Marisa Moura tem, desde 2015, trazido diálogos vividos entre a Faxi, a funcionária bem-humorada de uma agência literária fictícia, e os mais diversos tipos que habitam o mundo do livro: autores, editores, outros agentes etc. Dessa vez, o telefone toca às 8h30 da manhã. Do outro lado da linha, um autor desesperado porque fez algo que não devia ter feito e agora precisa avisar à agente, mas não sabe como fazer. Quer que a Faxi o ajude. Será que ele vai se livrar dessa encrenca?
— Agência...
— Faxi! Eu fiz...
— Literária...
— Presta atenção...
— Bom dia!
— Você ouviu que eu fiz aquilo?
— Fez aquilo as oito e trinta da manhã?
— Não Faxi. Não hoje.
— Ufa. E quando você fez aquilo?
— Segundo o teste, 6 semanas atrás.
— Eba quero ser madrinha!
— É muito sério, Faxi. Fiz aquilo com o editor que não assinei contrato.
— Como assim? Do que você está falando? Enlouqueceu? Vai tomar um litro de café e depois me liga quando parar de imaginar bobagens.
— Faxi, preciso avisar a agente e nem sei como...
— Muito menos eu. E avisa quando vai falar com ela, porque vou faltar esse dia sem justa causa.
— Você acha que ela vai ficar brava?
— Imagina. Ela vai perguntar: foi bom para você?
— Não é para ironizar. É sério.
— Acho melhor você fazer parte da lista de mães independentes do que falar para ela quem é o pai...
— Pensei nisso. Mas o futuro pai, ameaçou que se eu não falar para a agente, ele liga para ela e solta um monte de absurdos. E está exigindo rescisão de contrato com o outro editor.
— Não sabia que já tinham juntado todos os absurdos num dicionário. Quando fizeram isso?
— Faxi, você viu a capa maravilhosa que fizeram para o meu livro? E a preparadora, acho que vou casar com ela, assim nunca mais sai erros nos meus livros. Mas o pai não quer saber dessas coisas.
— Preciso desse dicionário. Faria a festa com esses absurdos nos bailes barulhentos do meu bairro.
— Faxi, que parte que você não entendeu que não é piada? Aí eu posso reescrever.
— Não sei, se entendi ou não entendi demais da conta.
— Pois é... que encrenca me meti.
— A agente está mexendo na porta, vou passar para ela.
Beep, beep, beep.
A formação de Marisa Moura começou pela graduação em Letras na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, onde assumiu sua paixão pela literatura, da criação à produção. Marisa sentia necessidade de aprofundar-se em Marketing Cultural para Literatura Brasileira, o que fez no mestrado da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP). Com a ideia fixa de trabalhar com literatura brasileira, abriu a sua agência, a Zigurate, em 1994 e não parou mais. Sua coluna reflete sobre o trabalho do agente literário, um profissional atuante nas negociações de direitos autorais internacionais e nacionais e já presente no mercado editorial
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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