
Krasznahorkai nasceu em Gyula, Hungria, em 1954. Vencedor do Man Booker International Prize em 2015, é autor ainda dos romances Az ellenállás melankóliája (1989; A melancolia da resistência, em tradução livre), Háború és háború (1999; Guerra é guerra), Rombolás és bánat az Ég alatt (2004; Destruição e tristeza sob o céu), entre outros. Sátántangó foi o seu primeiro livro publicado no Brasil, sua estreia na Companhia das Letras, em 2022.
Otavio Marques da Costa, publisher da Companhia das Letras, diz ao PublishNews: “'Tudo mudou, exceto o comportamento humano’. Muito bem-vindo o Nobel a esse escritor que inova radical e brutalmente a partir da melhor tradição".
"Autor fascinante e sombrio", descreve o escritor e editor da Companhia, Emilio Fraia, que editou o livro no Brasil. "Forma implacável. Ler seus livros é ser conduzido por um lento fluxo de lava modernista e pós-modernista, como se entrássemos e saíssemos de becos escuros e impossíveis, cheios de ambiguidades e não ditos. Escritor pra valer."
O escritor e curador Carlos Henrique Schroeder chegou a convidá-lo para a Bienal Internacional do Livro de Jaraguá do Sul, em Santa Catarina, em 2023, mas o escritor declinou o convite por motivos de saúde na época. "Lázló é o tipo de escritor que tensiona a linguagem e empurra o leitor para uma zona imprevisível (parece que você é um stalker do livro dos irmãos Strugatsky)", diz Schroeder. A tentativa do convite em 2023 envolvia a homenagem da Bienal de Jaraguá à Hungria. "Suas frases longas e sinuosas nos arrastam para uma onda de circularidade, entre a claustrofobia e a clarividência. Sempre teve grandes admiradores, como a Susan Sontag, o Colm Tóibín, o Imré Kertész e o Sebald... Fazia muito tempo que eu não me animava com o Prêmio Nobel."
Para o escritor, editor e tradutor Antônio Xerxenesky, a contribuição do novo Prêmio Nobel para o cinema é também impressionante. "Um escritor tão peculiar que parece viver de recursos exclusivos, que só a literatura possui. Mas quando assistimos aos filmes de Béla Tarr que adaptam Lászlo percebemos como suas obras-primas do cinema também conseguem capturar muito bem o tom apocalíptico do autor. Então Lászlo não é apenas um mestre literário, mas um grande colaborador na arte cinematográfica", diz.
Vida e obra
O autor nasceu numa pequena cidade próxima à fronteira com a Romênia. Um ambiente rural similar é o pano de fundo de Sátántangó, de 1985, livro que se tornou sensação literária no país e depois foi adaptado, em 1994, pelo diretor Béla Tarr ao cinema. A colaboração com Tarr é outra marca da carreira de Krasznahorkai – seis filmes do diretor têm seus roteiros escritos pelo novo Prêmio Nobel.
Em Az ellenállás melankóliája (1989; A melancolia da resistência, em tradução livre), o autor escreve uma fantasia de horror situada também numa pequena cidade húngara, marcada por um estado de urgência após a chegada de um circo cuja principal atração é a carcaça de uma baleia gigante. Segundo o comitê do Nobel, "empregando cenas oníricas e caracterizações grotescas, László Krasznahorkai retrata de maneira magistral a luta brutal entre ordem e desordem". Após a leitura desse livro, a crítica Susan Sontag definiu o autor como o "mestre do apocalipse" na literatura contemporânea.
Entre outros grandes temas que perpassam sua obra, estão questões como imigração, exílio e vícios. Ao longo dos anos, a prosa de Krasznahorkai desenvolveu "uma sintaxe própria, com frases longas e sinuosas, praticamente desprovidas de pontos finais" – o que se tornou sua assinatura.
"László Krasznahorkai é um grande escritor épico da tradição da Europa Central que se estende de Kafka a Thomas Bernhard, e é caracterizado pelo excesso grotesco e pelo absurdo. Mas em uma série de trabalhos tardios ele se volta para o Oriente, adotando um tom mais contemplativo e calibrado", explica Anders Olsson, presidente do Comitê do Nobel, em um texto de divulgação do prêmio.
Depois de um período estudando direito, o escritor se mudou para Budapeste em 1978 para estudar literatura e húngaro, na universidade Eötvös Loránd, onde se formou. Sua tese foi sobre a obra e as experiências do escritor Sándor Márai, especialmente após o exílio imposto pelo regime comunista em 1948. Krasznahorkai também trabalhou em uma editora húngara, a Gondolat, e desde 1983 atua como escritor freelance.
O autor não saiu da Hungria comunista até 1987, quando foi para Berlim Oriental com uma bolsa de estudos – depois disso, viveu em diversos países, mas sempre retornando à sua terra natal. No início dos anos 1990, passou longos períodos na Mongólia e na China, e mais tarde no Japão. Enquanto escrevia o romance Háború és háború (Guerra é guerra, em tradução literal, 1999), viajou pela Europa e viveu no apartamento de Allen Ginsberg em Nova York – as contribuições do poeta norte-americano ao seu trabalho foram reconhecidas publicamente mais tarde pelo escritor. Atualmente, ele vive em Szentlászló, na Hungria, cidade próxima à fronteira com a Croácia. Seu principal herói literário, segundo o próprio autor, é Franz Kafka.
Sátántangó
Publicado originalmente em 1985, Sátántangó é um romance monstruoso, de acordo com a Companhia das Letras. A ação se concentra na chegada de um homem misterioso, que pode ser um profeta, um vigarista, ou o próprio demônio, a uma aldeia húngara onde a chuva não para de cair. Os habitantes do lugar, um elenco de desajustados e enlouquecidos (camponeses esfarrapados; um médico alcoólatra observando obsessivamente seus vizinhos; jovens perdidas num moinho destroçado; uma garota com deficiência tentando matar seu gato) descobrem em determinado momento que Irimiás, um homem a quem atribuem poderes extraordinários, e dado como morto, está a caminho do lugar, com seu companheiro, Petrina. Para esperá-los, reúnem-se numa taverna, espécie de porão do fim do mundo, onde discutem, bebem e dançam ao som de um acordeão.
Com influências marcadas de Kafka, Beckett e Walser, ainda de acordo com a Companhia das Letras, "o escritor constrói um lento fluxo de lava modernista, como se entrássemos e saíssemos de becos impossíveis. O cenário é e não é a Hungria sob o comunismo, e a fé depositada na aparição de um líder salvador faz com que a obra não perca sua assombrosa atualidade."
Veja alguns comentários sobre a obra de László Krasznahorkai:
- "O mestre húngaro do apocalipse." – Susan Sontag
- "Um dos artistas mais misteriosos em atividade." – Colm Tóibín
- "A universalidade da visão de Krasznahorkai rivaliza com a de Almas mortas de Gógol e supera em muito todas as preocupações da escrita contemporânea." – W.G. Sebald
- "Suas longas e sinuosas frases me encantam." – Imré Kertész
- "O tipo de escritor que pelo menos uma vez em cada página encontra um jeito perfeito de expressar algo que alguém sempre sentiu mas nunca foi capaz de descrever." – Nicole Krauss
- "Profundamente inquietante" – James Wood
- "Não há nada parecido na literatura atual." – Adam Thirlwell
O Prêmio Nobel de Literatura
Os prêmios Nobel nasceram da vontade do químico, engenheiro e industrial sueco Alfred Nobel (1833-1896) em doar a sua fortuna para o reconhecimento de personalidades que prestassem serviços à Humanidade.
Em 2018, após acusações de abuso sexual e corrupção no seu comitê, o Prêmio Nobel de Literatura não foi entregue. Para compensar, em 2019 escolheu dois autores, o austríaco Peter Handke – escolha que que gerou críticas – e a polonesa Olga Tokarczuk. Já em 2020, a escolhida foi a poeta americana Louise Glück. Em 2021 levou o tanzaniano Abdulrazak Gurnah, e em 2022, Annie Ernaux. Em 2023, o escritor norueguês Jon Fosse foi o laureado.
No ano passado, a autora sul-coreana Han Kang foi a vencedora. A escritora de 54 anos foi escolhida "por sua intensa prosa poética que confronta traumas históricos e expõe a fragilidade da vida humana".