Michael Kegler faz as vezes de guerreiro da literatura brasileira em solo alemão: tradutor de Luiz Ruffato, Ana Martins Marques, Michel Laub, João Paulo Cuenca e diversos outros autores lusófonos, ele é também um veterano da Feira do Livro de Frankfurt. Um dos seus trabalhos por lá – como ele explicou para o PublishNews em uma conversa amigável no fim da sexta-feira (20), no estande brasileiro da Feira – é encontrar editoras de língua alemã para os seus trabalhos. Ele lamentou a pouca atenção no evento para o aniversário de 10 anos da homenagem ao Brasil em Frankfurt, e comentou o estado atual das traduções de língua portuguesa para o alemão.
PublishNews – Quais são suas impressões sobre a Feira 2023? Conseguiu encontrar alguns colegas brasileiros?
Michael Kegler – Os editores brasileiros estão aqui, claro. Em 2023, a Feira voltou ao normal, depois desses anos pandêmicos. É uma situação bacana a gente ter voltado. Ninguém se lembrou de celebrar os 10 anos de 2013, o ano em que nós fomos famosos. É uma pena que não tem um escritor brasileiro – ou melhor, tem a Luiza Romão, que veio. Eu compreendo a situação, espero que no próximo ano possamos trazer mais autores brasileiros. Mas o clima em geral está bom, recomeçamos os trabalhos de alguma forma.
– Como tradutor e crítico cultural, como é a sua participação aqui?
Eu sou veterano da Feira. Comecei ajudando num estande há 30 e tantos anos. Eu faço contato com editoras alemãs, em princípio é isso, eu vou buscando livros, conheço eles antes, e ando por aí tentando convencer alguém a publicar. É tudo pro domo, mas a função do tradutor é também fazer isso. Nós trabalhamos porque precisamos de trabalho, mas às vezes editoras têm uma tendência de confiar mais na gente do que nos agentes literários. Então é um trabalho conjunto, uns complementam os outros.
– O que você está lendo ou traduzindo atualmente? De literatura brasileira, você mencionou que são 4 ou 5 livros de literatura publicados no mercado alemão por ano, é isso mesmo?
Entreguei agora o primeiro capítulo do Sodomita, do Alexandre Vidal Porto, que eu esperava muito. É o que acabei de ler. Estou lendo o novo livro do Germano Almeida, de Cabo Verde.
O mercado editorial alemão é muito resistente a traduções. Atualmente, ele é autossuficiente, tem uma literatura alemã forte, até em termos de mercado. Nas traduções, a grande maioria é do inglês, e entre best-sellers. A faixa que sobra para a literatura em português é pequeníssima. Podia ser mais, mas tudo isso precisa de incentivos, infelizmente. Eu acho que aqueles 3 a 5 livros não é tão pouco, porque os livros geralmente são bons, é o resultado de uma negociação de alguém que gostou do livro e levou à editora… Então, não acho que seja preocupante. Mas, claro, em termos de mercado… não há um mercado. Cada livro é um acontecimento. Esse ano publiquei um livro do Gonçalo Tavares, de uma série que estou fazendo com uma editora austríaca, mas o que saiu recentemente e foi bem foram os livros da Tatiana Salem Levy. O Geovani Martins também terá um livro daqui a pouco.