
A coletânea do contos Rebu foi obra vencedora do VI Prêmio Caio Fernando Abreu de Literatura de Marina Monteiro. A obra apresenta contos cujas histórias "desarrumam o mundo por meio de personagens que deslocam fronteiras": a menina-bruxa que reorganiza o colégio; a sapatona octogenária que reinventa o teatro de rua; a viajante que atravessa o deserto do Atacama em busca de uma versão inédita de si. A comunicação do Mix Literário define que a escrita do título "combina humor, fabulação, teatralidade, política e desobediência formal, revelando uma autora de imaginação poderosa e linguagem pulsante". Rebu será publicado pela Editora Reformatório, parceira histórica do prêmio.
Dar tempo ao tempo

Ao PublishNews, a vencedora tatiana nascimento diz que já acompanhava o Mix de cinema desde seus primórdios. Ela celebra o reconhecimento de sua obra dentro de premiações ditas "nichadas" pela representatividade de ter uma obra valorizada em meio a uma comunidade que se reconhece e se preza: "Faz tempo que sabemos que antes que outros olhares, especialmente os colonizados pela cisheteronormatividade e pelo racismo, consigam nos enxergar em nossa grandeza e plenitude, que é como nos vemos. ou melhor, como aprendemos a nos ver, quando nos libertamos da opressão de viver segundo as normas, e em busca do reconhecimento, dos sistemas de mundo que, como disse audre lorde, 'sequer esperavam que sobrevivêssemos' — quem dirá vivermos, viver e sonhar, e criar arte a partir de nossos próprios termos", diz. A autora também é fundadora da padê editorial, que publica em seu catálogo as obras de pessoas negras LGBTQIAPNb+.
Água de maré recebe o prêmio de melhor livro queer do ano 14 anos depois de começar a ser produzido. tatiana coloca que vê nesse feito uma lição de que as coisas são reveladas no momento em que são possíveis de ser compreendidas.

Menção honrosa
O júri também concedeu Menção Honrosa do Prêmio Mix Literário a Samba fandango, de Andreas Chamorro, obra que reposiciona as ficções de favela a partir de corpos dissidentes, como travestis, prostitutas e gays, que decidem assaltar um carro-forte e enfrentar uma facção criminosa. Embora o enredo policial componha a superfície, o romance mergulha em linhagens familiares, pactos espirituais, afetos brutais e uma mitologia própria, onde violência e ternura se entrelaçam. Com oralidade vibrante e construção ousada, Chamorro consolida seu lugar entre os autores mais originais do país, renovando o romance urbano brasileiro com vigor e imaginação.

Juntas, as três obras premiadas delineiam um panorama vibrante da literatura queer brasileira em 2025: múltipla, insurgente, inventiva, capaz de reinventar tradições, ampliar imaginários e recentrar vidas que historicamente foram silenciadas.






