O maior problema do varejo de livros é o baixo nível de tecnologia, aponta Ismael Borges
PublishNews, Luís Antonio Torelli, 22/03/2018
Gestor da ferramenta que monitora o varejo de livros no Brasil concedeu entrevista ao PublishNews

'Considero como maior problema o baixo nível de tecnologia aplicada ao processo de gestão e comercialização', aponta Ismael Borges em entrevista a Torelli
'Considero como maior problema o baixo nível de tecnologia aplicada ao processo de gestão e comercialização', aponta Ismael Borges em entrevista a Torelli

Segundo dados apurados pelo Bookscan, ferramenta que monitora o mercado varejista do livro no Brasil, o país vem vivendo, desde fevereiro do ano passado, uma retomada do crescimento nesse segmento. Conversamos com Ismael Borges, gestor da ferramenta, e ele dá algumas dicas de como o varejo de livros pode melhorar a sua performance. Ele sugere, por exemplo, que sejam feitos investimentos em inteligência da informação que pode evitar, por exemplo, quebras de estoque. Na conversa, que pode ser acessada na íntegra logo abaixo, ele compara o livro com outros mercados monitorados pela Nielsen e fala sobre o efeito da crise na cadeia do livro.

Quanto o mercado cresceu no varejo nos três primeiros meses de 2018?

Ismael Borges (IB): 2018 tem sido um ano de recuperação para o mercado editorial. O histórico do segmento livreiro não vinha bem há alguns anos. O faturamento de 2015 - em relação ao ano anterior, por exemplo, foi 8,15% menor, considerando inflação. Notamos que 2016 seguiu a tendência negativa e fechou com queda de 9,3%. Foi só em 2017 que o mercado assistiu sua primeira alta em anos, com 3,2% e crescimento real. Então, podemos dizer que esse ano (2018) começou muito bem, sendo que o acumulado até agora aponta crescimento de 12,32%, no mesmo período que a inflação está abaixo de 3%.

Na sua visão a crise econômica reflete primeiro nas livrarias ou nas editoras?

IB: Considerando que o varejo está em contato direto com o consumidor, esse é o primeiro a refletir indisposição ao consumo. Entretanto, as consequências também são imediatas para os outros entes da cadeia, ou seja, o efeito da crise não demora até atingir a indústria e fornecedores. O movimento contrário também é esperado, pois trata-se de um mercado caracterizado pela venda puxada, não empurrada.

Em comparação a faturamento com outros segmentos, o mercado livreiro fica em qual ranking?

IB: O tamanho do mercado do livro é relativamente pequeno quando comparado a outros mercados de bens de consumo. Dos 11 principais mercados auditados pela Nielsen, o livro é 9º maior.

Quais os principais problemas que você identifica no mercado livreiro?

IB: Considero como maior problema o baixo nível de tecnologia aplicada ao processo de gestão e comercialização. De certo que grandes redes já se valem do que há de melhor nesses quesitos, mas também é fato que o mercado geral começou a experimentar o verdadeiro benefício da informatização / integração recentemente. Iniciou pela aplicação dos sistemas de gestão de loja e integração das redes, abrindo caminho para meios que apoiassem o processo de comercialização, gerenciamento de estoque e de categorias. O uso de inteligência do mercado foi um tabu quebrado há poucos anos e ainda não foi alcançado pela maioria das médias e pequenas editoras.

Apesar da taxa de analfabetismo ter caído nos últimos anos, o Brasil ainda é formado por 44% de não leitores segundo dados da última pesquisa Retratos da Leitura no Brasil. A mesma pesquisa indica que 73% da população gosta de ler e que 22% dos entrevistados disseram que a leitura os ensina a viver melhor. Então, na sua opinião o que falta para que o Brasil avance nessa questão?

IB: São dois entes que precisamos entender: o leitor e o consumidor de livros. É claro que esses dois elementos são, na verdade, o mesmo indivíduo, mas essa diferenciação é necessária quando imaginamos que as iniciativas para o incentivo à leitura obedecem fórmulas diferentes. No que tange o consumidor de livros, o mercado editorial, seja pela indústria ou varejo, pode contribuir (e já contribui) com fórmulas mercadológicas para circular mais livros. Porém a verdadeira formação de leitores se dá em um âmbito mais amplo e, neste sentido, não acredito que exista um conselho fácil de dar ou aplicar. O esforço é conjunto e os resultados aparecem apenas no longo prazo. Esse esforço envolve a educação formal por meio das políticas públicas de incentivo à leitura, formação de professores e aparelhamento das escolas, além da influência dos pais dentro do lar. Neste ambiente, o mercado aparece com suas ações e boas práticas para a disponibilização do conteúdo adequado a cada público no momento ideal.

Quais são os conselhos da Nielsen para quem tem negócios no varejo?

IB: Investimento em inteligência da informação para dar suporte a todos os processos da indústria e do varejo. Aquisição de direitos autorais melhor aportada por dados prévios, projeção de impressão em linha com a demanda, previsão de tendências, não permitir quebra de estoque e muitas outras aplicações que podem tornar o mercado do livro mais inteligente e rentável.

[22/03/2018 09:15:12]