O Brasil era basicamente rural e o agronegócio da época escolhia até o síndico de prédio pequeno. Para as cidades, sobravam as indústrias nascentes, serviços públicos precários e o pessoal das administrações. O comércio era um tanto incipiente e andava quase na idade média, ao redor de castelos e formando burgos...
O Filinto, que até ministro virou, e depois foi corrido pelo próprio presidente, desapareceu. E não fosse a jogada de Getúlio Vargas na direção dos Aliados, hoje seríamos talvez piores do que a Argentina. Se é possível...
Foi uma virada e tanto, numa época que não muito se esperava, de quando a tortura corria solta, a deportação para os nazistas e a perseguição idem, além da censura e tudo o mais. E o Brasil tinha nas lideranças políticas um nada de democracia e um muito menos de compromisso com o povo. Praticamente uma ditadura de bananas.
Mas o que veio a seguir, o antifascismo de guerra, foi uma benção. O país foi o único a se industrializar por acordos do próprio Getúlio, que mandou a FEB para a Itália em troca da CSN, e parte da estrutura montada pelo fascismo de estado, com a criação de sindicatos e controles trabalhistas, transformou-se como bastião na defesa do trabalhador brasileiro. Algo hoje odiado pelos neoliberais.
Passaram-se 77 anos daquele primeiro período de Getúlio. Hoje, temos um ex-presidente inelegível a fazer comícios de boteco, com sua meia-dúzia de sempre. Também temos uma turba midiática gritando na defesa do mercado financeiro, como se precisasse qualquer defesa. Na ponta final, a vidraça, o governo de centro-esquerda brasileiro, liberal em essência, porém preso às ataduras neoliberais e ao constante achaque golpista de extremos direitistas.
No meio deste turbilhão, e tal como no getulismo, temos a “palavra”. A palavra do jornalista, do escritor, da editora e dos raros críticos literários. Pressionados pela uberização do trabalho, dependendo de salários acadêmicos, de bolsas de pesquisa e titulações com seus percebimentos defasados. Ao que se somam escritores e livre-pensadores, presos ao mundinho de redes sociais, e a viver de esmolas e alguns pilas dos projetos culturais que só agora voltaram a aparecer.
E talvez seja esse o temor, para além da televisão e jornais, que a todo momento tentam escorraçar o atual governo federal e aliados. Sem intelectuais e seus espaços não há debate, não há democracia nem liberdade. Sufocar o pensamento é expurgar os artistas e esmagar a intelectualidade livre. Não podemos deixar o fascismo novamente nos asfixiar, digamos não à censura e um grande não ao ódio.
Paulo Tedesco é escritor, editor e consultor em projetos editoriais. Desenvolveu o primeiro curso em EAD de Processos Editorais na PUCRS. Coordena o www.editoraconsultoreditorial.com (livraria, editora e cursos). É autor, entre outros, do Livros Um Guia para Autores pelo Consultor Editorial, prêmio AGES2015, categoria especial. Pode ser acompanhado pelo Facebook, BlueSky, Instagram e LinkedIn.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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