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Retrato de Zoara
PublishNews, Leonardo Neto, 03/12/2020
Zoara Failla, gerente de projetos do Instituto Pró-Livro, encerra a temporada do PublishNews Entrevista, contando as mil aventuras que viveu, não só no livro, mas em Guiné-Bissau e como vice-presidente da Febem, numa época explosiva.

“Por que será que o livro é tão ameaçador?”. É com essa pergunta que começa a conversa que Zoara Failla teve com André Argolo no episódio que encerra a temporada do PublishNews Entrevista, programa da PublishNewsTV que perfilou 79 personalidades que trabalham nos mais diferentes campos da indústria editorial brasileira. A gerente de projetos do Instituto Pró-Livro (IPL) respondeu: “Quem tenta queimar livros ou te distanciar dos livros tem a perfeita dimensão do quanto ele é perigoso, porque ele te possibilita avaliar e criticar aquilo que te chega”.

A “italianinha do Brás”, como era chamada pelo pai, teve uma infância nômade dentro da região metropolitana de São Paulo. Passou por diversos bairros e cidades conurbadas à Metrópole, mas foi em Araraquara que ela se desenvolveu como militante de causas sociais. Foi lá que ingressou na faculdade de Sociologia que lhe deu base para o que vinha a seguir.

Na entrevista, ela conta como era o clima da efervescente Araraquara. Participava de grupos de amigos revolucionários e contestadores, num ambiente, muitas vezes, pontuado pelo medo. Se envolveu com festivais de música e de teatro, participou de centro estudantil e até chegou a produzir um filme - Aquele que dizia sim passou a dizer não – inspirado na poesia de Brecht. Chegou a parar na delegacia por conta dessa aventura.

Aventura. Essa é uma palavra que aparece muito na história. Lembra de quando o pai foi acometido por um problema de saúde que lhe causou uma amnésia temporária. Ela e a mãe assumiram o trabalho no abatedouro de frangos da família. Os amigos – os revolucionários e contestadores – estavam juntos, ajudando a transportar os animais abatidos em uma kombi.

A primeira experiência profissional na sociologia foi ajudando a realizar uma pesquisa que media o impacto do antigo Mobral na mobilização social das pessoas. Nos anos de chumbo, o sociólogo tinha poucas possibilidades de trabalho. Deu aula para alunos secundaristas, mas foi na Fundação Estadual de Desenvolvimento Administrativo que começou a desenvolver uma carreira na área de Recursos Humanos. Nessa época, trabalhou com os cinco Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (Palop), grupo formado por Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Guiné-Bissau, onde, inclusive passou uma temporada. Novamente, uma aventura num país tribal. Sua missão ali era formar formadores (isso mesmo) de gestores do país.

Saiu da Fundação Estadual de Desenvolvimento Administrativo para coordenar programas técnicos na antiga Febem. Levou para lá uma proposta de formação que incluía um programa de dois meses para quem estava sendo contratado para as novas unidades de ressocialização de menores. Era uma época de tensão, com rebeliões recorrentes. Chegou a ser ameaçada, mas mesmo assim, assumiu a vice-presidência da Febem. Durou pouco. Só três meses que passou sem dormir praticamente, contou.

Dali, seguiu para liderar um programa de melhoria do ensino médio, com investimentos polpudos do Banco Interamericano, com orçamentos para a compra de livros, formação de professores e outras tantas rubricas. Ali foi que teve o primeiro contato com a indústria do livro e foi isso que a levou ao Instituto Pró-Livro.

“Não tive mais que lidar com ameaças”, contou rindo. No IPL, ela conta que conseguiu usar, plenamente, o que tinha aprendido como socióloga. “A Pesquisa [Retratos da Leitura] foi um reencontro com a Sociologia”, disse no papo com Argolo.

A partir deste ponto, a “Indiana Jones da militância do livro” passou a fazer análises importantes sobre os resultados recentes da Pesquisa Retratos da Leitura cuja edição de 2020 foram recentemente divulgados. O Brasil perdeu 4,6 milhões de leitores nos últimos quatro anos e hoje, somos parte dos 52% considerados leitores no país. Mas Zoara ressalta que esses 52% é o topo do funil. O índice baixa para 31% quando são considerados apenas os leitores que leram pelo menos um livro inteiro nos últimos três meses. Na base do funil, estão os leitores de literatura, apenas 21% da população brasileira.

“A grande maioria não teve nem a chance de desenvolver essa habilidade [a da leitura]. Ele foi excluído até da possibilidade de escolha”, diz sobre esse enorme contingente de não leitores no país. “Se a gente não reverter esse retrato, eu acho difícil a gente evoluir em termos humanos e sociais”, avaliou a socióloga. “A gente vive uma nova escravidão. É uma escravidão que te tira o direito de pensar, de conhecer, de até mesmo sonhar com outro futuro. Eu acho muito triste o que a gente tá vivendo hoje”, continuou. “Faltam políticas que pensem num projeto de nação mais humana e mais desenvolvida”, completou.

Por outro lado, Zoara consegue enxergar um lado positivo disso tudo. “Os 20% que leem são muito barulhentos”, disse. Pra ela, essa resistência é um ponto de luz que faz acreditar que a gente consegue transformar. Que ela esteja certa.

Fim da temporada

O programa com a Zoara encerra a temporada do PublishNews Entrevista iniciada em março de 2019. Foram 79 programas com editores, livreiros, autores, distribuidores, curadores e uma gama enorme de personalidades que contaram um pouco de suas vidas da sua relação com o livro. O acervo completo continuará para a posteridade numa lista de reprodução no YouTube.

Para 2021, quando o PN completa 20 anos, estão sendo pensadas novas atrações que farão parte da PublishNews Entrevista.

A PublishNewsTV reúne entrevistas e reportagens especiais do PublishNews

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