Autopublicação é um termo esquisitão, um filhote de selfpublishing. O que não significa superioridade ou prioridade do termo inglês, mas porque a autopublicação, em economias mais desenvolvidas e ricas, como a estadunidense, a britânica e a alemã, já vem ocorrendo com força faz muitos anos. O termo, por certo, não deve existir ainda em dicionários, mas nas pesquisas dos buscadores virtuais sim. Logo, e ao que tudo indica, veio para ficar.
O verdadeiro propulsor da autopublicação foi o desenvolvimento tecnológico em programas de computadores, em máquinas das mais diversas em preço e formatos e na rede digital. Nos países ricos sempre houve um avanço, tecnologicamente falando, de até 10 anos, antes de nós, na terra brasilis. E aqui foi a impressão por demanda e a versão digital (e-book), que rebaixou custos e muitos puderam sonhar com sua carreira autoral, ou a publicação de sua tese e ensaio, como reforço na construção da autoridade no que quer que fosse.
Porém, a autonomia dada ao autor e aos candidatos a editor é que fez a parte social e cultural da definitiva virada. Muita editora tem no faturamento algo na conta de autores que financiam suas obras, e, por questões estratégicas, nunca divulgaram, tampouco divulgarão. Por isso, é que chamo de virada. Agora é a hora da publicação por conta própria. As incríveis ferramentas estão aí, ao alcance quase gratuito, restando a qualidade como o ponto a ser conquistado. Não basta mais ser publicado, tem que agregar valor ao que se produz.
Em outro artigo, aqui mesmo no PublishNews, falei que o que estava em crise era o modelo do negócio do livro diante da quebra de empresas como Livraria Cultura, FNAC e Saraiva, e não a leitura e a escrita. E minha reflexão, que aqui se completa, é que foi através da existência e da impressionante acessibilidade de programas de texto, como Word da Microsoft e outros, e também da necessidade de se escrever mensagens digitais, seja em SMS, redes sociais e WhatsApp ou Telegram, o que havia provocado essa nova fase da escrita na humanidade.
Eu que jamais esquecerei meu falecido pai, querendo xingar por uma contratação de jogador de futebol a peso de ouro, do seu estimado Grêmio Football Porto-Alegrense. Ele me perguntou na época como poderia escrever na internet a mensagem aos dirigentes do clube, ou aos jornalistas das rádios. Ele achava aquilo um erro brutal. Para alguém que pegou a caneta nos últimos anos de vida para, no máximo, assinar um cheque ou recibo, escrever um linha ou duas de descontentamento num ambiente digital, era um acontecimento.
Vivemos ou não em novos tempos? É irremediável. Temos toda autonomia para publicar por conta e risco. Temos a autonomia para procurar editores sem nos prendermos a direitos autorais nem sempre justos e nem sempre honráveis. Temos a autonomia até, veja só, para prescindir do produto papel, e aliviar o peso das estantes e buscar de forma rápida e segura a universalização do nosso conteúdo. Para mim, autopublicação, com qualidade, é a grande sacada cultural do mundo do livro, muito mais do que livros em capas holográficas, cortes e facas a laser, ePub, PDF, audiolivros e outras versões. É a autopublicação que importa, em se tratando de preservação da cultura e do conhecimento, ou seja, tudo.
Paulo Tedesco é escritor, editor e consultor em projetos editoriais. Desenvolveu o primeiro curso em EAD de Processos Editorais na PUCRS. Coordena o www.editoraconsultoreditorial.com (livraria, editora e cursos). É autor, entre outros, do Livros Um Guia para Autores pelo Consultor Editorial, prêmio AGES2015, categoria especial. Pode ser acompanhado pelo Facebook, BlueSky, Instagram e LinkedIn.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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