitor' numa profissão, e a partir daí esses leitores não só indicam as obras e livros que gostam para um grupo seleto de amigos, mas para toda uma comunidade on-line (e, muitas vezes, através dos eventos presenciais, off-line também)", afirma.

A linguagem empregada por eles é essencial para compreender o alcance de seus conteúdos. "Falar sobre literatura de maneira mais leve, divertida, olho no olho, é uma ferramenta de comunicação poderosa", afirma Rodrigo. "No meu trabalho como influenciador, tento ter muito cuidado para que minha linguagem seja entendida tanto pelo público que vai à Flip quanto pelo público que nunca abriu um livro, mas que talvez se sinta incentivado a abrir. Acho que nós, influenciadores, tiramos a literatura desse pedestal e a colocamos no mesmo nível de todos, porque, afinal, todo mundo pode falar sobre livros".

Números da Pesquisa Retratos da Leitura 2024 sobre influenciadores

  • Influenciadores aparecem com 22% na origem do interesse por leitura (entre respostas múltiplas)
  • Influenciadores aparecem com 24% na origem do interesse por leitura entre leitores de livros de literatura
  • Influenciadores aparecem com 19% na origem do interesse por leitura entre leitores de livros por outros meios
  • Influenciadores aparecem com 2% em fatores que influenciam na escolha de um livro (resposta única)

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[12/12/2024 10:00:00]