Estamos em um momento de esperança, espécie de primavera frente ao tenebroso inverno dos recentes seis anos. A cultura respira. E respira ansiosa, desesperadamente ansiosa. Nosso país regrediu e fomos devorados em todos os sentidos. Nossa cultura nacional foi cercada e asfixiada, arrastada ao patíbulo e ceifada sem piedade.
E a cultura havia sido a antessala da educação e posteriormente a saúde, porque eram esses os planos neoliberais do (des)governo que saiu pela porta dos fundos nos últimos dias de 2022. E não nos iludamos, prefeitos e governadores, dessa mesma retrógrada filosofia, permanecem em seus postos, queimando e dizimando o pensamento. Demorasse mais um pouco e todas as instituições federais de ensino seriam simplesmente fechadas, e em seguida as estaduais e municipais, num cenário muito mais deprimente do que o do período da pandemia em seu auge.
Mas aos poucos dias do novo governo federal já surgem editais do Banco do Brasil para retomarmos as produções artísticas, assim como mantivemos, ainda no ano passado, em seus últimos dias, a aplicação da lei Paulo Gustavo. Notícias celebradas feito os primeiros ventos mornos da primavera, em contraste ao hálito frio do inverno da inteligência neoliberal.
E o nosso mundo do livro dá igualmente sinais de que voltou a sonhar. As editoras pequenas e médias olham com atenção ao que poderá vir. E é essa a hora, é instante de união e promoção de interesses. Porque são interesses legítimos de fomento da literatura e do mundo editorial brasileiro, bastiões do pensamento e da ciência desta nação.
Sei, aos mais indignados pareço contador de histórias fantásticas em estado de graça. Mas mesmo esses “indignados” hão de convir, diante do desastre recente e diante do que passamos na pandemia, qualquer gota governamental, se bem direcionada (como já mostrou ser), nos será como cachoeira. Em outras palavras, qualquer compromisso de receber verba pública de vulto, para uma atividade de vulto, ressuscitará muita gente à beira do colapso profissional e pessoal.
Celebremos, pois. Há muito o que ser feito, há muito cadáver insepulto e seus deletérios odores para empestear o ambiente. E devemos estar de prontidão, bandeiras hasteadas e alianças bem costuradas. Sindicatos, associações, clubes, escolas, empresas, artistas, escritores, e todos que sabem o valor da arte e dela sobrevivem, mantenhamos a vigilância e a pressão, mas também auxiliemos se necessário. O instante é de quem sai de uma guerra devastadora, feito campos e trincheiras calcinados, e todas as mãos são necessárias.
Entidades nacionais e instituições, aqui um pedido, abram suas portas ao autor e ao empreendedor cultural que anda solitário: façam como algumas prefeituras e governos estaduais, que chamavam o povo da cultura para seus editais. Embora entenda-se seu fim privado, pois são entidades de associados privados, o ponto final é que pode, e deve prevalecer: a defesa do conhecimento e da cultura pública. Qualquer janela aberta pode significar muito ali adiante, e para todos, sem distinção.
Paulo Tedesco é escritor, editor e consultor em projetos editoriais. Desenvolveu o primeiro curso em EAD de Processos Editorais na PUCRS. Coordena o www.editoraconsultoreditorial.com (livraria, editora e cursos). É autor, entre outros, do Livros Um Guia para Autores pelo Consultor Editorial, prêmio AGES2015, categoria especial. Pode ser acompanhado pelo Facebook, BlueSky, Instagram e LinkedIn.
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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