No final de 2019, quando planejava abrir uma nova editora, tomei um café com o Leonardo Pinto Silva, tradutor do norueguês. Expliquei meus planos: encontrar os títulos premiados da literatura norueguesa contemporânea inéditos em português, comprar os direitos e publicá-los no Brasil. Criar um selo, dedicado à literatura escandinava. Ele adorou a ideia, me colocou em contato com a agência de promoção da literatura norueguesa (a Norla), com os agentes literários, mas confessou seu desânimo. Apesar de todo o suporte oferecido pelo governo norueguês, ano após ano se publicava menos títulos no Brasil. Os números de vendas eram fracos, os editores se empolgavam, mas logo os projetos eram descontinuados. Ele já havia encontrado outros editores, igualmente entusiasmados, mas todos haviam deixado a literatura escandinava de lado. Naquele ano, apesar do seu amplo domínio do idioma e de já ter traduzido nomes como Karl Ove Knausgård e Jostein Gaarder, ele havia traduzido apenas um título.
Na mesma época, conheci o Luciano Dutra e o Daniel Dago, tradutores do sueco e holandês. As queixas do Luciano eram as mesmas: poucos projetos apesar do suporte oferecido pela Suécia. O Daniel Dago enfrentava outros problemas: a agência de promoção da literatura holandesa tinha um processo seletivo bastante complicado, que dificultava a entrada de novos tradutores. Apesar de seu domínio do idioma, dos projetos de promoção da literatura holandesa que tinha capitaneado (como o barco holandês, na FLIP de 2019), a Fundação Holandesa utilizava tradutores de Portugal para avaliar os candidatos brasileiros. Há anos, não aprovava ninguém.
Naquela ocasião, insisti com o Leonardo, o Luciano e o Daniel em algo que acredito muito: Vamos bater na porta, uma hora ela abre. Bater e bater e bater. Lançamos os primeiros títulos e logo conseguimos um bom destaque. A Linda Boström Knausgård, autora sueca à época inédita no Brasil, foi resenhada por todos os grandes veículos. O primeiro título que publicamos, A pequena outubrista, vende bem até hoje. Na literatura norueguesa, o retorno significativo veio no terceiro título, Lugar Nenhum — Um atlas de países que deixaram de existir. A primeira edição se esgotou em poucas semanas. E um título holandês, Este post precisou ser removido, foi adotado por um clube de leitura, que comprou toda a primeira edição.
Há também os editores. O Cauê Ameni, conheci em 2005, em um bar na Augusta, contando sobre como conseguia livros em consignação para vender em sua livraria na PUC. Hoje ele dirige a Autonomia Literária, uma das mais importantes editoras de esquerda do País. A Laura di Pietro, da Tabla, com quem conversei pela primeira vez no podcast do PublishNews, logo depois venceu o mais importante prêmio editorial do mundo árabe. Dois anos atrás, jantei com o Leopoldo Cavalcante, que lançava uma newsletter sobre literatura. O projeto cresceu e se transformou na editora Aboio. Em comum entre os três, diversos livros que não venderam, festivais sem público, recusas em editais — e garra.
É claro que, em 15 anos de mercado editorial, vi carreiras que jamais decolaram, projetos lindos que deram errado. A lição que extraio diariamente, contudo, é a de que é preciso seguir batendo nas portas. Vi mais portas se abrirem do que se fecharem, vi que a insistência dá resultado, vi que gente talentosa e que acredita no que está fazendo encontra o seu espaço.
N'A Feira do Livro de 2024, conheci duas autoras que estavam iniciando a carreira. Eram a Carolina Zweig, autora de A herança do agente funerário (Caravana) e a Elisa Calado, autora de Essa avenida ainda me mastiga (Patuá). Fui à festa de inauguração da editora Madame Psicose, do João Lucas Dusi. E publiquei os primeiros trabalhos de dois tradutores do árabe: Nisreene Matar e Mohamed Elshenawy.
Daqui a dez anos, espero escrever sobre eles.
Leonardo Garzaro é escritor, editor e jornalista. Paulista, nascido em 1983, fundou diferentes editoras independentes e editou dezenas de livros. Seu primeiro romance, o infantojuvenil O sorriso do leão, teve os direitos vendidos para editoras de seis países, com traduções para o inglês, espanhol, turco e árabe. Alguns de seus contos foram publicados na premiada revista norte-americana Literal Latin Voices. É consultor de literatura brasileira das editoras Interzona, da Argentina; Arlequin Ediciones, do México; e Corredor Sur, do Equador. Lançou em 2022 O guardião de nomes, que foi elencado como um dos melhores romances de 2022 pelo Suplemento Literário Pernambuco.
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