Fosse pela previsível sensação de vazio frente às perdas de gente próxima, fosse pelas perdas físicas por doenças e acidentes, até perdas financeiras e materiais que, sabemos, dificilmente um dia reaveremos, talvez a maturidade não seria o que é. Mas a maturidade também traz aprendizado, sobretudo. Traz, junto com as coisas da idade, caminhos e certezas, ponderamentos e reflexões, passagens obrigatórias de quem pode ver o mundo diante da própria experiência e por quem ensinou e já partiu.
Talvez a maior riqueza da maturidade resida na compreensão de que nem todo o risco vale a pena. Nem toda a vontade precisa ser satisfeita. E que alguns clichês terminam se mostrando inarredáveis e permanecem vivos, pulsantes.
Logo, não há mal que dure para sempre, e não há concretude que não se desintegre. E, sim, somos todos passageiros, não somos donos de nada, tampouco senhores, e senhoras, de alguma razão.
Nossa vida nunca nos pertenceu, nossos livros nunca foram nossos. Ah, e os sonhos, pobres sonhos, nada mais foram do que parte de outros sonhos, muitas vezes sonhados juntos e alimentados indistintamente, feito partes de um grande romance sonhado coletivamente e de nome mudança.
Porque não se muda sozinho, e quem muda, muda junto e muda a si mesmo, e ainda que não queira mudar, mudado é, mudado está. E quem contesta, quem reclama, mal sabe, será mudado por quem, antes de todos, mudou.
E se a maturidade nos traz a aversão ao risco e deixa ao jovem a aventura, aquilo que proporciona fortuna também proporciona desespero. Aquilo que proporciona fantasia também nos traz o terror.
E o terror foi nossa pandemia do Covid-19. E foi nossa porque 400 mil mortos dos quase 700 mil mortos bem poderiam ter sido salvos com a compra da vacina, enquanto outros países, mesmo os mais arredios, vacinavam e salvavam os seus. E de terror foi também a destruição da cultura nacional, da extinção em massa de feiras do livro, da miséria, e, por que não, suicídio, de muito artista, e da falência de muitos sonhos de liberdade e criação.
E esta a hora da maturidade. Esse o momento de recuperarmos a cultura, de salvarmos o livro, a educação, e sermos consequentes. Sim, CONSEQUENTES. Porque não dá mais para viver sem o Ministério da Cultura, sem a honestidade e a franqueza, e da abertura. Porque de sigilo e esconde-esconde o poder público não pode ser feito, porque a falta da democracia não é algo da maturidade mas sim da canalhice.
Sejamos, todos, desta vez, maduros.
Paulo Tedesco é escritor, editor e consultor em projetos editoriais. Desenvolveu o primeiro curso em EAD de Processos Editorais na PUCRS. Coordena o www.editoraconsultoreditorial.com (livraria, editora e cursos). É autor, entre outros, do Livros Um Guia para Autores pelo Consultor Editorial, prêmio AGES2015, categoria especial. Pode ser acompanhado pelo Facebook, BlueSky, Instagram e LinkedIn.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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