Negócios no âmbito do Brazilian Publishers na Feira de Frankfurt crescem 47%
PublishNews, Guilherme Sobota, 05/12/2025
Dados da CBL mostram salto nos negócios das editoras do BP no evento, totalizando US$ 20 milhões nas últimas três edições

Estande do Brasil na Feira do Livro de Frankfurt 2025 | © Guilherme Sobota / PublishNews
Estande do Brasil na Feira do Livro de Frankfurt 2025 | © Guilherme Sobota / PublishNews
O volume de negócios realizado pelas editoras e empresas brasileiras participantes do Brazilian Publishers (BP) na Feira do Livro de Frankfurt aumentou 47% entre 2023 e 2025, de acordo com dados da Câmara Brasileira do Livro (CBL) divulgados agora com exclusividade pelo PublishNews. O BP é uma ação de internacionalização do mercado do livro brasileiro promovida pela CBL em parceria com a ApexBrasil. Somente nas três últimas edições do principal evento do setor no mundo, as editoras brasileiras participantes do projeto movimentaram mais de US$ 20 milhões em negócios.

Em 2025, o volume negociado na feira chegou a US$ 8,1 milhões, superando os US$ 6,8 milhões de 2024 e os US$ 5,5 milhões de 2023. O número de editoras participantes se manteve em 28 empresas. Nos últimos anos, o estande brasileiro foi um dos mais movimentados do pavilhão que reúne os países ibéricos, da América Latina e outros. O evento "Caipirinha Hour", promovido pela CBL, serviu 1,2 mil caipirinhas, 400 litros de chope e 500 pretzels nesta edição, recebendo profissionais de várias partes do mundo em um ambiente marcado por networking e música brasileira ao vivo. A CBL também lançou uma nova edição do Catálogo de Livros e Direitos Autorais, publicado em português, inglês e espanhol, com mais de 200 títulos.

Como funciona o Brazilian Publishers

Como ocorre nos projetos setoriais da ApexBrasil, o BP funciona em regime de cofinanciamento, com divisão de responsabilidades, segundo explica ao PN a presidente da Câmara Brasileira do Livro, Sevani Matos. A ApexBrasil aporta 50% dos recursos, oferece metodologia, monitoramento e avaliação de resultados, fornece diretrizes de marca e comunicação (Brandbook Apex), contribui com inteligência comercial e estudos de mercado, e aprova todas as ações propostas para cada biênio. A CBL e as editoras participantes respondem pelos outros 50% dos recursos: a CBL aporta parte da contrapartida financeira, coordena toda a gestão, execução e articulação institucional, enquanto as editoras arcam integralmente com suas despesas internacionais, incluindo passagens, hospedagem e custos relacionados.

As ações do BP são definidas em ciclos de planejamentos estratégicos de dois anos, em um processo que envolve diagnóstico de mercados prioritários, análise de desempenho das ações anteriores, definição de metas de negócios e visibilidade, estudos de inteligência e tendências internacionais, planejamento detalhado de feiras, ações comerciais e capacitações, além de aprovação formal pela ApexBrasil. "Cada ação integra um Plano de Trabalho altamente estruturado, com metas, indicadores, métricas de desempenho e forma de monitoramento. O rigor dessas etapas explica por que o BP se tornou um dos projetos de economia criativa mais sólidos do país", diz Sevani.

Segundo a presidente, a CBL exerce papel técnico e institucional em todas as etapas, como coordenação completa do projeto, relacionamento com editores brasileiros, articulação com organizadores de feiras, administração de estandes, produção de agendas oficiais, organização da programação profissional brasileira, organização das reuniões de negócios (matchmakings) e capacitações, além de garantir a presença institucional do Brasil na programação oficial das feiras e no estande brasileiro. As ações são medidas por indicadores como número de reuniões de negócios realizadas, valor estimado de contratos e negócios futuros, participação de novos mercados, visibilidade da marca Brasil e comparação ano a ano da performance comercial. Na Feira de Frankfurt de 2024, por exemplo, foram realizadas mais de 300 reuniões, além dos encontros promovidos no matchmaking inicial.

"Participar do BP é mais eficiente do que tentar internacionalizar-se de forma isolada, pois o programa oferece valor subsidiado nos estandes estruturados, curadoria institucional, treinamentos contínuos, networking com agentes internacionais, maior potencial de negócios e visibilidade coletiva. Assim, o BP atua como um mecanismo de aceleração que permite às editoras brasileiras acessar mercados, agentes e feiras globais", garante Sevani.

O estande do projeto nas feiras de 2025–2026 deriva ainda de um estudo técnico realizado no convênio anterior. A identidade visual segue o manual da ApexBrasil.

Críticas

Um artigo publicado na Folha de S. Paulo após a Feira deste ano registrou críticas à participação do país, notadamente quanto a uma suposta ausência de um trabalho de marca e de uma narrativa sobre o mercado brasileiro. O texto da publicitária e livreira Agatha Kim denominava a participação do país no evento como "vira-lata". Alguns dias depois, o consultor editorial Carlo Carrenho rebateu: "[o artigo] me surpreendeu pela negatividade e parcialidade. Foi sua primeira vez [da autora do texto] na maior feira de livros do mundo —e isso talvez explique muita coisa".

Para Sevani Matos, sempre há espaço para aprimorar. "A Feira do Livro de Frankfurt costuma proporcionar a quem a visita pela primeira vez uma experiência muito rica e empolgante. É um ambiente vibrante, competitivo e cheio de estímulos, o que desperta o desejo legítimo de contribuir com a presença do Brasil. Muitos dos pontos levantados [na crítica à participação brasileira] não correspondem exatamente às características da Feira nem ao planejamento estratégico que orienta o Brazilian Publishers, cujos objetivos e métricas são bastante específicos. Ainda assim, consideramos sempre positivo ouvir percepções externas e aproveitar aquilo que possa contribuir para o aprimoramento contínuo do trabalho que já vem sendo desenvolvido com consistência há muitos anos", diz a presidente da CBL.

Outro ponto levantado pelo texto de Agatha era a questão das bolsas de tradução – neste biênio, o BP de fato não possui recursos destinados à tradução, mas apoia a articulação e divulgação de bolsas já existentes, como a Bolsa de Tradução da Fundação Biblioteca Nacional e a nova Bolsa de Tradução do Município do Rio de Janeiro, oficializada no âmbito do projeto Rio Capital Mundial do Livro e anunciada durante a Jornada Profissional do BP, prévia à Bienal do Livro Rio.

O que é

Criado em 2008, o Brazilian Publishers apoia mais de 80 editoras brasileiras em sua inserção no mercado global. Além do suporte técnico, as empresas recebem treinamento em exportação, acesso a plataformas de matchmaking, missões comerciais, projetos compradores e apoio logístico. Hoje, o Brasil participa das sete maiores feiras do livro do mundo. A CBL mantém ações permanentes de internacionalização, como o Projeto Comprador, o Projeto Matchmaking e o envio de livros para mercados estratégicos, além da coordenação da participação brasileira e recepção das editoras e autores nas feiras internacionais. O investimento de deslocamento é realizado pelas empresas participantes, e a CBL oferece suporte técnico e institucional.

[05/12/2025 10:36:37]