Aqui no Sul, como no resto do país, é digna e respeitável a iniciativa de se incentivar a compra e o prestígio de editoras gaúchas, para a recuperação financeira diante das enchentes. E talvez seja o melhor caminho, discreto e brasileiro (indireto e sedutor), de se dizer, olha, precisamos ajuda também, assim como todos que dependem do mundo físico para sobreviver.
Mas vem outra pergunta: peraí, como assim? Uma editora, como um autor, não publica para seu pequeno círculo de amizades, tampouco para uma cidade. Vendemos e publicamos para o Brasil. Estamos ou não num mundo globalizado e sem fronteiras? Este mundo livre para a circulação de capitais, para notícias e ideias? Então precisamos de apelo de capital para todos, mais do que vendas, mais do que leitores, precisamos atenção especial de quem pode de fato alavancar, com qualidade, essa indústria que está na lama marrom.
O Sistema S, SESC, SENAI, SESI, SENAT, SEST, por exemplo, tem bibliotecas espalhadas pelo Brasil inteiro e pode e deve buscar as editoras e câmaras para atualizarem suas estantes. Escolas particulares em rede não são poucas nos diferentes níveis, e podem sim fazer parte desse esforço. O óbvio, governos estaduais e municipais devem fazer o mesmo. Isso e muito mais.
Tudo bem, o governo do Rio Grande do Sul preferiu gastar com juros de dívida e sabe-se o que lá a mais, e deixou qualquer medida de proteção para as cheias a Deus dará. E vimos escandalizados o ocorrido. Se tivesse pelo menos comprado livros, teríamos uma constrangida culpa e a discussão seria outra.
Mas o que interessa é que esse papo de estado mínimo do neoliberalismo só existe na hora de desidratar empresas públicas importantes, e de se eximir de responsabilidades para quando dos desastres o governante aparecer como salvador e herói da pátria.
Os editores, livreiros, distribuidores, gráficos, entregadores e trabalhadores do livro precisam voltar a trabalhar. Na capital Porto Alegre já se sabem os culpados, e não foi só o Guaíba, e o MP está investigando. No interior e arredores da capital, as prefeituras também deixaram a desejar, muito, mas o governo estadual, que detinha dados e experiências reais, e recentes, para mitigar o ocorrido nada fez porque foi neoliberal: ou seja, irresponsável com o povo.
Quero dar suporte ao esforço do Clube do Editor do RS, da Câmara Riograndense do Livro (CRL), e mais entidades que apoiam e promovem o mercado editorial. Aliás, o Sindigraf (das empresas gráficas) pode também entrar nessa. Meu apoio, portanto, a todos que tentam, com suas limitadas estruturas atenção especial ao mundo do livro no Rio Grande do Sul. Não é nada bonito ver um depósito com milhares de livros totalmente tomado pelas águas, tampouco uma linda livraria, e não ter ombro onde chorar.
Paulo Tedesco é escritor, editor e consultor em projetos editoriais. Desenvolveu o primeiro curso em EAD de Processos Editorais na PUCRS. Coordena o www.editoraconsultoreditorial.com (livraria, editora e cursos). É autor, entre outros, do Livros Um Guia para Autores pelo Consultor Editorial, prêmio AGES2015, categoria especial. Pode ser acompanhado pelo Facebook, BlueSky, Instagram e LinkedIn.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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