
Diversas autoridades presentes do Brasil e Colômbia participaram da inauguração do evento como Balbino Daniel de Paula Alapini, sacerdote supremo do culto a Egungun da Tradição de Itaparica; José Raimundo Lima Chaves “Pai Pote”, presidente da Associação Beneficiente Bembé do Mercado; Leonardo Moraes, gerente de Ações Educativas do Departamento Nacional do Sesc; Diana Castro, editora executiva da Fundação El Malpensante; Catherine Dunga, diretora da Fundação Kitambo; Laura de la Rosa Solano, coordenadora do grupo de Estudos Afrocolombianos da Universidade Nacional da Colômbia; Kátia Regis, coordenadora geral da Coordenação de Justiça racial do Ministério de Igualdade Racial do Brasil; Paulo Estivallet de Mesquita, embaixador do Brasil na Colômbia, entre outras autoridades.
“É a segunda vez desde que estou na Colômbia e que apoiamos eventos da cultura afro-brasileira e afrocolombiana. A ideia destes encontros é antes de qualquer outra coisa aumentar a consciência de brasileiros e colombianos da história da cultura em nível multicultural, em primeiro lugar apara entender melhor os dois países, mas para que a partir de agora nós possamos construir juntos uma história afro-colombo brasileira”, discursou na abertura do evento o embaixador do Brasil na Colômbia Paulo de Mesquita.
Seguindo o discurso, o professor Marcos Ramos, organizador e curador do evento, reafirmou a necessidade do Ciclo Afro como parte de um projeto amplo, a fim de realizar um “discurso profundo para reformular o marco acadêmico atual e incorporar os conhecimentos e formulações técnicas desenvolvidas pelas dinâmicas próprias das diásporas africanas, pois como sabemos não ocuparam o centro deste debate”.
Além disso, citou nomes de intelectuais fundamentais do Brasil e da Colômbia como o brasileiro escritor e professor universitário Abdias Nascimento e o escritor colombiano Manoel Zapata Olivella, que em 1977 e 1982, junto a outros intelectuais, organizaram três congressos da Cultura das Américas em Calli (Colômbia), na cidade do Panamá e finalmente em São Paulo, mas que “lamentavelmente a maioria dos colombianos não conhecem Abdias do Nascimento e a maioria dos brasileiros não conhecem Manoel Zapata Olivella”.
“Neste sentido, o Ciclo Afro deste ano tem como objetivo restabelecer as pontes que já foram criadas, mas se têm se debilitado devido às sistemáticas investidas de desarticulação dos países vizinhos”, afirmou.
Entre as vozes presentes nas mesas durante o Ciclo Afro, que acontece durante essa semana até o dia 27 (sábado), estão a antropóloga, cantora e intelectual feminista afro-dominicana Ochy Curiel; a cantora e pesquisadora Fabiana Cozza; o músico, poeta e pesquisador Salloma Sallomão; a escritora brasileira Cidinha da Silva; o músico Tiganá Santana; o escritor, historiador e angoleiro Allan da Rosa; entre outros nomes em destaque.
Crítica à ideia de “identidade nacional”

Continua sua explanação fazendo crítica ao entendimento de identidade nacional citanto os trabalhos artísticos do homem negro Jamaicano Stwart Hall. “Ele nos pede para termos alguma desconfiança do discurso de identidade nacional, lembrando sobre como nós, descendentes de africanos, estamos e vivemos no interior dos estados coloniais. eu sou um homem negro nascido e criado no Brasil, mas muitas vezes eu tenho dificuldade de falar de mim como brasileiro, que é como se eu estivesse projetando uma falsa imagem, porque quando eu olho em volta, eu não vejo o meu povo sendo tratado como merecem, de sermos profundamente humanos”, disse o historiador, lembrando que a cada três minutos um negro é morto no Brasil.
Falando sobre a educação nas escolas, retomou a história do Brasil e a independência de Portugal e sobre como essa história é contada nas escolas para as crianças, como um homem branco em um cavalo oferecendo a ideia de Independência e estabelecendo o imaginário das crianças. “Nos casos brasileiros a dependência de Portugal terminou em 1808 e foi reafirmado em 1822, a pergunta é por quem? Por que quem a independência do Brasil foi afirmada em 1822? Pelos descendentes diretos dos colonizadores. Nós estamos falando de uma continuidade histórica que o discurso da identidade nacional não nos deixa perceber como tal”.
Políticas públicas, semelhanças e diferenças
Na mesa "Temas raciais e de gênero na academia brasileira e colombiana", a professora Dyane Brito, da Universidade Federal do Recôncavo baiano, reafirmou a crítica ao discurso nacional e da democracia racial que vai ser reproduzido por diversos escritores e pensadores brasileiros, encontrando seu lugar na literatura do escritor Gilberte Freyre, autor do livro Casa Grande & Senzala. “Mas se por um lado a gente passa uma parte do século XX neste entendimento sobre Brasil, a partir da segunda metade a gente tem outra perspectiva. A Unesco dos anos 1940 fez um estudo que levou outros países a estudar o Brasil como exemplo para outros países, mas a pesquisa mostrou uma outra realidade brasileira. A ideia de que não havia conflitos raciais, ela vai ser consertada, mostrando que o que se tem no Brasil é o racismo velado, o que é mais difícil de se entender”, destacou.
Abordou sobre as políticas públicas e os avanços das cotas sociais, raciais e de gêneros e reserva nas universidades a partir de 2004, mencionando que elas precisam ser sempre acompanhadas e ampliadas, além do estabelecimento da obrigatoriedade do ensino sobre a história e cultura afro-brasileira no ensino fundamental e médio.
A professora, antropóloga e doutora Mara Viveros, que dividiu a mesa destacou as diferenças entre os países especialmente devido a ideologia da mestiçagem, que torna mais complexa o entendimento do racismo nos em todos os espaços, especialmente os espaços de poder. “Eu creio que a presença de uma vice-presidente negra (Francia Marquéz), ajude-nos a reconhecer os efeitos do racismo sistêmico e cotidiano e os pontos cegos que precisam ser enfrentados. No entanto, uma coisa é reconhecer a Francia como uma líder social, outra coisa é reconhecerem-na como uma líder capacitada a governar. Há muitas mudanças na cultura política e social colombiana por resolver que justamente, são os estereótipos racistas. Até levantamos o discurso 'Quem tem o direito de governar'”.
