Diários de Frankfurt: Uma livreira na maior feira de livros do mundo
PublishNews, Talita Camargo*, 16/10/2019
Talita Camargo foi eleita a nossa marinheira de primeira viagem em Frankfurt em 2019. Nesse primeiro relato, suas impressões sobre a feira, a cidade e tudo mais que já conseguiu ver por aqui

Qual a melhor opção de voo? Com quantos dias de antecedência devo chegar? Aonde devo me hospedar?

Quais roupas usar? Qual a temperatura?

Quanto de dinheiro levar? O que fazer no tempo livre? Aliás, tem tempo livre?

Eu viajo sozinha com frequência, a trabalho e a lazer. Mas essa viagem a Frankfurt me deixou especialmente preocupada: nada poderia dar errado.

Eu sei que altas expectativas são geralmente seguidas de grandes frustrações, mas mais do que desejar que este momento fosse uma grande realização profissional e pessoal, há um peso da responsabilidade de ser uma Jovem Talento e, acima de tudo, de aproveitar ao máximo essa oportunidade.

Por isso achei tão desafiador vir para Frankfurt. Mas eu vim.

E Frankfurt em outubro tem cor de outono. O sol que brilha no céu azul sem nuvens anuncia que os dias serão mais quentes do que o esperado (é, acho que errei nas roupas, rs!)

O idioma alemão grita aos meus olhos e ouvidos com o alerta constante de que não importa o quão fluente seja meu inglês ou quantos outros idiomas eu fale, viajar para um local em que eu não tenha a mínima noção básica da língua é um problema.

(É bem verdade que em muitos locais se fala ou se entende minimamente o inglês, mas não é a mesma coisa.)

Na incerteza de onde me hospedar (não queria ficar muito longe da Feira, mas não queria gastar uma fortuna); optei pela região central. E como todo centro, há movimento, bagunça, sujeira, pessoas em situação de rua, vida noturna agitada. Mas é a melhor localização de todas: próximo à estação de trem e próximo de tudo o que acontecerá nos próximos dias. Ótima escolha!

Depois de instalada, querendo me manter acordada brigando com o fuso de cinco horas à frente, e em busca de algum lugar para comer, tropecei sem querer em uma loja da Schmitt & Hahn, a mais famosa rede de livrarias alemã.

A diversidade dos produtos é grande: além de livros e revistas dos mais diversos gêneros, foi possível encontrar opções de jogos, calendários e agendas, acessórios e produtos de papelaria e gifts. O movimento também chamou atenção: o caixa não parou enquanto estive em loja.

Depois do merecido descanso, no domingo livre, aproveitei para passear em Mainz com a equipe do PublishNews, onde visitamos o Museu Gutenberg: uma viagem na história da prensa e da produção gráfica.

Agradeço a eles pela companhia e por me ajudarem a entender um pouco da malha ferroviária de Frankfurt, que tem pouco mais de 730 mil habitantes e uma infinidade de linhas de metrô e trem. A sensação é de que você pode cruzar o mundo pegando o metrô mais próximo de você.

Caminhamos pela pequena e charmosa Mainz, e ai chegar no Museu Gutemberg me deparei com o fato de que é curioso analisar o progresso industrial na área da produção gráfica, que outrora fora quase artesanal. Desde a produção dos ícones de letras e símbolos (que eram feitos com metal líquido em forma padrão para manter o mesmo formato e tamanho); passando pela pintura nos moldes para finalmente chegar à impressão propriamente dita. Uma arte!

Foi possível assistir à demonstração e, ao final, pude realizar minha própria obra de arte - ou impressão à moda antiga, rs!

Além disso, o museu traz uma linha do tempo dos processos de impressão da China, países islâmicos, dos tipos de papel e muitas outras curiosidades. A visita custa 5 euros por pessoa (ticket válido pelo dia todo) e vale a pena.

Frankfurt é uma cidade grande para os padrões europeus, mas pequena para quem é nascida e criada em São Paulo, como eu. E é aí que está o charme desta cidade.

As distâncias curtas e caminháveis deixaram os passeios sem rumo certo leves e agradáveis e... (no meio do caminho tinha um Euro; tinha um Euro no meio do caminho) passei pelo Banco Central Europeu e fiquei encantada com a beleza do Hotel Steigenberger, o tão falado Frankfurter Hoff. Mas o ponto alto deste pré-feira foi mesmo o encontro não-marcado dos colegas de mercado no alto da Galeria Kauf, um centro comercial famoso, que oferece um lounge para apreciar a vista da cidade, que estava especialmente bonita para recepcionar os profissionais do livro.

É bastante curioso como profissionais brasileiros, das mais diversas áreas e empresas, precisam se encontrar em outro país para se conhecerem e se reunirem para discutir o negócio do livro e assuntos comuns. Isso não aconteceria em São Paulo ou Rio de Janeiro. E deveria acontecer com mais frequência e pessoas: é sempre enriquecedor escutar o outro.

Entre um passeio turístico e outro, uma cerveja aqui e outra ali; tenho estudado as programações e roteiros da Feira. É a primeira vez que visito o evento e já estou calculando o tempo de deslocamento e preocupada com detalhes como: por qual porta devo entrar, como pegar minha credencial, será que vou me perder, entre outras questões.

É uma ansiedade boba, coisa de primeiro dia de aula na escola nova; sabe? Mas dá um frio na barriga!

Chegar no famoso centro de convenções não foi difícil: 20 breves minutos de caminhada e foi fácil de ver o monumental conjunto de prédios do Messe Frankfurt, que quase parece uma mini-cidade.

Obviamente entrei pelo pavilhão errado (minha entrada era no 4 e eu cheguei pelo 1), mas fui devidamente orientada e caminhei por dentro do complexo. O segundo desafio foi entender o credenciamento, porque o Business Club (área VIP para a qual ganhei o ingresso) ainda não estava aberto e a Feira ainda está em processo de montagem. Escadas rolantes, restaurantes, chapelarias. Pedi informações, segui as placas em inglês e... fui parar no local errado! Voltei, busquei e finalmente encontrei o credenciamento para o Rights Meeting, meu primeiro evento na Feira do Livro de Frankfurt.

Quando me senti mais tranquila, meu nome não foi localizado na lista (#minipanico) e recebi uma credencial escrita a mão. Achei uma solução personalizada e gostei!

O evento em si trouxe experiências de publicação e cenário de leitura da China e República Checa (vocês sabiam que 95% da população tem uma biblioteca em casa? Pois é!), além de perspectivas de venda de direitos on-line e blockchain.

A caminhada de volta foi acompanhada por uma garoa fina, que trouxe o frio (talvez não tenha errado tanto assim nas roupas, rs); e pela sensação de que estou pronta para encarar o primeiro dia real da minha primeira Feira do Livro de Frankfurt.

Nos vemos lá?

Estação central de Frankfurt
Estação central de Frankfurt

Eu, equipe do PublishNews e Larissa Caldin
Eu, equipe do PublishNews e Larissa Caldin


* Talita Camargo é jornalista, produtora editorial e livreira. Fundou com a irmã - Carol Camargo - a 2Books Distribuidora, é também gestora da Livraria do Comendador e foi eleita como um dos Jovens Talentos da Indústria do Livro em 2019. Essa é a sua primeira Feira do Livro de Frankfurt.

[16/10/2019 02:00:00]