No segundo dia, senti que tinha sacado melhor a estrutura do evento, só que ainda estava um pouco perdida sobre o que fazer, pois só passaria três dias na Feira do Livro de Frankfurt, para além de acompanhar a programação aberta, obviamente. Afinal, eu sou uma ilustradora freelancer… não uma agente ou editora que negocia direitos, que são os profissionais que costumam frequentá-la.
Eu já estava ciente de que a Feira é focada nesse lado mais business do mercado editorial e, de fato, preciso dizer que foi difícil encontrar colegas da área criativa como diretores de arte e designers, profissionais com os quais eu poderia fazer networking e agendar reuniões apresentando meu portfólio.
No fim da tarde eu tinha alguns compromissos, inclusive um portfolio review para apresentar meu trabalho como ilustradora (que consiste basicamente em apresentar seu portfólio com imagens e explicar sobre seu trabalho para alguém para receber feedbacks e até mesmo formar contatos profissionais), daí retornei ao evento e de lá fui para a noite de drinks que celebrava o Aficionado Award, cuja vencedora não somente era brasileira, como também uma das pessoas que assinaram uma carta de recomendação na minha inscrição para o Prêmio Jovens Talentos, a brilhante Rita Mattar, da Fósforo! Fiquei super feliz por vê-la ali e também por ter tido um breve momento de respiro falando português.
O único problema é que percebi que os outros estavam vestidos de um jeito meio chique e eu estava ainda com minha roupa do dia a dia, pois tinha ido para lá direto da feira (por muito pouco eu não tinha saído de crocs verde Shrek naquele dia, imagina a situação). Mas essas inseguranças momentâneas passaram ao longo dos bate-papos com outras pessoas que conheci ali e acabou sendo uma noite super divertida! Foi ali que saquei o que haviam me contado sobre a Feira do Livro de Frankfurt ser melhor aproveitada nas múltiplas festas que ocorrem dentro do evento ou em paralelo à programação, pois são nelas que as pessoas estão mais descontraídas e abertas a trocarem ideias.
*Ing Lee é coreano-brasileira e surda oralizada, natural de Belo Horizonte(MG) e reside atualmente em São Paulo(SP). É bacharel de Artes Visuais pela UFMG, atua como quadrinista e ilustradora freelancer desde 2018. Já trabalhou para clientes como Penguin UK, Wim Wenders Foundation, KCC, Bioré, Companhia das Letras, Sesc-SP, LUSH, Japanese Breakfast, Piauí e Revista Pesquisa Fapesp. Este ano, foi a vencedora do Prêmio Jovens Talentos da Indústria do Livro do PublishNews em parceria com a Feira do Livro de Frankfurt, sendo a primeira capista do mercado editorial a ganhar o prêmio. Foi artista convidada do FIQ 2022 e da Bienal de Quadrinhos de Curitiba em 2020; em 2022, foi júri no Prêmio João-de-barro na categoria "Livro Ilustrado". É representada internacionalmente pela agência de ilustração IllustrationX e também pela agência literária Três Pontos. Ministra cursos, palestras e workshops para instituições como Sesc SP e Instituto Tomie Ohtake. Entre seus trabalhos de HQs, destacam-se as webtiras sobre a imigração coreana no Brasil para o Sesc Av. Paulista, e o projeto de webcomic "João Pé-de-feijão". Paralelamente, integrou o programa Amigos da Embaixada da Coreia em 2022, como promotora da cultura coreana no Brasil; fez parte do Mitchossó (coletivo da diáspora coreana da Casa do Povo), Lótus Feminismo Asiático e foi co-fundadora do Selo Pólvora (coletivo artístico feminista asiático-brasileiro).