Tenho estudado sobre hibridismo literário, inclusive, essa será uma das palestras do 1º Encontro Internacional de Escritoras em Lisboa, dia 31 de maio. Os livros não são estanques eles são movimentos vivos. É o que acontece com o Linha da vida: a costura de nós, romance de Monique de Magalhães.
A obra foi catalogada como contos pela editora Caravana e, na orelha do livro, temos um texto de Karine Asth, vencedora do Prêmio Jabuti de Literatura 2023, fazendo menção ao primeiro texto como capítulo.
Tais questionamentos me levaram a ler e analisar o livro com minúcia. Ler Linha da vida: a costura de nós, de Monique, é mergulhar num tear de histórias onde o tempo não é régua, mas sentimento. As personagens — tantas, múltiplas, ora inteiras, ora despedaçadas — nos tomam pela mão e nos conduzem por uma travessia que não é linear. Aqui, o tempo não obedece ao relógio, ele pulsa como ferida aberta, como memória que insiste em retornar.
Monique nos entrega um livro que não apenas narra dores, mas as borda com fios de poesia e verdade crua. É uma escrita que sabe que falar de violência, de abandono, de silenciamentos históricos, exige não apenas coragem, mas sensibilidade. E ela tem ambas. A autora costura destinos marcados por violências ancestrais com uma habilidade rara: a de revelar sem julgar, de mostrar o horror sem perder a beleza da linguagem.
Temas tabus, como: suicídio, depressão, abuso, violência doméstica e relações de poder atravessam a narrativa sem aviso. Mas não como choque gratuito — aqui, o impacto vem da sutileza. O horror é contado por entre gestos cotidianos, olhares fugidios, silêncios gritantes. É um livro que não nos permite passar ilesos — e essa é sua maior força.
Há algo de ritualístico na leitura deste livro. Como se, ao virar cada página, estivéssemos também desfazendo nós dentro de nós. Porque Linha da vida não é apenas sobre as personagens, é sobre a gente também. É um espelho que desafia, um grito que ecoa em silêncio, uma costura que, ao mesmo tempo em que revela os rasgos, também aponta o caminho para a cura.
Monique de Magalhães constrói um livro necessário, potente, que se inscreve na linhagem de uma literatura que se importa, que denuncia e que não se furta de ser também abraço.
Ela nos mostra que contar histórias é, sim, um ato político — mas, acima de tudo, é um ato de amor.
Indicação:
Linha da vida: a costura de nós, de Monique de Magalhães
Editora: Caravana
Páginas: 77
Vanessa Passos é escritora, roteirista, professora de escrita criativa, doutora em Literatura (UFC) e pós-doutora em Escrita Criativa (PUCRS), sob orientação de Luiz Antonio de Assis Brasil. É idealizadora do Programa 321escreva, do Método Mais Vendidos e do Encontro Nacional de Escritoras. Lidera uma comunidade de escritoras que tem voz em mais de 9 países, orientando centenas de escritoras a escrever, publicar e divulgar seus livros. Autora do volume de contos A mulher mais amada do mundo (2020). Seu romance de estreia A filha primitiva foi vencedor do Prêmio Kindle de Literatura (2021), do Prêmio Jacarandá (2022), do Prêmio Mozart Pereira Soares de Literatura (2023) e vai ser adaptado para o cinema pela Modo Operante Produções, agora publicado pela José Olympio. É colunista do Jornal O POVO e do PublishNews. Nas redes sociais, a escritora pode ser encontrada no perfil: @vanessapassos.voz.
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