A escrita é resultado de um longo processo de evolução cultural. Não somente pela sua complexidade e diversidade, mas por avançar no que há de mais precioso na raça humana: a imaginação. Porque é ela, a escrita, que nos faz ler em silêncio, a exercitar a memória e preparar o terreno para a criatividade, para o lúdico e para os projetos mais íntimos.
Sócrates, o filósofo grego, desdenhava a escrita, dizia que roubava a alma das palavras, e que estas deveriam ser sempre oralizadas, em aberto, e passando boca a boca ao longo das gerações. Foi, porém, e para seu provável desgosto, através de um de seus discípulos, Platão, que tudo o que temos sobre Sócrates foi anotado e preservado na escrita. Sim, Platão, passados alguns anos da morte do grande filósofo, compilou os debates socráticos.
Nascia, neste instante, o ruminar mental. O exercício do silêncio frente à leitura paciente e interminável de letras e sinais como códigos dos tempos e de povos. Dos diferentes povos na história.
E foi tão imperiosa a evolução que não há melhor método de se preservar conhecimento do que através de textos escritos. Ainda que nunca dispensemos as imagens em nossos pensamentos, como bem apontava Aristóteles, a palavra termina, inusualmente, como ponto de chegada de um pensamento, de qualquer pensamento.
E hoje temos alfabetos resistindo e se mesclando a outros, traduzindo dialetos e idioletos, e preservando raízes orais e outras literárias, pois, sabe-se, há diferentes níveis de linguagem dentro de uma mesma comunidade. E quando mais complexa a sociedade, mais complexas e estratificadas podem ser suas linguagens.
Se algum estudante de letras ou comunicação pensa na sociedade futura sem o uso da palavra, como se retornássemos ao mundo ágrafo das cavernas, recomendo abandonar a distopia, porque tudo leva para um universo maior e muito mais interessante de letras e grafias.
E está ficando muito curioso por conta dessa virada que, politicamente, se deu dos 1990 para cá, com a tal globalização econômica, e, agora, com a globalização dos contatos e trocas culturais por mensagens, vídeos e áudios.
Vejamos os tradutores automáticos de fala, desses aplicativos impressionantes. Também temos o ensino de línguas sem fronteiras, diretamente de seus falantes. E temos os curiosos debates e brincadeiras sobre o falar de distintas regiões de um mesmo país e as idiossincrasias estrangeiras e nacionais. E se Borges algum dia sonhou, de fato, com a biblioteca mundial, aqui está ela, em voz, imagem e texto, e de forma simultânea e aberta.
Este é o encantamento. Viajar a outro país em poucas horas ou até sem sair da sua cadeira, estudar nova língua falada de uma nação que outrora chamava-se de remota, e que não dá mais, porque não existem mais nações remotas. Todos e todas, e mais um pouco se conhecem, e são 24 horas por dia vistos do espaço e ouvidos pelas antenas.
E a palavra, e o texto preto no papel ou na tela? Ora, sem esses, não estaria aqui, narrando na simplicidade da letra sob fundo branco e anotando essa explosão sem fronteiras no alvorecer do novo milênio.
Paulo Tedesco é escritor, editor e consultor em projetos editoriais. Desenvolveu o primeiro curso em EAD de Processos Editorais na PUCRS. Coordena o www.editoraconsultoreditorial.com (livraria, editora e cursos). É autor, entre outros, do Livros Um Guia para Autores pelo Consultor Editorial, prêmio AGES2015, categoria especial. Pode ser acompanhado pelo Facebook, BlueSky, Instagram e LinkedIn.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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