"E diz muito que seja um prêmio nascido em uma atmosfera dissidente, e numa editora que nutre, faz tempo, o compromisso de publicar autoriaS negraS. Também me parece muito significativo um prêmio sudestino, logo em sua primeira edição, selecionar uma autora centro-oestina (re)contando histórias de paixões lésbicas vividas numa cidade nordestina imaginária, que mora apenas na minha lembrança e na memória dessas páginas".
Água de maré parte de um conhecimento das epistemologias iorubás para trilhar a narrativa de duas irmãs, na periferia de uma Salvador inventada, que se amam, mas são muito diferentes, como Exu e Odoyá. A obra explora diversos tipos de narração, com traços estilísticos da poesia e do teatro, em uma escrita toda construída em caixa baixa.
Para Luciany Aparecida, escritora, professora universitária e jurada do Prêmio Pallas, o livro vencedor "é um romance notável, que se destaca pela inventividade da linguagem e composição complexa das personagens. Mitologia dos orixás, abandono parental, primeiro amor, violência urbana são temas ondulares que movimentam a narrativa. Esse livro nos envolve de modo inesperado e forte como a chegada das águas do mar".
"Água de maré se destacou pela inventividade ao narrar a história das irmãs Antônia e Nereci, impactando e desafiando a nós, do júri, com um texto visceral, denunciativo e que faz pouquíssimas concessões", complementa o escritor, tradutor e roteirista Bruno Ribeiro, outro jurado do Prêmio Pallas de Literatura, lançado para comemorar os 50 anos da editora carioca.
Escolhido para ser o curador desta primeira edição do prêmio, o escritor Henrique Rodrigues tem muita experiência no segmento e comemora a escolha de Tatiana Nascimento: "Esse resultado é excelente, revelando que o Prêmio Pallas começou com o pé direito. Tatiana já é uma grande artista da palavra na poesia e na música, e a estreia com Água de maré vai ampliar a sua voz literária em formas expressivas que só o romance permite".