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Crimes de Autor: O universo que cabe no mundo editorial
PublishNews, 05/08/2011
O universo que cabe no mundo editorial

Crimes de Autor: esta é a obra que me trouxe até esta coluna. Por causa dela tive o desejo de escrever sobre filmes que abordam o universo editorial. Percebi, após assistir a esse filme, de modo renovado, como é incrível universo que muitos de nós, que trabalhamos no meio editorial, vivemos cotidianamente e como ele é rico, poderoso, e muitas vezes não damos conta disso. É costumeiro dizer de nós mesmos que quem trabalha no mercado editorial raramente volta para outros mundos. É um vício que causa dependência.

O tema do filme ronda sobre a relação escritor x ghost writer, mas o que se pode enxergar no background é a beleza do imenso universo editorial e pode ser compreendido como uma ode a todos os que trabalham com livros. É por esses detalhes editoriais, que passam ao lado de toda a história, que desejo apresentar o filme.

Roman de Gare, Crimes de Autor, dirigido por Claude Lelouch, é um filme francês de suspense psicológico. Fanny Ardant, uma atriz de talento excessivo que lembra em momentos Vanessa Redgrave e em outros uma versão de Sofia Loren, vive o papel de Judith Ralitzer, uma escritora de imenso sucesso de thrillers de suspense na França. Tudo parecia ir bem até que seu secretário, Pierre Laclos (Dominique Pinon) se mostra cansado com sua invisibilidade. Ele não é um assessor comum, mas um tipo muito especial de Ghost Writer. Ele cria a história inteiramente, oferece desde o título aos textos de quarta-capa. O romance é entregue à Judith, que só usa suas mãos para autografar os livros nas festas de lançamentos. E toda a crítica a elogia.

Então o Ghost conta à escritora sobre o firme propósito de assinar seu nome no próximo livro. Ela enlouquece, ele decide partir, mas ela o convence a escrever em seu barco a caminho de Cannes. Aqueles dias escrevendo em alto mar parecem perfeitos para algum evento. O que acontece então é uma trama policial elaborada com sofisticação. Como não quero entregar nada do suspense, tenho de parar de contar a história, mas a mensagem mais forte que ficou para mim foi "quando o assassinato tem como única prova um roubo, mas não um roubo qualquer, trata-se de um roubo de autoria". Das colunas que escrevi, esta é a que mais permite leituras até agora..

Uma dessas leituras está na condução do espectador. A literatura mais elaborada tem elementos que nos carregam por meio das palavras a recantos onde já pensamos que sabemos de tudo, quando somos surpreendidos por outro olhar, que nos mostra outras verdades, submersas nas mesmas frases onde havíamos confundido a verdade. Reparem como a narratiza nos conduz a indicar quem é o criminoso fugitivo..

Crimes de autor traz o conflito legítimo de um Ghost Writer. Fala da vaidade tanto do escritor real e de fantasia, a luta pela publicação, a força de uma marca autoral em prejuízo do texto; mostra, em flashes curtos, o “glamour” da divulgação da literatura, das entrevistas, da fama, do reconhecimento popular, da destruição de vidas motivada pelo ego inflado dentro desse específico universo. Mostra um mundo de ambição, pois o que ele representa é bom, nobre e reflete o conceito geral que se tem dele. Quem não gosta do bom e do belo? Que símbolos estão associados a quem está no topo do mundo dos livros? A literatura está repleta disso. A vida de quem trabalha com livros, em qualquer etapa, parece sempre mais nobre, mais feliz, mais útil. Quantas pessoas já nos perguntaram isso? Eu, apesar de ser um dos que não se vê fazendo outra coisa, sempre respondo... É um trabalho como qualquer outro. Mas não é verdade. Não é um trabalho comum para quem ama e eu conheci e conheço dezenas e dezenas de pessoas que sei, fazem do trabalho com o livro uma parte importante e feliz de suas vidas. Quantas pessoas (profissões) têm isso?.

Separei um trecho de aperitivo para que possam ver o que escrevo aqui (pois até o texto da coluna pode não fazer sentido para quem não assistiu ao filme). Huguette(Audrey Dana) é uma cabeleireira em Paris. Sua família mora no interior e ela estava indo visitá-los para apresentar o noivo. No entanto o casal briga no caminho e ela é abandonada num posto de parada depois de uma discussão. Então é abordada pelo ghost, que assiste toda a cena, e lhe oferece carona. Veja a cena.

Essa coluna me fez rever o filme algumas vezes e acabou se tornando diferente das demais. Ao invés de escolher o tema, tentei decifrar as sensações que o filme me causou e foi isso que tornou tudo diferente. Então, convido os leitores a experimentar esse filme e, ao assisti-lo, pensem apenas no hoje, que será um reflexo de sua própria história editorial. Eu ainda estou nos dias do HOJE, quando o filme fez uma celebração do mercado editorial e todos os problemas que qualquer atividade possui se tornam irrelevantes. Amanhã pode ser diferente. Amanhã livros serão produtos. Livros terão de ter preço, embalagem, campanhas, metas, estratégias, imprensa, entrevistas, ataques de nervosismo, feiras, estragos, entregas, atrasos, tudo o que acontece com ... batatas. Mas ainda sim a matéria-prima será tão única e mesmo havendo copias idênticas para variadas pessoas cada uma delas terá seu olhar invadido e provocado de forma diversa..

Sugiro, após ver o filme, refletir sobre mais três coisas:.

Como o escritor sai à procura das histórias mais pitorestas para ir se apropriando delas sem pudor..

Não havia corpo, não havia testemunhas e depois se descobre o motivo disso. Mas qual é a prova usada para incriminar o personagem? Veja a cena em que a escritora é desmascarada ao vivo durante uma entrevista num programa de TV..

Por que o Ghost deseja matar o escritor? Qual é a relação disso com a real possibilidade dele fazer sucesso?.

Bom, torço para que gostem do filme. Mandem notícias em meu blog.

www.faroeditorial.wordpress.com Indicações são bem-vindas. Até a proxima edição!

Pedro Almeida é jornalista profissional e professor de literatura, com curso de extensão em Marketing pela Universidade de Berkeley. Autor de diversos livros, dentre eles alguns ligados aos animais, uma de suas paixões. Atua no mercado editorial há 26 anos. Foi publisher em editoras como Ediouro, Novo Conceito, LeYa e Saraiva. E como editor associado para Arx; Caramelo e Planeta. É professor de MBA Publishing desde 2014 e foi presidente do Conselho Curador do Prêmio Jabuti entre os anos 2019 e 2020. Em 2013 iniciou uma nova etapa de sua carreira, lançando a própria editora: Faro Editorial.

Sua coluna traz exemplos recolhidos do cinema, de séries de TV que ajudam a entender como funciona o mercado editorial na prática. Como é o trabalho de um ghost writer? O que está em jogo na hora de contratar um original? Como transformar um autor em um best-seller? Muitas dessas questões tão corriqueiras para um editor são o pano de fundo de alguns filmes que já passaram pelas nossas vidas. Quem quer trabalhar no mercado editorial encontrará nesses filmes algumas lições importantes. Quem já trabalha terá com quem “dividir o isolamento”, um dos estigmas dos editores de livros. Pedro Almeida coleciona alguns exemplos e vai comentá-los uma vez por mês.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews

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