Agora estou terminando a leitura, e a experiência tem sido fascinante por três razões: a linguagem hipnótica de Duras, lírica e ao mesmo tempo duríssima neste livro; a personagem intrigante que é Lola Valérie Stein, enigmática, que nos faz querer investigar o tempo todo, enquanto leitores, a origem de suas ações; e o narrador, que se revela apenas por volta do meio do livro, um observador – sempre parcial, como são os observadores – da vida dessa mulher.
Logo no início, Lol presencia em um baile o encontro entre seu noivo e outra mulher, com quem ele parte para sempre. A memória dessa noite a acompanha por todo o romance. A partir daí, a atmosfera, assim como acontece em O amante, tem um tom particular, poético e arrebatador, como é a escrita de Duras. E uma das coisas que mais me encantam: esse jogo entre mistério e revelação, os interditos, aquilo que está sendo insinuado. Ela é habilidosa em fazer isso.
Igualmente habilidosa é a escritora ao narrar o desejo, que é algo que me interessa fazer em meu próprio trabalho literário, naquilo que tenho publicado e que pretendo continuar publicando. Também aprendo muito com as pausas no texto, as interrupções dos diálogos. É um livro que nos ensina o prazer de enxergar o que há nas entrelinhas.
Recomendo O arrebatamento de Lol V. Stein porque é um livro que nos desafia. Primeiro como leitores, a desvendar o mistério que gira em torno dessa mulher, cuja vida é narrada com uma honestidade brutal para consigo mesma. Segundo, porque nos desafia enquanto humanos, fazendo-nos questionar os limites das nossas escolhas, de assumir a nós mesmos aquilo que de fato desejamos. É um livro que merece ser lido pausadamente".
*Leonardo Piana é autor de Tarde no planeta, recém publicado pela Autêntica Contemporânea. O seu romance de estreia, Sismógrafo, venceu o Prêmio Cidade de Belo Horizonte, foi finalista dos prêmios Jabuti, São Paulo de Literatura e Mix Literário, e teve os direitos vendidos para o cinema. Tarde no planeta também foi vencedor do Prêmio Cidade de Belo Horizonte.
