Coleção Orixás é ampliada com livros dedicados a Ossaim e Oxóssi
PublishNews, Redação, 02/12/2025
Rogério Athayde escreveu sobre o orixá das folhas e a dupla Vagner Gonçalves da Silva e José Pedro da Silva Neto, sobre o orixá caçador

Capas dos dois lançamentos da Pallas
Capas dos dois lançamentos da Pallas
A Pallas Editora amplia a sua conhecida Coleção Orixás com o lançamento de mais dois volumes. Ossaim — O senhor das folhas (296 páginas, R$ 52), escrito por Rogério Athayde, e Oxóssi — o caçador divino (176 páginas, R$ 45), obra de Vagner Gonçalves da Silva e José Pedro da Silva Neto.

O primeiro representa um acontecimento editorial raro: é o primeiro título inteiramente dedicado a Ossaim enquanto divindade — e não apenas às folhas associadas a ele, preenchendo uma lacuna histórica na literatura sobre as religiões de matriz africana no Brasil. Já o segundo reconstrói, com rigor acadêmico e sensibilidade ritual, a trajetória de Oxóssi caçador desde as suas raízes na África Ocidental até a sua centralidade nos terreiros brasileiros.

Ossaim será lançado na próxima quinta (4), às 19h, na Blooks Livraria (Praia de Botafogo, 316, em Botafogo, no Rio), com bate-papo entre o autor e Luiz Rufino, seguido pelos autógrafos. E Oxóssi será na terça (10), às 17h30, com entrada gratuita, no Centro MariAntonia da Universidade São Paulo (Rua Maria Antônia, 294, Vila Buarque). Antes de receber os leitores para o abraço e o autógrafo, José Pedro e Vagner, que é professor da USP, vão coordenar, a partir das 14h, o seminário “Oxóssi: O caçador divino entre humanos e natureza”, aberto para o público e com entrada gratuita.

Embora Ossaim seja reconhecido como o guardião das folhas, da cura e do feitiço, a sua figura permanece envolta em silêncio e mistério. Todas as obras publicadas até agora sobre o tema abordam somente o poder das ervas e os seus usos litúrgicos, deixando o orixá em segundo plano. “Um livro sobre Ossaim. Mas já não havia livros sobre Ossaim? Não, não havia”, afirma Rogério já nas palavras iniciais do livro, sinalizando a importância de olhar para o orixá além da botânica sagrada.

No candomblé, a máxima kosi ewé, kosi orisá (“sem folha, não há orixá”) tornou Ossaim presença constante nos textos que tratam de liturgias, banhos, rezas e obrigações. Entretanto, as dimensões simbólicas, mitológicas e filosóficas do orixá — como as suas histórias, cores, objetos, comidas rituais e como se relaciona com outras divindades — nunca haviam sido reunidas e analisadas em profundidade. O prefácio amoroso é do mestre Renato Noguera.

É justamente essa travessia que o sobrinho-neto do imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), Austregésilo de Athayde (1898-1993) propõe. Babalawo, professor universitário, escritor e doutor, Rogério conduz o leitor pela seara de Ossaim com precisão ritual e sensibilidade poética. O seu livro não pretende revelar o que a tradição guarda, mas apresentar fundamentos e aproximar o leitor da cosmologia iorubana que sustenta o orixá das folhas.

“Gente graúda, com anos e anos de pesquisa, já publicou excelente material sobre as folhas, seus usos medicinais e mágicos. O que é muito, muito importante, sem dúvida. Mas não é o que pretendo fazer aqui. Este será um livro sobre Ossaim, o que sabemos ou não sobre ele, o que dizem dele, as confusões feitas com seu nome, suas coisas e suas histórias", adianta Rogério na introdução de Ossaim — O senhor das folhas.

Entre os iorubás, Oxóssi é o orixá da caça, das florestas, da fartura e da proteção, associado à sabedoria ancestral que ensina o equilíbrio entre humanos, divindades, animais e plantas. No Brasil, a sua presença se tornou determinante na formação do candomblé — especialmente na tradição Ketu — e dialogou também com outras matrizes africanas e afro-brasileiras, além de influenciar a umbanda e os cultos de caboclos.

O livro conduz o leitor por essa travessia: das cidades africanas de Ketu, Ilê-Ifé e Oió às matas brasileiras que ressignificaram o culto ao caçador divino. Traz narrativas míticas, etimologias, ritos, insígnias, folhas, oferendas, cantigas, vestimentas e festividades, situando Oxóssi no amplo diálogo que atravessa oceanos e séculos.

É como assinala Rosenilton Silva de Oliveira no prefácio: “O gesto de narrar Oxóssi é também o gesto de narrar a persistência da vida, da astúcia e da proteção que sustenta comunidades inteiras”, indicando a força simbólica deste orixá para diferentes gerações.

Com uma escrita clara e historiograficamente robusta, os autores detalham não apenas a figura do orixá, mas a complexidade cultural e política que moldou a sua devoção. O leitor acompanha o percurso do culto africano às recriações afro-americanas, compreendendo como Oxóssi se consolidou como símbolo de resistência, ancestralidade e identidade.

Coleção histórica ganha novo fôlego

Com a chegada deste Ossaim e de Oxóssi, a Coleção Orixás se encaminha para a reta final. Ela vem sendo publicada aos poucos pela Pallas Editora há mais de duas décadas e é referência na bibliografia afro-brasileira contemporânea.

Iniciada por nomes como Nei Lopes (Logunedé), Helena Theodoro (Iansã), Reginaldo Prandi (Ogum) e Armando Vallado (Iemanjá), e o supracitado Vagner Gonçalves da Silva (Exu) a coletânea de livrinhos se consolidou como espaço de divulgação qualificada de estudos, narrativas e reflexões sobre o panteão iorubano e as suas ramificações no Brasil.

[02/12/2025 09:09:56]