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Doria engata a marcha ré e descumpre a Lei n. 12.244/10
PublishNews, Volnei Canônica, 09/05/2017
Volnei Canônica analisa as últimas ações de incentivo à leitura e ao livro realizadas pela Prefeitura de São Paulo e conclui: 'o que vimos é que Doria e sua equipe engataram a marcha ré'

Prefeito João Doria visita uma creche da prefeitura na Zona Sul de São Paulo | © Leon Rodrigues / Secom
Prefeito João Doria visita uma creche da prefeitura na Zona Sul de São Paulo | © Leon Rodrigues / Secom

A cidade de São Paulo está vivendo um dos piores momentos dos últimos tempos em se tratando de uma política para a promoção do livro e da leitura. O prefeito João Doria e sua equipe estão diminuindo o acesso ao livro e à leitura do paulistano. Como bem diz Antônio Candido, a Literatura é um direito incompressível, ou seja, que não pode ser suprimido em detrimento de outros direitos. Literatura como Direito Humano, assim como alimentação, moradia, educação, entre outros.

Charles Cosac quando foi apresentado como diretor da Mário de Andrade. Em segundo plano, André Sturm, secretário de Cultura do município | © Sylvia Masini / Secretaria de Cultura
Charles Cosac quando foi apresentado como diretor da Mário de Andrade. Em segundo plano, André Sturm, secretário de Cultura do município | © Sylvia Masini / Secretaria de Cultura
Desde a chegada na gestão pública, Doria tem cometido um erro atrás do outro em se tratando de política para a leitura e a escrita. O primeiro erro: a nomeação de Charles Cosac para dirigir a Biblioteca Mário de Andrade. Desconheço qualquer trabalho anterior de Charles na gestão de um equipamento cultural. Dirigir uma das principais bibliotecas do Brasil sem ter experiência até poderia não ser tão desastroso. Mas o novo diretor da biblioteca tem se mostrado um gestor sem diálogo com a população, elitista. Basta ver sua decisão de suprimir o horário noturno da biblioteca sem justificativa sustentável, pior, alegando falta de público. Segundo entrevista dada pelo próprio Charles, ele pediu para que um alguém responsável por sua segurança, passasse uma noite na biblioteca contando quantas pessoas a frequentavam. Talvez seja do desconhecimento deste gestor que a biblioteca é um bem cultural vivo e que necessita de estratégias para trazer público. Em vez de fechar a biblioteca à noite, por que ele não se preocupou em aprimorar ações já existentes ou propor novas ações para que esse equipamento fosse ocupado? Para quem não entende ou não está disposto a fazer um investimento social dando acesso à leitura e à escrita, fechar uma biblioteca sempre será a solução "mais conveniente".

Outra ação da administração atual foi anunciar a privatização das bibliotecas públicas, disponibilizando a gestão destes equipamentos a terceiros. Esse é um risco muito grande para uma política pública nesta área, o prenúncio de um descompasso. Desde 2011, num movimento puxado pelas bibliotecas comunitárias do Polo LiteraSampa, realizou-se um processo de discussão, agregando muitos promotores da leitura e o poder público. Todo esse trabalho resultou na aprovação do Plano Municipal do Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas de São Paulo. Fato que Doria e seus secretários de Cultura e de Educação parecem desconhecer. Neste plano existem objetivos, metas, ações pensadas e realizadas por aqueles que trabalham no dia a dia para construir uma cidade mais politizada, onde o cidadão tenha acesso à informação, conhecimento e ficção. Talvez por isso, a gestão pública esteja "sentada em cima do plano".

Biblioteca Mário de Andrade, a maior da cidade de São Paulo e a segunda maior do Brasil, deixou de abrir ao público durante a noite | © Sylvia Masini / Secretaria de Cultura
Biblioteca Mário de Andrade, a maior da cidade de São Paulo e a segunda maior do Brasil, deixou de abrir ao público durante a noite | © Sylvia Masini / Secretaria de Cultura
Para aumentar os fatos descabidos, Doria apresentou um plano de desenvolvimento das bibliotecas que não traz nenhuma inovação. Mas que deixa claro o despreparo da equipe e o seu conceito sobre o equipamento cultural, o acesso e a promoção da leitura. Caro prefeito, nenhuma biblioteca deve renovar o seu acervo com doações. Isso mostra que você pensa que comprar livros é gasto e não investimento; que as bibliotecas não planejam suas compras, não sabem as necessidades dos leitores da comunidade que atende. Caro prefeito, tenho vários livros sobre gestão cultural, sobre a importância da educação e da cultura para lhe doar. Mas o senhor tem de me garantir que vai ler.

Na semana passada, foi anunciado mais um ato de desrespeito à educação, à cultura, ao leitor, ao cidadão. Para aumentar o número de salas de aula destinadas à educação infantil, o prefeito mandou fechar as brinquedotecas, salas de leitura e salas de informática. Um ato que vai contra os avanços que as creches e escolas infantis tinham conquistado. Um ato que vai contra a Lei n. 12.244/10 que exige que até 2020 toda instituição pública ou privada tenha uma biblioteca. Em nome do racionalismo (pragmatismo?), vamos alfabetizar e ensinar a somar - eliminando o lúdico, o prazer, a socialização, a filosofia, a ficção. Cortamos a necessidade da criança se expressar em troca de sílabas, de números e de uma gestão descomprometida com o humano, com a sociedade.

Buscar na palavra ou na imagem diferentes significados, diferentes formas de comunicação, diferentes possibilidades de se posicionar, parece não ser o projeto de Educação e Cultura desta gestão. Existem governos que ficam em ponto morto, outros engatam a primeira e nunca passam para a segunda ou a terceira. Mas até o momento o que vimos é que Doria e sua equipe engataram a marcha ré.

Volnei Canônica é formado em Comunicação Social – Relações Públicas pela Universidade de Caxias do Sul, com especialização em Literatura Infantil e Juvenil também pela Universidade de Caxias do Sul, e especialização em Literatura, Arte do Pensamento Contemporâneo pela PUC-RJ. É Presidente do Instituto de Leitura Quindim, Diretor do Clube de Leitura Quindim e ex-diretor de Livro, Leitura, Literatura e Bibliotecas, do Ministério da Cultura. Coordenou no Instituto C&A de Desenvolvimento Social o programa Prazer em Ler. Foi assessor na Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ). Na Secretaria Municipal de Cultura de Caxias do Sul, assessorou a criação do Programa Permanente de Estímulo à Leitura. o Livro Meu. Também foi jurado de vários prêmios literários.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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