Nos anos 1990 trabalhei com uma editora que trazia para o digital a jurisprudência brasileira, junto vinham os códigos legais. Lembro, com clareza, das duplas de estagiários a ler em voz alta e corrigindo, palavra por palavra, o resultado do escaneamento dos impressos. Sim, os softwares de escanear textos deixavam muito a desejar, e um estagiário das faculdades de letras lia em voz alta o original em papel, enquanto outro corrigia, na tela, o resultado do escaneamento.
Essa editora, à época, vendia o conteúdo digitalizado na forma de disquetes, a serem instalados no computador do cliente, que adquiriria o conteúdo numa espécie de assinatura anual, atualizada trimestralmente. De início eram alguns disquetes, e logo eram tantos, e em tal e indispensável ordem de instalação, que terminávamos implorando por nova tecnologia, porque o caos surgia à cada atualização. A nova tecnologia felizmente não se demorou, e passamos a colocar o conteúdo em Compact Discs, os tais CDs, o que aliviou, perdurando no modelo até bem avançados anos 2010, mas nessa época estava fora da empresa.
Nos anos 2000, ou na virada dos 1990 para os 2000, agora em jornais e revistas, acompanhei a migração veloz do fotolito para as máquinas de impressão. Em seguida, para os CDs e, em pouco mais de um ano, do computador via internet diretamente para a gráfica. Em resumo, a redação do jornal e revista mudava radicalmente em curtíssimo espaço de tempo, saindo do analógico fotolito para o envio instantâneo dos originais, a serem rodados na madrugada ou quando aprovada a arte final na tela do computador.
E o que poderia mudar mais?
Pois, não somente os aparelhos de leitura digital se multiplicaram e se tornaram mais acessíveis, o que propiciou maior leitura sem o papel como interface, como novos softwares foram reconfigurando o que estivesse pelo caminho.
O que significava que a gestão financeira de um projeto editorial, fosse qual fosse, também passava por mudanças. E as coisas seguiam pelo surgimento do e-book como produto digital, e junto o aparecimento a assinatura digital de contratos de direitos autorais. Na gestão dos conteúdos aparecia o arquivamento de terabytes das editoras e empresas de comunicação em nuvem, a impressão digital e unitária de livros e, o mais recente, o aperfeiçoamento da inteligência digital, a ponto de não mais somente corrigir textos automaticamente, como criar novos textos com razoável coerência em qualquer língua.
Uma nova cultura editorial e empresarial se impunha. E talvez esteja longe de ser definida, para desespero de quem acredita na lentidão como parte da produção editorial. Não dá para ficar esperando o próximo cenário, a nova estratégia pede administração de múltiplas possibilidades em múltiplos cenários de forma coordenada, com a gestão financeira afiada e sem nenhum desperdício, e o mais complicado: visão de obsolescência, o que significa que tudo pode ser reconfigurado e em pouco tempo, e muito poderá perder o sentido ali adiante, mas precisa ser levado em conta assim que houver sua sinalização.
E chegamos aos 2020 onde trabalho como editor, às vezes publisher, e não sem espanto percebo as agruras dos negócios. O brilho do editorial ainda persiste, por certo, mas o administrativo e os processos editoriais vêm mostrando o quão atualizados precisamos nos manter. E não adianta fugir, temos que estudar e reaprender a ouvir, a renegociar. O mundo fala nova língua ainda em formação e sem prazo para se manter única e facilmente compreensível.
Paulo Tedesco é escritor, editor e consultor em projetos editoriais. Desenvolveu o primeiro curso em EAD de Processos Editorais na PUCRS. Coordena o www.editoraconsultoreditorial.com (livraria, editora e cursos). É autor, entre outros, do Livros Um Guia para Autores pelo Consultor Editorial, prêmio AGES2015, categoria especial. Pode ser acompanhado pelo Facebook, BlueSky, Instagram e LinkedIn.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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