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Apps de leituras: estas nossas desconhecidas
Publishnews, Carlo Carrenho, 17/02/2013
Carlo Carrenho fala sobre a falta de divulgação dos apps de leitura para Android ou iOS.

Quando se pensa em Amazon no Brasil, o Kindle é a primeira coisa que vem à mente. Quando se comenta os livros digitais da Livraria Cultura, os leitores dedicados da Kobo são a primeira coisa que alguém lembra. Talvez no caso da Saraiva, o consumidor até de lembre de seus aplicativos, mas aposto que primeiro vai se perguntar em que leitores e-Ink é possível ler os livros comprados na loja brasileira. Em outras palavras, os aplicativos de leitura estão esquecidos aqui no Brasil.

Eu sempre dou entrevistas e participo de painéis de discussão sobre livros digitais. Não me lembro de uma só vez em que se discutiu os aplicativos da Amazon e da Kobo. Às vezes compara-se a tela e-Ink dos leitores dedicados com as telas de retina dos tablets, como aconteceu na última Campus Party no Anhembi, mas os aplicativos ficam à margem. E ler o iPad tem se tornado sinônimo de compras de e-books na iBookstore.

Não é à toa, portanto, que a Apple seja líder de mercado no Brasil na venda de e-books, pois aproveita sua base instalada de quase 3 milhões de dispositivos iOS no país. Vale aqui relembrar o tamanho da base de dispositivos Android e iOS no Brasil, estimada na coluna A Apple e seus quase 3 milhões de iPhones e iPads no Brasil:

Com quase 14 milhões de smartphones ou tablets com sistema iOS e Android, é realmente uma surpresa que as e-bookstores não promovam seus aplicativos para tais aparelhos.

Mais paradoxal ainda é que o aplicativo de leitura da Apple, oiBooks, é um dos mais limitados entre os que existem à disposição no ecossistema iOS. O aplicativo da Kobo, por exemplo, é totalmente integrado às mídias sociais, especialmente o Facebook, e ainda é possível se conectar a amigos, visualizar estatísticas e ganhar prêmios dentro de uma plataforma social própria, a Reading Life. E ainda existe o Kobo Pulse, um indicador no pé da página que fica maior e mais brilhante se o leitor está lendo um trecho com mais comentários ou atividades dos leitores acima da média.

O aplicativo da Amazon, o Kindle para iOS, também me parece superior ao iBooks. De maneira geral, ele é bastante estável, rápido e fácil de usar. Mas para ficar em apenas uma vantagem isolada, última versão do Kindle para iOS, a 3.6, permite marcação de texto com várias cores, permitindo ao leitor categorizar suas marcações. Esta ferramenta, aliás, é uma espécie de marco, pois pela primeira vez a Amazon oferece algo que só funcionará nos aplicativos e nào nos leitores Kindle dedicados, como bem apontou Nate Hoffelder em seu blog The Digital Reader. Já o aplicativo da Saraiva deixa a desejar mesmo se comparado ao iBooks, mas nada impede que a empresa brasileira invista um pouco mais e turbine seu Saraiva Reader.

Vale aqui lembrar uma discussão importante: será que os leitores dedicados terão uma penetração relevante no mercado brasileiro? Ou será que a grande maioria dos consumidores vai optar pelos tablets? Nos EUA, já há indícios e pesquisas apontando a queda de venda de leitores de e-Ink. Além disso, enquanto o Kindle e o Sony Reader surgiram antes do iPhone e do iPad na terra do Tio Sam, aqui no Brasil os leitores dedicados estão chegando depois de mais de 2 milhões de tablets já estarem espalhados país afora. Ou seja, por aqui não houve nem haverá um período de monopólio dos leitores e-Ink.

Outro detalhe: a questão econômica. Para valer a pena ter um aparelho exclusivamente para leitura de e-books, o consumidor ter que ser o que os americanos chamam de heavy reader. Ou seja, tem de comprar e ler muitos livros. Infelizmente, o número desse tipo de leitor no Brasil, país onde, segundo a pesquisa Retratos da Leitura de 2011, apenas 50% da população leu pelo menos um livro ao longo de três meses e onde a média de livros lidos por trimestre e 1,85 - que cai para 0,82 se considerarmos livros inteiros.

Por esses motivos, eu acredito que o aparelho de leitura brasileiro será o tablet e, em segundo lugar, o smartphone. Os e-readers dedicados têm um papel de marketing importante, ao conquistar espaço nas livrarias e aparecerem na mão de formadores de opinião. Aquele primo nerd sempre vai ter um Kindle ou Kobo, mas o resto da família vai usar aparelhos multifuncionais para a leitura. Vale dizer que executivos como Michael Serbinis, CEO da Kobo, e David Naggar, diretor da Amazon, têm uma opinião diferente da minha e acreditam em um papel mais importante dos leitores dedicados no Brasil, segundo conversas que eu tive com eles.

Ainda assim, diante deste cenário, eu não sei o que a Amazon e a Kobo estão esperando para promoverem mais seus respectivos aplicativos. Deveriam fazer pop-ups nos sites, outdoors, comprar páginas de revista e patrocinar trios elétricos focando nos 14 milhões de usuários de aparelhos com iOS ou Android. Deveriam ser explícitos. "Kobo, o melhor app de leitura para quem tem iPad" seria uma boa chamada. Ou então: "Kindle, o melhor jeito de ler em seu iPhone". A Saraiva, por sua vez, que talvez tão acertadamente talvez perdeu tempo nem dinheiro para desenvolver um dispositivo próprio, poderia agora investir em uma plataforma moderna e com recursos brasileiros, que os gringos demorariam a imitar. Por quê não uma integração com o Skoob? Ou com as resenhar da Folha e do Globo? E as três empresas e mesmo outras, como Google e Iba, deveriam encontrar formas de ter seus aplicativos já embarcados nos tablets e smartphones Android, mas sempre com grande visibilidade.

E um detalhe da tabela acima: enquanto os aparelhos com iOS não chegam a 3 milhões no país, os aparelhos Android são quase 11 milhões! E há quase o dobro de tablets Android do que de iPads! E este público de Android não pode comprar nada na Apple, mas talvez poucos saibam que podem ler os e-books da Kobo/Cultura, Amazon e Saraiva em seus aparelhos!

Enfim, acho que é hora de esquecer o charme dos leitores dedicados e promover os aplicativos de leitura para iOS e, principalmente, para Android. Enquanto ninguém fizer isso, a Apple vai nadar de braçada sem equipe local, vendendo em dólar no cartão internacional e ainda provocando incidência de IOF.

Carlo Carrenho é o fundador do PublishNews no Brasil e co-fundador do PublishNews na Espanha. Formado em Economia pela FEA-USP, especializou-se em Edição de Livros e Revistas no Radcliffe Publishing Course, em Cambridge (EUA). Atualmente trabalha na área de desenvolvimento internacional de novos negócios para a Word Audio Publishing International na Suécia e é advisor da Meta Brasil e da BR75 no Brasil. Como especialista no mercado de livros, já foi convidado para dar palestras e participar de mesas em países como EUA, Alemanha, China, África do Sul, Inglaterra e Emirados Árabes, entre outros. É co-curador da conferência profissional Feira do Livro de Tessalônica.

Carlo é paulista, morou no Rio, e atualmente vive em Estocolmo, na Suécia. É cristão, mas estudou em escola judaica. É brasileiro, mas ama a Escandinávia. Enfim, sua vida tende à contradição. Talvez por isso ele torça para o Flamengo e adore o seriado Blue Bloods.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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