Diário de Frankfurt. Dia 2: 'É logo ali…', disse a mineira
PublishNews, Ing Lee*, 31/10/2024
Confira como foi o segundo dia de Ing Lee na Feira de Frankfurt, sua 'leve' caminhada pela cidade e a ida na cerimônia do Prêmio Aficionado

No segundo dia, senti que tinha sacado melhor a estrutura do evento, só que ainda estava um pouco perdida sobre o que fazer, pois só passaria três dias na Feira do Livro de Frankfurt, para além de acompanhar a programação aberta, obviamente. Afinal, eu sou uma ilustradora freelancer… não uma agente ou editora que negocia direitos, que são os profissionais que costumam frequentá-la.

Eu já estava ciente de que a Feira é focada nesse lado mais business do mercado editorial e, de fato, preciso dizer que foi difícil encontrar colegas da área criativa como diretores de arte e designers, profissionais com os quais eu poderia fazer networking e agendar reuniões apresentando meu portfólio.

A excelente casquinha de pistache e avelã
A excelente casquinha de pistache e avelã
Eis a minha “ínfima” quantidade de passos que dei aquele dia
Eis a minha “ínfima” quantidade de passos que dei aquele dia
Por outro lado, concluí que, como minha agenda estava mais tranquila, poderia tirar um tempo para turistar e comprar souvenires pela cidade antes de ir ao evento. Como boa mineira e taurina, posso ser bem mão-de-vaca, e a cotação do euro também não ajudava, fazendo com que eu sentisse uma facada no bolso toda vez que fazia a continha na cabeça de multiplicar por seis e me dar conta de que as coisas que pareciam tão baratas na verdade eram um absurdo de caras. Eu estava ainda me recuperando do choque de ter gastado quase R$ 30 num mero salgado de queijo feta na noite em que cheguei na cidade, sabe? Considerando este cenário e o preço da passagem de metrô, eu me recusei a pagar tanto dinheiro para chegar em um lugar que era “logo ali” a pé. Para nós, belorizontinos, tudo é “pertinho”. Nessa brincadeira, acabei andando uns 6km naquele dia – mas não me arrependi nem um pouco. O que não gastei com a passagem, eu investi numa deliciosa casquinha de pistache e avelã no caminho.

No fim da tarde eu tinha alguns compromissos, inclusive um portfolio review para apresentar meu trabalho como ilustradora (que consiste basicamente em apresentar seu portfólio com imagens e explicar sobre seu trabalho para alguém para receber feedbacks e até mesmo formar contatos profissionais), daí retornei ao evento e de lá fui para a noite de drinks que celebrava o Aficionado Award, cuja vencedora não somente era brasileira, como também uma das pessoas que assinaram uma carta de recomendação na minha inscrição para o Prêmio Jovens Talentos, a brilhante Rita Mattar, da Fósforo! Fiquei super feliz por vê-la ali e também por ter tido um breve momento de respiro falando português.

O único problema é que percebi que os outros estavam vestidos de um jeito meio chique e eu estava ainda com minha roupa do dia a dia, pois tinha ido para lá direto da feira (por muito pouco eu não tinha saído de crocs verde Shrek naquele dia, imagina a situação). Mas essas inseguranças momentâneas passaram ao longo dos bate-papos com outras pessoas que conheci ali e acabou sendo uma noite super divertida! Foi ali que saquei o que haviam me contado sobre a Feira do Livro de Frankfurt ser melhor aproveitada nas múltiplas festas que ocorrem dentro do evento ou em paralelo à programação, pois são nelas que as pessoas estão mais descontraídas e abertas a trocarem ideias.

Eu estava vestida assim na noite dos drinks do Aficionado Award | © Ing Lee
Eu estava vestida assim na noite dos drinks do Aficionado Award | © Ing Lee


*Ing Lee é coreano-brasileira e surda oralizada, natural de Belo Horizonte(MG) e reside atualmente em São Paulo(SP). É bacharel de Artes Visuais pela UFMG, atua como quadrinista e ilustradora freelancer desde 2018. Já trabalhou para clientes como Penguin UK, Wim Wenders Foundation, KCC, Bioré, Companhia das Letras, Sesc-SP, LUSH, Japanese Breakfast, Piauí e Revista Pesquisa Fapesp. Este ano, foi a vencedora do Prêmio Jovens Talentos da Indústria do Livro do PublishNews em parceria com a Feira do Livro de Frankfurt, sendo a primeira capista do mercado editorial a ganhar o prêmio. Foi artista convidada do FIQ 2022 e da Bienal de Quadrinhos de Curitiba em 2020; em 2022, foi júri no Prêmio João-de-barro na categoria "Livro Ilustrado". É representada internacionalmente pela agência de ilustração IllustrationX e também pela agência literária Três Pontos. Ministra cursos, palestras e workshops para instituições como Sesc SP e Instituto Tomie Ohtake. Entre seus trabalhos de HQs, destacam-se as webtiras sobre a imigração coreana no Brasil para o Sesc Av. Paulista, e o projeto de webcomic "João Pé-de-feijão". Paralelamente, integrou o programa Amigos da Embaixada da Coreia em 2022, como promotora da cultura coreana no Brasil; fez parte do Mitchossó (coletivo da diáspora coreana da Casa do Povo), Lótus Feminismo Asiático e foi co-fundadora do Selo Pólvora (coletivo artístico feminista asiático-brasileiro).

[31/10/2024 08:00:00]