Diários de Frankfurt: Conhecendo a feira
PublishNews, Talita Camargo*, 17/10/2019
Em seu segundo dia, Talita viu de perto o tamanho da feira, criou seu roteiro do dia seguindo sugestões e encontrou diversos amigos do mercado

O ingresso da Feira do Livro de Frankfurt dá direito ao uso do metrô durante o período do evento, mas ainda assim decidi novamente caminhar até lá.

Estava um solzinho gostoso e um vento gelado que cortava o rosto de leve, queimando as bochechas. Peguei um café para esquentar de dentro pra fora e fui andando sem pressa, sentindo o clima de livros da cidade e tropeçando em frases como essas:

A distância pareceu mais curta e hoje entrei pela porta da frente do centro de convenções: entrada principal, ticket na catraca, tapete vermelho: tudo como manda o protocolo.

Ao chegar na área do Business Club, descobri que eu mesma deveria ter levado minha credencial impressa, o que achei um pouco estranho, mas decidi não estressar e usar a versão manuscrita mesmo. Tem seu charme e acabou se tornando a minha marca registrada de Frankfurt: todo mundo quer uma credencial especial como a minha!

O Business Club em si, como o próprio nome sugere, é reservado e pensado para negociações: mesas, poltronas, cafés... É de certo um ambiente agradável e tranquilo e que cumpre a que se propõe. Mas não é onde quero ficar. Não é lá que a Feira acontece. E cheguei ávida para explorar cada canto desta feira.

Comecei pelo Pavilhão 5, onde assisti à palestra Publishing and the climate crises, que trouxe à tona o debate sobre como e o que publicar sobre a temática do clima e meio ambiente em diversos países de culturas diferentes. Uma coisa é certa: o assunto está em alta novamente!

Neste mesmo pavilhão, visitei o estande do Brazilian Publishers, que reúne diversas editoras brasileiras para negociações comerciais. O espaço está amplo, grande, organizado, bonito e especialmente repleto de editoras brasileiras! Ótimo ponto de encontro com os colegas do mercado e um delicioso cafezinho brasileiro.

Passear pelo Messe é como caminhar em um grande aeroporto, desses de passagem, que recebem voos do mundo inteiro. Os pavilhões são terminais, interligados por passarelas e esteiras rolantes, onde os profissionais do livro são passageiros com pressa para não perderam a hora do embarque, conexão ou, no caso, da próxima reunião.

São oito pavilhões, cada um com três andares. Não sei informar quantos restaurantes, mas há uma diversidade que atende a todos os gostos e necessidades. Os muitos banheiros estão sempre limpos, a acessibilidade é constante e a sinalização é clara: de uma maneira ou de outra todo mundo vai se ambientando e se encontrando.

Tenho a sensação de que sou uma das únicas pessoas em todo o evento sem uma agenda fechada: estou seguindo sugestões, conhecendo o espaço, indo no ritmo lento de observadora. Ter vindo na condição de Jovem Talento me dá essa oportunidade.

E o desafio é tentar absorver a dinâmica de um espaço como este, repleto de veteranos, que preenchem as agendas com encontros importantes com pessoas do mundo inteiro.

Minha grande companheira do dia hoje foi a Carol Rocha, vencedora do Prêmio Especial do Jovens Talentos, que não é novata no evento como eu, mas embarcou no mesmo ritmo de visitante e não profissional compromissada. Juntas passeamos pelos corredores lotados e a assistimos ao CEO Talk, onde CEOs de veículos da imprensa mundial (incluindo o PublishNews) sabatinaram a Kelly Luegenbiehl, vice-presidente de originais internacionais da Netflix.

Esse era um dos eventos mais concorridos e os ingressos estavam esgotados. Eu não havia feito a inscrição a tempo, mas fiquei numa breve fila de espera e como sobraram lugares, consegui assistir e valeu super a pena. É bacana entender como outros setores da indústria de entretenimento e produção de conteúdo enxergam o mercado editorial e como se usam disso para crescer e melhorar o seu negócio.

Uma das coisas que mais me chamou a atenção foi a visão da executiva em relação à similaridade entre a maneira do público de consumir as séries da plataforma streaming, e a leitura de um um livro: emendar um capítulo no outro, apego às personagens, entre outras características parecidas.

Além disso, para ela, as editoras e a Netflix tem em comum a tarefa de dar vida às narrativas: "Quando olhamos para o mercado do livro vemos parceiros e quanto mais colaboração, melhor. Definitivamente não vemos a indústria editorial como um competidor", afirmou.

Ao término do evento, o clima (atmosférico mesmo, rs) tinha mudado bastante: foi um perrengue chique caminhar na garoa fria e vento gelado para chegarmos a outro pavilhão.

Visitei o Pavilhão da Noruega, país homenageado nesta edição do evento e, na sequência, fui ao Pavilhão 6, onde passei pelos grandes grupos internacionais.

A partir daí, foi só Happy Hour!

Para encerrar o dia no evento, eu, Carol Rocha e mais dois Jovens Talentos que, a esta altura, já haviam se juntado a nós: Raquel Menezes e Diego de Oxóssi; seguimos para a Young Talent Reception, onde os vencedores de todos os países participantes se reúnem em uma cerimônia informal para se conhecerem, conversarem, fazerem networking e tomarem um vinho. Foi um momento de descontração e bastante divertido.

Finalizei minha noite em um restaurante indiano delicioso em companhia de amigos.

De volta ao hotel, percebi que embora eu tenha andado muito o dia todo e diversas coisas sem parar, me sinto muito menos cansada do que em dia de Bienal do Livro, por exemplo. Talvez seja aquela leveza de estar como convidada, sem nenhuma obrigação real de fazer negócios. Ainda assim - e acho que justamente por isso - boas oportunidades surgem. E estou agarrando todas elas!


* Talita Camargo é jornalista, produtora editorial e livreira. Fundou com a irmã - Carol Camargo - a 2Books Distribuidora, é também gestora da Livraria do Comendador e foi eleita como um dos Jovens Talentos da Indústria do Livro em 2019. Essa é a sua primeira Feira do Livro de Frankfurt.

[17/10/2019 02:00:00]