Como todos já devem ter notado, novembro está lotado de eventos literários pelo país. Em função das eleições e outras questões burocráticas, o fim do ano está entulhado de festas, feiras e quetais. Pelo mês atravessam Flica, bienais do Livro na Bahia, no Ceará, em Campos e em Brasília. Feira do Livro de Porto Alegre, da USP e mais um Catatau de lugares. Como quem acende um cigarro no outro (para usar um termo que denuncia idade), passei por Flipelô, FLUP Pensa, Balada Literária, LER em Movimento, Feira do Livro de Foz do Iguaçu e agora vem a tão esperada Flip.
Enquanto escrevo, deve surgir mais um punhado de eventos cujos recursos foram aprovados em cima da hora. Curadores varando noites em tabelas de Excel correm para disputar a agenda de artistas. Há rumores de que alguns escribas mais requisitados estão presentes em três ou quatro feiras ao mesmo tempo.
Alguns dos eventos citados costumam acontecer entre outubro e novembro, mas a eles se juntaram vários que precisaram alterar datas por motivos dos mais variados. No entanto, é consenso de que se trata de uma situação provisória, uma vez que é um período bem longe do ideal.
Em Paraty mesmo temos época de chuvas, então não será surpresa se as pessoas se amofinarem nos diversos lugares para assistirem às programações. O clima intimista de dentro das casas pode se contrapor ao chão de pedras escorregadias, dificultando a circulação e a boemia literária, esse aspecto tão importante da Flip que se dá ao ar livre.
Pelo que tenho percebido, o fim de ano letivo impede a participação de professores e alunos em diversos eventos pelo país. Uma opção das mais interessantes é levar escritores nas escolas. Aliás, tenho cada vez mais certeza de que um escritor falar com centenas de alunos a partir de uma mediação bem feita com professores funciona mais do que uma mega estrutura vazia ou com visitas escolares feitas às pressas.
Para coroar o afunilamento, temos a Copa do Mundo atravessando o fim de ano. Entre torcidas e resenhas, é natural que daí surjam as tradicionais mesas sobre literatura e futebol, que sempre rendem bons debates.
E temos os prêmios literários chegando e apresentando os resultados. Ver o Rafael Gallo ganhando o Prêmio José Saramago dá uma felicidade especial. Em 2012, o jovem escritor foi revelado pelo Prêmio Sesc de Literatura, concurso mais desejado pelos autores inéditos e a partir do qual surgiram grandes nomes. Vamos agora na Flip lançar os vencedores de 2022, que vão começar uma nova fase das respectivas vidas. Acompanhar a trajetória desses artistas da palavra sempre me enche de esperança.
E é com esperança que a gente segue para a Flip, com sol ou chuva, emendando um evento no outro e com a expectativa de que a área cultural encontre dias melhores. Depois de um período de cerceamento, censura, emperramentos, desqualificação profissional e tantos perrengues, que em 2023 tenhamos muitas feiras, festas, jornadas e encontros literários ao longo de todo o ano.
Henrique Rodrigues nasceu no subúrbio do Rio de Janeiro, em 1975. É curador de programações literárias e consultor para projetos e programas de formação de leitores. Formou-se em Letras pela Uerj, cursou especialização em Jornalismo Cultural pela Uerj, mestrado e doutorado em Letras pela PUC-Rio. Já foi atendente de lanchonete, balconista de videolocadora, professor, superintendente pedagógico da Secretaria de Estado de Educação do RJ, coordenador pedagógico do programa Oi Kabum! e gestor de projetos literários no Sesc Nacional. É idealizador do Prêmio Caminhos de Literatura e curador do Prêmio Pallas de Literatura. Publicou 24 livros, entre poesia, infantis, juvenis e romances. www.henriquerodrigues.net
** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.
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