Os murais com os slogans da edição de 2024 da Feira do Livro de Frankfurt, “Ler é uma expressão de liberdade”, se assomavam em seu rosa forte avermelhado enquanto eu procurava as histórias que só me encontrariam no último dia do evento.
No pavilhão quatro, cruzei pela Artist's Alley, onde artistas independentes bolavam estratégias como jogos e brincadeiras para atrair os visitantes, e pelos estandes de diversos países do continente Africano e da Europa. O estande da Ucrânia tinha um espaço para debates, e um nicho destacava obras apenas focadas na guerra com a Rússia; sinais dos tempos. Parei também no Museu de Gutemberg, que incentivava leitores a mergulharem nos primórdios da imprensa, despertando a curiosidade de crianças e adultos.
Se no domingo os estandes internacionais se esvaziavam sem os negócios habituais da semana, o pavilhão três, de literatura infantojuvenil e Jovem Adulto, fervilhava. Pessoas de todas as idades lotavam os corredores, se dividindo entre ativações lúdicas e em filas de acesso às paradas mais disputadas, como a florida editora LYX, focada em literatura jovem escrita por mulheres. Entre as editoras alemãs, desvendei com a ajuda de Andréa Heath, um cantinho genuinamente brasileiro: a editora Fafalag.

Fátima me recebeu com abraços e orgulho em seu estande de poucos metros quadrados, mas gigante em histórias. Em mais de uma ocasião, brasileiros passaram ali. Ouvi sua história entre uma pausa e outra, tomando nota. “Por causa da Mala de Herança”, Fátima contou, “meus livros foram lidos em vários países. Isso me deu segurança no meu poder como criadora e mulher negra.” A Mala de Herança é um projeto de outra brasileira que vive na Alemanha, a Andréa, cujo encontro narro na primeira parte deste diário.

Em 2018, teve sua primeira experiência em Frankfurt. Em 2019, a convite do governo da Baviera, na Alemanha, foi convidada a integrar o grupo de editoras exclusivamente alemãs na Feira do Livro de Bolonha. “Os brasileiros passam e eu estou lá nesses estandes, representando. Nós estamos aqui e podemos mover a estrutura.” A Fafalag se expande com a publicação de outras mulheres negras de diferentes partes do mundo, com ênfase na literatura infantil. Uma das novidades é A menina que engoliu uma semente, de Andreza Felix.
O plano de Fátima Nascimento, sua missão e propósito, é semear arte e ampliar o acesso de mulheres brasileiras à publicação na Alemanha. “Quero levar essas mulheres ao topo. Quero levá-las comigo.”
Essa história continua na terceira e última parte do diário de Pedro Rhuas por Frankfurt, em que o autor se depara com tendências da literatura jovem e adulta.



