Veja, por exemplo, as práticas predatórias da Amazon, que domina o mercado editorial vendendo livros em papel e digital. A gigante do Jeff Bezos, seu fundador, obriga qualquer vendedor direto pelo marketplace a prazos e percentuais difíceis de serem seguidos. E digo com propriedade, por alguns anos trabalhei com um acervo numeroso, com vendas quase que exclusivamente pela tal Amazon.
E a tal gigante não queria saber se os Correios brasileiros tinham problemas em plena incompetência privatista do Bolsonaro. Tampouco se em determinada região empobrecida do país as entregas estivessem bloqueadas por alguma enchente, ou se havia intervenção da polícia numa guerra com bandidos, e nem se a milícia de uma região impedisse as entregas em alguns CEPs. A Amazon simplesmente punia severamente o vendedor pelos atrasos dos quais não era o culpado, bloqueava seus recebimentos e derrubava suas vendas. Em resumo, em 24 horas os índices e pagamentos do vendedor viravam farelo.
Pois é, vivi nessa loucura antes e depois da pandemia, e, ao fim, cedi, voltando ao que me trouxe até aqui. Mas serviu de lição, tanta que descobri, em seguida, que havia outros monopólios nada amigos dos pequenos negócios.
Sim, havia os bancos, inclusive os estatais, que posam de aliados mas são os maiores algozes ao praticarem crimes com juros e taxas mais do que abusivas, e, com frequência, transformam a vida de alguém em um inferno num piscar de olhos. Se o governo ajudou? Não, não ajudou, porque o banco disse "só te ajudo se pagar o que deve..." Mas como? Se tem verba para justamente renegociar dívidas? Vai entender... Isso quando não retêm dinheiro na conta, porque querem que compremos algo deles, ou paguemos algo que acham que o cliente deve pagar.
Não recomendo a desistência, e sim a resistência, que é o pouco que aqui faço. Evitemos deixar as vendas nas mãos de uma única empresa, e isto vale para o setor digital e seus distribuidores e vendedores, como para outros setores. Muita empresa estrangeira, em particular, pensa exatamente como estrangeiro: não dá a mínima para nossa realidade abissal.
Que superemos esse caos e possamos reativar as livrarias como vendedoras de livros em quantidades maiores do que a Amazon. Que as distribuidoras de livro possam voltar a ocupar o cenário que lhes é cabido, fazendo da capilaridade de vendas o que move, de fato, o mercado editorial. E que, de uma vez por todas, o poder público (falo também do Congresso e toda a esfera nacional) incentive as pequenas e médias editoras, e que nos ajude enfrentando os monopólios e oligopólios do mercado.
Paulo Tedesco é escritor, editor e consultor em projetos editoriais. Desenvolveu o primeiro curso em EAD de Processos Editorais na PUCRS. Coordena o www.editoraconsultoreditorial.com (livraria, editora e cursos). É autor, entre outros, do Livros Um Guia para Autores pelo Consultor Editorial, prêmio AGES2015, categoria especial. Pode ser acompanhado pelo Facebook, BlueSky, Instagram e LinkedIn.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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