A edição 2024 da Pesquisa Retratos da Leitura – a mais completa e aprofundada pesquisa sobre os hábitos de leitura do brasileiro – foi lançada nesta terça (19) com a informação de que, nos últimos quatro anos, houve uma redução de 6,7 milhões de leitores no país. Pela primeira vez na série histórica da pesquisa, a proporção de não-leitores é maior do que a de leitores na população brasileira: 53% das pessoas não leram nem parte de um livro – impresso ou digital – de qualquer gênero, incluindo didáticos, bíblia e religiosos, nos três meses anteriores à pesquisa.
Ao se considerar somente livros inteiros lidos, no período de três meses anteriores à pesquisa, o percentual de leitores é ainda menor: 27%. Livros lidos por vontade própria, inteiros ou em partes e de qualquer gênero, foram lidos por 43% da população brasileira com 5 anos ou mais.
A média de livros lidos no período de três meses também diminuiu, de 2,6 para 2,4. Considerando apenas livros lidos inteiros no mesmo período, é de apenas 0,82 por entrevistado.
Os números foram apresentados em uma cerimônia em São Paulo nesta terça-feira (19). Clique aqui para ter acesso à Pesquisa Retratos da Leitura 2024.
Realizada pelo Instituto Pró-Livro (IPL), com incentivo fiscal pela Lei Rouanet, e patrocinada pelo Itaú Unibanco, esta edição contou com parceria da Fundação Itaú e com apoio da Associação Brasileira de Livros e Conteúdos Educacionais (Abrelivros), da Câmara Brasileira do Livro (CBL) e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL). O levantamento foi feito pelo Instituto Ipec – Inteligência em Pesquisa e Consultoria.
A amostra foi de 5.504 entrevistados em 208 municípios. Realizado desde 2007, o levantamento deste ano trouxe novos indicadores. Pela primeira vez foi mensurado o número de livros infantis nas residências e os hábitos de leitura dos pais sob a ótica das crianças entre 5 e 13 anos. Outra investigação importante, e que tem sido objeto de estudo de especialistas, é como os leitores avaliam a leitura no suporte papel e no digital: qual é mais efetiva para a atenção e a compreensão?
Para possibilitar a construção e manutenção da série histórica do estudo – crucial para avaliação, monitoramento e orientação de políticas públicas – a metodologia da pesquisa segue orientação do CERLALC (Centro Regional para o Fomento do Livro na América Latina e o Caribe) e se mantém desde 2007. Para identificar as mudanças que acontecem no cenário da leitura, em especial, impactado pelos novos suportes e meios digitais de acesso e produção de conteúdo, o Instituto Pró-Livro busca a cada edição a consultoria de especialistas para a formulação de questões voltadas a um diagnóstico mais preciso das mudanças que impactam o comportamento leitor.
“A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, desenvolvida ao longo desses 18 anos pelo IPL, tornou-se muito mais do que um levantamento de dados; ela é um verdadeiro farol para compreendermos os desafios que enfrentamos na promoção da leitura”, comenta Sevani Matos, presidente do IPL. "É um trabalho que reflete o compromisso com a transformação cultural do Brasil”, completa Sevani.
Como parte deste diagnóstico, a edição atual da pesquisa também contou com a reformulação de perguntas e de itens de respostas, para captar as mudanças e facilitar a compreensão do entrevistado. A coleta de dados foi realizada pelo Ipec, por meio de entrevistas domiciliares face a face, com registro das respostas em tablets, e ocorreu entre 30 de abril de 2024 e 31 de julho de 2024.
Segundo o IPL, a Retratos da Leitura no Brasil apresenta um raio-X da relação do brasileiro com o livro, aferindo informações sobre hábitos e motivações para a leitura; representações e valorização da leitura; leitura de literatura; preferências sobre livros, gêneros e autores; a leitura em diferentes suportes; o acesso a livros, em papel e digital, envolvendo bibliotecas e os diferentes canais de distribuição e venda; o papel das escolas, das famílias e das bibliotecas na formação de leitores e no desenvolvimento da leitura no Brasil; práticas leitoras e acesso em meio digital e fragmentado, em diferentes materiais e ambientes; a formação de leitores e a influência para o consumo ou acesso aos livros.
O objetivo da pesquisa é conhecer o comportamento leitor do brasileiro, a partir dos cinco anos de idade, medindo a intensidade, forma, limitações, motivação, condições de acesso ao livro – impresso e digital – pela população, orientado para contribuir com as políticas públicas e expandir o público leitor. “Este retrato detalhado tem sido essencial para orientar políticas públicas e inspirar ações concretas de incentivo à leitura e ao acesso ao livro, envolvendo tanto a sociedade civil quanto os governos”, afirma a presidente do Instituto Pró-Livro.
Redução de leitores em todos os perfis
A redução no percentual de leitores identificada na série histórica da pesquisa se deu em todos os perfis e segmentos pesquisados: por faixa etária, gênero, escolaridade, classe, renda e entre estudantes e não estudantes.
Considerando a faixa etária, apenas entre a população com 11 e 13 anos e com 70 anos ou mais não foi registrada redução no percentual de leitores. A faixa etária de 11 a 13 anos é a que apresenta o maior percentual de leitores – no entanto, vale ressaltar que a pesquisa também considera a leitura de livros didáticos como parte da investigação.
Influenciadores e motivações de compra
A pesquisa buscou compreender também o papel da internet, das redes sociais e dos influenciadores digitais no hábito da leitura. No geral, apenas 2% dos leitores mencionaram que a indicação de um influenciador digital, de um blog, das redes sociais ou do YouTube motivou a escolha de um livro para ler. Já quando perguntado àqueles que compraram algum livro qual o fator de influência nessa compra, 3% mencionaram os influenciadores digitais, em 2024. Tema se mantém em primeiro lugar com 52%. As menções ao preço (15%) e a autor (20%) tiveram redução de sete pontos percentuais em comparação com 2019.
Dentre os fatores que influenciam a seleção do livro para a compra, a indicação de um influenciador digital, em blogs, redes sociais ou pelo YouTube aparece apenas na nona colocação.
Quando os leitores foram perguntados sobre quem indicou o último livro lido, o peso dos influenciadores digitais foi um pouco maior. Dentre os leitores, 8% disseram que escolheram a obra porque viram no YouTube, no Instagram, no Facebook ou em outras redes sociais. Esse percentual cresce na faixa de 18 a 39 anos, chegando a 16%. Também nessa faixa etária, os amigos ganham importância no compartilhamento das experiências de leitura. A partir dos 18 anos, são mais citados do que os professores, atingindo 26% entre 18 e 24 anos, e mantendo cerca de 20% até os 49 anos.
Número de livros lidos também diminuiu
A média de livros lidos, que tinha se mantido entre as edições de 2015 e 2019, também diminuiu tanto no total da população com 5 anos ou mais como também entre os leitores. Essas reduções estão em sintonia com a piora nos índices de leitura.
Entre todos os entrevistados, foram lidos total ou parcialmente, em média 2,04 livros nos três meses anteriores à pesquisa, enquanto a média na última edição era de 2,6 títulos.
Considerando apenas aqueles que são classificados como leitores, ou seja, que leram algum livro inteiro ou em partes nos três meses anteriores à pesquisa, a quantidade média de obras lidas também diminuiu – de 5,04 livros para 4,36.
A média de livros lidos por ano passou de 4,95 títulos para 3,96, a mais baixa da série histórica.
Quem lê tem uma vida mais interessante
A pesquisa também mostra que as pessoas que têm o hábito da leitura fazem mais atividades diferentes no seu tempo livre – não necessariamente relacionadas ao livro. Na média, os leitores mencionaram 7,6 entretenimentos no tempo livre, desde uso da internet até frequência a bares e restaurantes ou mesmo ida a eventos culturais. Já os não-leitores apontaram uma média de 5,3 atividades, tendo maior percentual em relação aos leitores somente em ver TV. “O repertório de atividades culturais, sociais, na internet e até a prática de esportes, é mais diversificado e frequente entre leitores, o que pode contribuir para ampliar a visão de mundo e oportunidades sociais e profissionais”, reflete Zoara Failla.
*Nas próximas semanas, o PublishNews vai se dedicar a destrinchar estes e outros números da Pesquisa Retratos da Leitura 2024.
A cerimônia de apresentação da Retratos da Leitura foi transmitida ao vivo e segue disponível no canal do Youtube do IPL:
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