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Menos é mais e melhor
PublishNews, Paulo Tedesco, 05/02/2024
Paulo Tedesco escreve sobre a valorização do trabalho manual versus o trabalho intelectual e criativo

Minhas origens particulares são curiosas, e um dos lados da família que sempre me soou mais forte – porém não menos desafiador, vistos os seus politicamente nada corretos provérbios e pensamentos – vem me servindo de contraponto a esse novo mundo que surge: o mundo do trabalho intelectual e criativo, a cada dia mais e mais valorizado.

Pois meu “Nono” Silvestre – sim, o nome diz bem de seu comportamento, um eterno silvestre – dizia que trabalhar demais nunca fez mal, ao contrário, rejuvenescia e dava vida longa. Algo que minha mãe, sua intermediária mais sincera, defendeu até seus últimos instantes de vida. E ambos acrescentavam que para espantar o frio e a preguiça, tinha que se permanecer trabalhando: cabeça vazia era casa do diabo.

Anos atrás, não muitos, o trabalho valorizado era o manual de comando. Quem se mostrasse mais hábil e disposto, e que também soubesse defender seus interesses, era o mais valorizado. E, como me diziam, esses eram os espertos e os merecedores da glória divina e eterna.

É de se supor que quem gostava de ler e escrever, ou que se resumisse a criar obras de arte, ou mesmo fazer pesquisas teóricas, para meus familiares, era o protótipo do vagabundo, e nem vou comentar o que falavam de quem optasse pelo teatro e similares... Estudar só era importante para entender dos negócios de compra e venda e dos famigerados acordos de banco, – peço, por favor, leia e veja o que houver do livro José Clemente Pozenato e filme indicado ao Oscar, O Quatrilho – melhor descrição não há.

Justamente pelo temor de ser visto como um poca voia (PV) em dialeto vêneto, ou pouca vontade, em bom português, ainda que gostasse de ler e escrever, sempre tentei fazer algo a mais, era inconsciente e automático.

Pois criei meus castelos e brincadeiras reais, envolvia irmãs e vizinhos, e até os próprios pais se pudesse. E entre as melhores lembranças, têm as das empresas de brinquedo com trocas de documentos, contratações e acordos com salas e escritórios fictícios. Telefones em tacos de madeira e fachadas em giz escolar. Brincadeira ideal para os longos dias de inverno chuvosos e gelados.

Posso dizer que quando surgiu o computador e esse ocupou seu merecido espaço, senti-me incrivelmente aliviado. Se a máquina de escrever manual tivera seu papel na máquina do viver adulto, o computador, a mim, servia de máquina da revolução, a revolucionadora das revoluções. E quando integrada às redes digitais, passou a ser o meu veículo da liberdade total...

Bom, passados alguns anos do domínio absoluto da informática, finalmente chegaram à conclusão de que as horas de descanso e ócio, proporcionam mais criatividade e empenho de quem puder desfrutar de mais intervalos de descanso. Na sequência, o óbvio, trabalhar no máximo 36 horas, ou até 28, na semana, é muito melhor e mais produtivo do que as atuais 44 horas brasileiras.

Neste momento, sonho em rever, se pudesse, as feições do Nono e da mãe diante da notícia. Se bem os conheço, negariam e se enfureceriam encerrando o assunto. Eu, por certo, não os contradiria, me calaria e partiria para o computador para escrever esse artigo. Deus meu livre ir para a casa do diabo sem defesa prévia.

Paulo Tedesco é escritor, editor e consultor em projetos editoriais. Desenvolveu o primeiro curso em EAD de Processos Editorais na PUCRS. Coordena o www.editoraconsultoreditorial.com (livraria, editora e cursos). É autor, entre outros, do Livros Um Guia para Autores pelo Consultor Editorial, prêmio AGES2015, categoria especial. Pode ser acompanhado pelo Facebook, BlueSky, Instagram e LinkedIn.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

Tags: Trabalho
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