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O Carnaval do livro e da moderna literatura brasileira
PublishNews, Paulo Tedesco, 22/02/2024
Tivemos o prazer de ler um livro carnavalizado e carnavalizando! E há quem diga que a literatura nacional naufragou...

Grande Rio desfilou com enredo baseado no livro 'Meu destino é ser onça', de Alberto Mussa | © Marco Terranova / Riotur
Grande Rio desfilou com enredo baseado no livro 'Meu destino é ser onça', de Alberto Mussa | © Marco Terranova / Riotur
E não é que, para desespero de muita gente metida a intelectual, o grande promotor do livro na entrada de 2024 foi o Carnaval? Em especial os carnavais com mais destaque na TVs abertas, obviamente, nas duas maiores e mais ricas cidades brasileiras: Rio de Janeiro e São Paulo.

Ora, o sentimento anticarnaval, muitas vezes travestido de racismo e preconceito de toda ordem, além de algum problema emocional mais grave, é daquelas coisas que se somam às manifestações esdrúxulas contra a Copa do Mundo de Futebol e as Olimpíadas realizadas no Brasil. Nada mais do que um sentimento vira-lata que acha que ter pedigree é ser antipovo, e que, em coisas como futebol e os esportes, somos incapazes de proporcionar algo organizado e sério, sem perder a integridade nem a disciplina (carnaval exige disciplina também, e muita).

Mas é preciso falar da emoção em ter autores vivos e não em gesso ou isopor colorido, desfilando nas avenidas. De também ter nos desfiles, ala por ala, carro alegórico a carro alegórico a representar personagens e capítulos de romances atuais, ainda em vendagem e com direitos autorais em contrato. Tudo narrado e comentado em alta voz pelos comentaristas da televisão de alcance nacional e repercussão mundial.

Cada página dos livros do enredo das escolas de samba no desfile foi virada, uma a uma ao longo das avenidas. Tivemos o prazer de ler um livro carnavalizado e carnavalizando! E há quem diga que a literatura nacional naufragou...

Postei nas redes por esses dias uma frase que dizia que a felicidade é a maior inspiradora, espécie de musa da poesia. E não sem surpresa, recebi, quase de imediato, a resposta ou crítica de um amigo escritor discordando frontalmente. Eu ri, porque não haveria algo diferente a fazer.

Transformar sua infelicidade classe-média não-medicada em ponto de partida de uma visão de cultura e literatura é, no mínimo, ultrapassado, e com flerte negativo às manifestações populares. Essas sempre felizes e brincalhonas. O mesmo serve para muito intelectual que reclama não encontrar eco em seus romances e contos, não encontrar leitores. E, claro, para certas seitas religiosas preconceituosas e discriminadoras, que preferem dar às costas ao legítimo e sagrado direito de rirmos de nós mesmos, de dançarmos e brincarmos, fantasiados ou não, durante alguns poucos dias todos os anos.

Se a cultura nacional brasileira, de norte a sul, leste a oeste, é de dança, música e brincadeira, quem somos nós para erguer um dedo em discordância? O ridículo do carnaval é quem se diz anticarnaval e anti-alegria (isso existe?). Mas essa certeza que já havia, de que a felicidade e a irreverência é a cara do Brasil, agora somou-se ao que faltava: a presença do livro, a presença da literatura brasileira contemporânea na manifestação cultural mais conhecida do Brasil.

Paulo Tedesco é escritor, editor e consultor em projetos editoriais. Desenvolveu o primeiro curso em EAD de Processos Editorais na PUCRS. Coordena o www.editoraconsultoreditorial.com (livraria, editora e cursos). É autor, entre outros, do Livros Um Guia para Autores pelo Consultor Editorial, prêmio AGES2015, categoria especial. Pode ser acompanhado pelo Facebook, BlueSky, Instagram e LinkedIn.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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