Sete propostas pro mercado editorial fazer diferente e seguir adiante
PublishNews, Jaime Mendes*, 20/05/2020
Em seu artigo, Jaime Mendes analisa o mercado do livro brasileiro e sugere alguns pontos para discussão de alternativas que possam fortalecer esse mercado

Muito se tem dito e escrito relacionado a esta pandemia de covid-19. Parece que uma das certezas é de que o mundo não será mais o mesmo. Até o imenso buraco na camada de ozônio sobre o Polo Norte não existe mais, neste momento.

Também temos algumas constatações que talvez, quem sabe, fiquem de vez:

  • 1 – O Estado Mínimo é uma falácia;
  • 2 – Vírus e bactérias não sabem o que são fronteiras e nem se sujeitam a elas;
  • 3 - Ciência e Cultura não são custo. São investimento para a existência da vida;
  • 4 - Só o trabalho gera riqueza;
  • 5 – A mão invisível do mercado é outra falácia. Qualquer mercado precisa de regulação;
  • 6 – O pequeno comércio de proximidade precisa ser fortalecido. Ficou aberto enquanto os shoppings fecharam;
  • 7 – A internet será cada vez mais utilizada na economia e no dia a dia da vida de cada um dos habitantes do planeta.

No nosso caso, o mercado do livro, será tão mais forte quanto o forem os elos da sua cadeia. Um elo muito fraco pode quebrar um mercado. E os principais elos do ponto de vista da comercialização do livro são: editora – distribuidora – livraria.

No Brasil, atualmente, existe uma animosidade muito grande no mercado do livro entre:

  • editores e livreiros e vice-versa neste caso;
  • entre livreiros e varejistas (não livreiros); mas os varejistas não estão nem aí;
  • entre livreiros com loja única (ou poucas) e as redes de livrarias. Esta talvez já tenha ficado para trás tendo em vista as RJs de Saraiva e Cultura, falência da Laselva e saída da Fnac do país;
  • entre redes de livrarias, que talvez já tenha passado também, mas que é importante registrar.

Neste último caso, ao invés de se verem como concorrentes, existia uma visão de “inimigos de guerra”, mais especificamente entre Saraiva e Cultura. Na Saraiva não se falava o nome da Cultura internamente; esta era nomeada de “o inimigo”. A Cultura, por sua vez, chegou a expulsar de suas lojas funcionários da Saraiva, quando estes lá entravam. O ápice foi um processo judicial que a Cultura moveu contra a Saraiva sob a acusação desta ter copiado o layout das lojas da Cultura, e o ter implementado na loja que abriu em Manaus. Isso foi em novembro de 2009. Mais aqui.

O processo se arrastou até fevereiro de 2017 quando o “Superior Tribunal de Justiça (STJ), por unanimidade, concluiu que a Saraiva não plagiou a arquitetura das lojas da Livraria Cultura”, como informou o PN.

Essa visão de inimigo teve uma trégua também em 2017, pois tiveram que tentar colocar em prática a máxima, tantas vezes já utilizada na história da humanidade: “o inimigo do meu inimigo é meu amigo”. E quem era o “inimigo” em comum? A Amazon. Mas ficou só na vontade...e, hoje, estão ambas, em situação muita crítica tentando evitar a falência.

Tudo que esteve latente, quando surge um período de escassez, aflora, e fica mais visível. A escassez atual é da falta de dinheiro proveniente da diminuição do faturamento e da queda do mercado que vem acontecendo faz uma década.

Voltando à questão da animosidade, a mais visível no momento é entre um grupo de 102 pequenas e médias editoras (critério do tamanho do catálogo e/ou faturamento) de um lado e livreiros e distribuidores de outro. A manchete do PN foi: “Editores e livreiros em pé de guerra”.

Existe uma visão equivocada no mercado (ressalvadas sempre as exceções), tanto de editores, quanto de livreiros, de que um setor faz um favor ao outro e vice-versa. As editoras emprestariam os livros às livrarias e estas, cederiam o espaço para as editoras mostrarem seus catálogos. Também escuto muitos editores dizerem que investem muito, e antecipadamente, para ter o livro. É verdade, mas isso não quer dizer que os livreiros também não invistam antecipadamente. Cada setor o faz segundo o seu tamanho, faturamento ou retorno financeiro do negócio. Custo? Cada um tem os seus e, tal como as unhas, devem estar sempre sob vigilância constante e, se possível, cortar toda a semana. Além disso existe o rompimento de compromissos de forma unilateral, sem uma conversa anterior sobre eventuais dificuldades, para encontrar soluções. É só lembrar de março de 2018, quando a Saraiva avisa às editoras que não ia pagar durante seis meses o que devia, tendo, entretanto, se estocado entre dezembro 2017 e fevereiro de 2018. A sensação que ficou é que o fez de caso pensado. E isso voltou a acontecer, em menor proporção de valores, em março 2020, quando livrarias e distribuidores romperam de forma unilateral compromissos assumidos com as editoras, avisando que não passariam acerto de consignação nem pagariam duplicatas. A reação das editoras foi a carta das 102, denominada Juntos pelo Livro. A visão deveria ser a da simbiose, de associação recíproca de dois ou mais organismos diferentes que lhes permite viver com benefícios para ambos.

Não existe um mercado editorial sem editoras, mas também não existirá sem livrarias. O e-commerce não vai resolver tudo. A venda direta da editora para o leitor também não vai resolver. O comércio de proximidade será cada vez mais importante em alternativa aos shoppings, por exemplo. Esta não será a última pandemia; outras virão, tal qual as recentes SARS (2002-2003); H5N1 (2003-2013); H1N1 (2009-2010); MERS (2012-atualidade) e a atual SARS-Cov-2 (a Covid-19) (2019-atualidade).

Mas, de onde vem tudo isso? Qual sua origem? Como e por que se deve acabar com essa animosidade?

A ausência de informação fidedigna, o desconhecimento no uso de ferramentas digitais e a falta de transparência nas ações e decisões são os “vírus” desta animosidade. A tecnologia e o estabelecimento de novas regras de negócio, e seu cumprimento, podem ajudar neste combate. Assim, sugiro alguns pontos para discussão de alternativas que possam fortalecer o mercado do livro. Uns mais simples de execução; outros mais complexos.

1 – Consignação

A consignação é centenária no mercado do livro. Nas minhas leituras cheguei a 1918 com Monteiro Lobato. A prática ficou adormecida por muitos anos. Entretanto, a partir de 1996 começa, ano a ano, a “tomar corpo” e, atualmente, é a forma de comercialização predominante, quase absoluta, no mercado do livro. Prática, aliás, de que ficaram reféns editoras e livrarias. Também é o cerne, o âmago da animosidade entre editores e livreiros, na minha interpretação.

Na consignação as editoras enviam os livros às livrarias e distribuidores sob esta forma fiscal. Distribuidores também consignam para livrarias Ainda não é uma venda. É um “empréstimo”, digamos. Após um período de tempo previamente combinado (o mais comum é mensal), as livrarias e distribuidores enviam para as editoras, ou distribuidores, a relação dos livros que foram vendidos e as quantidades de cada um. Então a editora ou distribuidor emite uma nota fiscal de venda de produtos anteriormente consignados. Parece uma operação redonda, certo? Onde estão os problemas, então?

Os problemas se originam na falta de transparência, na falta de confiabilidade, na falta de cumprimento do prazo da prestação de contas previamente acordado e na sonegação dos números exatos do que foi vendido. Na maioria absoluta dos casos, quero crer, deve-se à dificuldade de gestão de centenas de fornecedores que as livrarias ou distribuidores têm. Sem um sistema eficiente de gestão é quase inviável que se faça corretamente. Minoritariamente, existe sim, subnotificação (por opção) do que foi vendido.

Para as editoras, não ter os números corretos do que foi vendido, não é somente uma questão de faturar mais ou menos num mês. Traz dificuldades para tomar decisões de reimpressões e até de novos lançamentos. Exemplificando: quando estava no comercial da Zahar, no decênio inicial deste século, Zygmunt Bauman começava a alcançar números expressivos na venda. De uma tiragem inicial de cinco mil exemplares, antes de terminar o mês, era comum ter apenas mil exemplares vendidos/faturados e 3.800 exemplares consignados. Olhando-se somente para os 200 exemplares em estoque, era necessário reimprimir. A questão era, reimprimir quantos, pois se somente 20% da tiragem estava vendida de fato?

Para minorar isso fui convencendo livrarias e distribuidores a fazerem acertos quinzenais e até semanais. Isso, inclusive, aumentou a venda nesses clientes que passaram a ter a reposição mais rapidamente, não deixando faltar produto nas lojas. E a editora passava a ter números mais precisos com relação à venda que ocorria. Outra ação foi considerar a falta de acerto, superior a 30 dias em relação ao anterior, tão grave quanto ter uma duplicata vencida. Assim, via sistema, era bloqueada a saída de consignação. Uma terceira ação foi travar a saída de consignação de títulos quando o estoque desses chegasse a um número pré-definido, fosse para livros de alto giro, fosse para livros de cauda longa. Aqui tive que argumentar muito, muito mesmo, mas consegui mostrar que era benéfico para todos. Principalmente nos títulos de cauda longa, se a livraria pedisse um título desses e o estoque fosse zero, mas com algumas dezenas de exemplares consignados pelo país era e, é, pelo custo do frete, inviável trazer o livro de volta. Assim a livraria perdia a venda, a editora perdia a venda e o cliente não era atendido. Cenário pior não há. Depois de meses sustentando essas ideias, tive clientes livrarias, distribuidores e redes que, ao enviarem o pedido de consignação, escreviam a observação: “o que não puder vir consignado, pode mandar como venda”. No fim do ano, com a ajuda da Ana Paula Tavares, responsável pela produção, levantamos que não foram reimpressos à toa, antes da necessidade real, 100 mil exemplares de títulos que vendiam até 200 exemplares por ano. Teria estoque parado para quatro a cinco anos.

Foram os tempos românticos. Hoje em dia, com tantas editoras e centenas e centenas de milhar de títulos disponíveis, parece inviável realizar uma boa gestão da consignação. Qual a saída então? O uso da tecnologia.

Tanto editoras quanto livrarias precisam ter números corretos sobre a venda e, de preferência, on-line e em tempo real. Isso só é possível com uma ferramenta que apure a venda no check out, no registro da venda no caixa da livraria. Que emita relatórios que possibilitem ver o que foi vendido, em que dia, em que horário. Qual giro de cada produto por dia, semana ou mês. Prever se deve reforçar ou não um título para não perder vendas. Por outro lado, se sabe o que vendeu, sabe também o que não vendeu e que, após avaliação, poder decidir se deve ser devolvido ou não à editora. Afinal o espaço de prateleira física é finito e custa caro. Assim, cada editora teria acesso somente às informações dos seus títulos e a livraria teria uma visão geral e relatórios comparativos por editora, por área etc. Mais importante que ter uma pessoa na livraria para contar livros, conferir notas fiscais, preparar o acerto da consignação a enviar, será ter uma pessoa para analisar os relatórios e tomar decisões. Complexo, não?

A boa notícia é que a tecnologia para fazer a gestão da consignação, dar transparência, confiabilidade, credibilidade aos números, tanto para as editoras quanto para as livrarias, enfim, automatizar um processo braçal, já existe no mercado. Já conhece a Bookinfo?

Quanto às pessoas para fazerem a análise desses relatórios, será necessário investimento em treinamento, pois não devem existir tantas assim disponíveis. Não deixa de ser uma oportunidade, portanto.

Tempo de implementação desta sugestão: imediato. É só querer.

2 - Descontos

O livro é um dos poucos produtos que tem seu preço de venda ao consumidor final definido pelo fabricante, a editora no caso. O chamado preço de capa, que é o preço de referência para essa venda. As livrarias e distribuidores têm um desconto nesse preço de capa para que possam vender por esse mesmo preço de referência, sem aumentá-lo. O valor desse desconto em reais é para remunerar o negócio como um todo das livrarias e distribuidores. A outra parte, que fica com a editora, é para remunerar o seu próprio negócio.

O preço definido pelas editoras representa o valor do trabalho acumulado de inúmeros profissionais, começando no autor, passando por todos os profissionais da editora, além dos prestadores de serviços. Por isso que, ao se dar desconto no preço de capa na venda ao consumidor final, o que se está a dizer é que aquele livro não vale o valor que lhe foi atribuído. Entretanto, quem sabe o custo/investimento necessário para que um livro exista é a editora e, não, a livraria ou qualquer outro varejista.

Existe o falso discurso de que se dá o desconto para baixar o preço do livro, pois o livro é caro. Assim, as editoras seriam as “vilãs” e, quem dá desconto, o “mocinho”. Creio que já desmontei isso. Quem ainda não leu, pode fazê-lo aqui no PN.

Como ainda podem existir dúvidas, se o livro no Brasil é caro ou não, vamos ver alguns dados da pesquisa Produção e Vendas de Livros no Brasil para o período 2006 a 2018, a preços constantes em 2018, expurgando-se assim a inflação para a efetiva comparação.

Legenda: DID (didáticos) / REL (religiosos) / OG (obras gerais) / CTP (científicos, técnicos e profissionais)
Legenda: DID (didáticos) / REL (religiosos) / OG (obras gerais) / CTP (científicos, técnicos e profissionais)

Todos os 4 subsetores caem; uns mais, outros menos.

A queda do preço médio no setor editorial foi de R$ 27,74 em 2006 para R$ 18,19 em 2018. Diferença de 65,57%.

Mariana Bueno, economista responsável pela pesquisa há anos, já publicou um, dois, três artigos sobre essa queda aqui no PN. Abaixo um dos gráficos desses estudos com a venda de livros per capita no Brasil: um, somente um, exemplar por pessoa. Na Espanha e Reino Unido são três, e seis na França, em números redondos. No Brasil o grande desafio é conseguir aumentar esses valores, que passa necessariamente por investimentos em educação.

Portanto, não os deixe de ler, pois são esclarecedores.

Também é importante dizer que existe uma diferença fundamental entre preço e valor. Não se compra, nem se vende preço e, sim, valor. Abaixo exemplo de pesquisa feita no site da Amazon (12/05/2020 às 20h de Lisboa). Existem mais de mil livros entre R$ 1,50 e R$ 20 em promoção. Isso é um preço barato, é claro. Mas terá valor para todos os clientes? Todos comprarão?

Mais um exemplo? O que existe perto e/ou dentro de qualquer faculdade ou universidade no Brasil? Uma livraria?

Não. Um bar, pelo menos um, com certeza. Com R$ 50 se pode comprar um livro ou tomar umas cinco cervejas. O dinheiro é o mesmo. O valor não. Onde esses R$ 50 serão usados? Nada contra a cerveja, muito pelo contrário. É apenas uma questão de percepção de valor. O que se pode fazer para que as pessoas tenham percepção de valor no livro? Pra começar, não tirar valor dele com o desconto.

Mas o que se pode fazer para fortalecer as livrarias de pequeno e médio porte e, assim, descentralizar a venda e, por consequência, garantir a existência de um mercado do livro?

Diminuir o desconto geral do mercado!

Com a diminuição do desconto a livraria e o varejista ganham mais e o cliente final, o leitor, paga o mesmo. Segue simulação onde a diminuição do desconto em 10% possibilita a redução do preço de capa em 20%.

A livraria e o varejo ganham mais 6,67% de margem.

Como as redes de livrarias e grandes varejistas exigem mais desconto das editoras, e o usam com outros objetivos que não o de ter mais margem, tendo em vista que abrem mão dele ao dar descontos na venda, está na hora das editoras voltarem a ter a mão no leme e não ficarem a reboque ou à deriva no mercado.

E para quem achar que o seu negócio não se sustenta com margens de:

  • 42,86% equivale a desconto de 30%
  • 53,85% equivale a desconto de 35%
  • 66,67% equivale a desconto de 40%

O problema não está na margem, no desconto, mas na gestão do próprio negócio. E, nesse caso, nem Jesus salva.

Outra questão que precisa ser revista diz respeito à diferenciação de desconto entre as livrarias, as redes de livrarias e os varejistas. Livro não é cerveja nem refrigerante. Livro não tem escala elevada de produção e venda. O leitor não compra dois exemplares do mesmo título só porque está com desconto. Portanto, não é por que compra mais, ou que vende mais, que alguns palyers devem ter mais desconto que outros. Afinal, se já tem capacidade de vender mais, naturalmente já vai ganhar mais. A diferenciação no mercado deve ser pelo serviço e, não, pelo preço/desconto. Condições comerciais isonômicas são fundamentais para a sustentabilidade do mercado do livro a partir de agora.

Tempo de implementação desta sugestão: imediato. É só querer.

3 - e-Commerce

Durante 545 anos, desde Gutemberg, o comércio do livro foi feito seguindo a cadeia: editora – distribuidor – livraria – leitor, com uma ou outra variação, pulando-se o distribuidor. A venda acontecia em lojas físicas, as tais da argamassa e tijolo.

Em 1995 ocorre uma quebra de paradigma, uma disrupção, quando a já existente internet possibilita que surja a Amazon e o comércio do livro on-line: o e-commerce.

Como os investimento em tecnologia eram, e são, muito elevados, isso sempre foi uma barreira de entrada para as livrarias físicas. O bom da tecnologia é que, com o tempo, ela tende a ficar barata, acessível. Assim, existem hoje soluções no mercado que possibilitam a qualquer livraria, por menor que seja, por menor capacidade de investimento que tenha, de estar presente também no e-commerce. Até por que o e-commerce não é inimigo das livrarias físicas. Algumas práticas realizadas no ambiente virtual é que o são. Portanto, não mate o mensageiro.

Neste momento, existem algumas possibilidades de acesso rápido para montar uma loja para o e-commerce já com todas as questões relativas a meios de pagamento, disponibilidade de estoque, manuseio e logística incluídas. Os fornecedores são a Catavento Distribuidora e a Editora Planeta. Caso existam outras, por desconhecimento, peço desculpas desde já por não citá-las.

Na Catavento existem três possibilidades:

  1. 1 – Se a livraria já tem um site, pode acessar o banco de dados da Catavento e ver a disponibilidade de stok de cada título. A atualização é feita a cada 10 minutos. São mais de 50 mil títulos com disponibilidade imediata dentro de um universo de 120 mil títulos cadastrados, distribuídos por 850 selos editoriais;
  2. 2 – Se não tem site, pode ter um criado pela Catavento. O site Bom de Livros é um exemplo;
  3. 3 – Se quer simplesmente fazer uma operação de Marketplace, isto é, vender através dos grandes sites de varejo que já existem, também é possível.

Para informações detalhadas entrar em contato com Wendel Almeida na Catavento.

A Editora Planeta oferece o serviço Programa de Associados através do site Viva Livraria. Neste caso a oferta de títulos é “somente” aos 10 selos da Editora Planeta. Para informações detalhadas entrar em contato com Antonio Bitiati no tel (11) 98651-1479 ou abitiati@editoraplaneta.com.br.

Esta possibilidade de dar acesso ao e-commerce a livrarias físicas não é nova. Em 2010, o GEN | Grupo Editorial Nacional levou essa iniciativa para os livreiros, principalmente os que estavam dentro ou perto de faculdades. A adesão foi baixíssima, pois existia o medo, por parte dos livreiros, de “perderem” os seus clientes. Em 2013, quando entrei no grupo, retomei esse projeto, mas também não obtive sucesso. Talvez as condições de necessidade ainda não estivessem presentes como estão agora. Talvez também já tenha ficado claro, hoje em dia, que cliente não tem dono. Pode ser, no máximo, fidelizado.

Portanto, que as livrarias escolham alguma ou várias das opções acima, mas não fiquem de fora do e-commerce, não entreguem “de mão beijada” esse espaço no online, pois será cada vez mais representativo como canal de vendas. Entretanto, não se esqueçam de que, tal como na loja física, não dá para ficar atrás do balcão, ou da tela do computador, esperando o cliente entrar. Tem que ir atrás dele, mas com oferta de serviços.

Tempo de implementação desta sugestão: imediato. É só querer.

4 - e-Books

No último dia 12, em entrevista para o PN, Marcelo Gioia, CEO da Bookwire no Brasil, revelou alguns dados muito importantes. Em 50 dias a Bookwire entregou a clientes finais 9,5 milhões de unidades de e-books. Média entre 25 e 30 mil unidades dia, entre gratuitos e pagos, de cerca de 550 editoras.

Sabe onde ocorreu essa venda? Amazon, Apple, Google, Kobo. Nenhuma delas é uma livraria. Nem a Saraiva, para quem a Bookwire parou de fornecer por falta de pagamento, pôde ter incluído o seu LEV na lista. Portanto, temos mais uma gigantesca concentração e, decorrente disso, uma dependência dos “produtores” de conteúdo. Neste caso, as editoras.

Aqui a barreira de entrada é gigantesca pois, além da necessidade de um e-reader, os custos de licenciamento para ambiente de leitura e proteção de conteúdo (Adobe, por exemplo), são altíssimos. No Brasil, além dos citados, existe também o e-reader Bookshelf da VitalSource, empresa que faz parte do Ingram Content Group.

É muito importante que as livrarias em geral também pudessem vender o acesso aos e-books. O cliente fidelizado de uma livraria gosta de comprar nela, independente do suporte para o conteúdo. Num exercício de ordem de grandeza, esses 9,5 milhões de e-books, a um preço médio de R$ 16 (para compensar os gratuitos), representam um faturamento de cerca de R$ 150 milhões em 50 dias. Esse valor não passou por nenhuma livraria. Talvez uma ínfima parte pela Cultura, fruto da parceria com a Kobo.

Aliás, será que a Kobo não teria como replicar e massificar a solução para o canal livreiro como um todo? É possível um marketplace para vender e-books?

Camila Cabete poderia escrever sobre isso, não?

Tempo de implementação desta sugestão: imediato. É só querer.

5 - Regulação do mercado

A questão da Lei do Preço Fixo do livro no Brasil arrasta-se há décadas. Entretanto, em quatro das cinco maiores economias da Europa ela está presente. Alemanha, França, Espanha e Itália representam 54,04% do PIB Europeu. Também está presente na Áustria, Dinamarca, Grécia, Hungria, Países Baixos e Portugal. Todas economias capitalistas, só para registrar.

Visões mais neoliberais para a economia e sociedade têm ojeriza à regulamentação e a qualquer intervenção do Estado na Economia. Entretanto, na hora do aperto, em que a economia não vai bem, e a mão invisível do mercado não tem uma solução, o chamado sempre vem. Em abril próximo passado, a vice-presidente da Comissão Europeia, Margrethe Vestager, propôs uma nova mexida nas regras comunitárias das ajudas estatais. Nas palavras dela, uma alteração na lei "pode, em especial, ser importante para as intervenções dos Estados-membros destinadas a evitar aquisições hostis de empresas estratégicas por compradores estrangeiros", (leia-se China), assim noticiou o jornal Expresso.

Voltando à Lei do Preço Fixo, que o Rui Campos da Travessa, prefere chamar de Lei do Preço Justo, no Brasil a própria posição do SNEL mudou. Nas palavras do seu presidente Marcos Pereira em 25/04/2017: “Acho que os editores em geral, e eu mesmo durante muito tempo, fui uma voz contrária à Lei do Preço Fixo. Não tínhamos muita clareza de como era a aplicação da lei no mundo e do impacto realmente danoso que a concorrência passou a praticar. Achamos que a concorrência era boa. Só que ela passou a ser desleal e aí se entra em um ciclo que é impossível se manter as livrarias saudáveis... Acho que um pacto entre o mercado não funcionaria. O mecanismo deve ser legal.”

É claro que a Lei se faz necessária devido às características muito especiais do produto livro. Também para evitar os abusos que podem vir a prejudicar o consumidor e o cidadão, com a diminuição da oferta de diversidade de livros e temáticas. Ao fim é uma Lei de proteção ao cidadão. Entretanto, não dá para contar com ela tão cedo.

Tempo de implementação desta sugestão: indeterminado, longínquo.

6 – Aumentar o uso da tecnologia

Publicar é muito mais do que imprimir. Publicar é tornar público. Logo, precisa ser visto. Entretanto, com a diminuição dos espaços em livrarias sejam elas as menores em espaço ou as maiores, como o encerramento das lojas da Fnac, algumas da Cultura e muitas da Saraiva, os livros ficarão mais escondidos. Na tela de um computador vê-se apenas entre 10 e 20 títulos. E as outras centenas de milhar que existem e que estão disponíveis, como se encontram, como se acham?

Nos anos 1990, eu lia os catálogos das editoras no ônibus, nos trajetos de ida e volta da livraria. Hoje não é mais possível, até porque esses catálogos quase não existem mais. Além disso, temos hoje melhores ferramentas à disposição do que o catálogo, que ficava desatualizado rapidamente. As ferramentas são os agregadores de informações sobre cada título. As empresas são a Mercado Editorial e a Metabooks. Antes desses serviços estarem disponíveis no mercado, eu tinha na equipe comercial na editora uma pessoa com dedicação exclusiva para preencher as diversas planilhas excel que cada livraria tinha, para poder cadastrar uma novidade. Isso sem falar na atualização das informações de esgotado, fora de catálogo, em reimpressão e da atualização de preços. Era insano. O custo era muito maior na comparação com o investimento na contratação desses serviços atuais. Sem falar na eficiência.

Assim, não é mais possível concorrer neste mercado do livro sem as editoras disponibilizarem e atualizarem de forma rápida, e em todos os clientes, que podem vender seus livros, a informação, os metadados, que são muito mais do que o título do livro, autor, editora, ISBN e preço. E que não são estáticos, pois sempre podem ser esmiuçados e melhorados. As livrarias também precisam se convencer de que precisam dessa ferramenta.

Tempo de implementação desta sugestão: imediato. É só querer.

7 – Antigos e novos espaços de comercialização

Vamos fazer a seguinte conta para o livro. Considere-se valores médios:

2 cm de lombada;

1 metro de prateleira;

Logo, cabem 50 livros numa prateleira;

seis prateleiras numa estante;

Logo, cabem 300 livros numa estante. Guarde este número.

Pensando em todas as lojas de livrarias que já fecharam recentemente como todas as Fnac, algumas da Cultura, muitas da Saraiva e de outras livrarias. Eram lojas de 1.000 m², 700 m², 400 m², 150 m², 80 m², enfim, de vários tamanhos.

Agora pense em apenas 10 metros lineares de estantes (tinha loja de mil metros) e em 100 lojas. Isso dá mil metros lineares de estantes. Se em cada estante cabem 300 livros, temos 300.000 livros que não têm mais estantes para serem exibidos nas livrarias. Como faz para repor esse espaço perdido para os livros? Como as editoras vão ter condições de fazer tiragens maiores? A escala, que já não era muito elevada, vai despencar. Que outros espaços podem ser utilizados em substituição?

Voltando a Monteiro Lobato, ele encontrou a seguinte saída:

Desconsiderando o “Vossa Senhoria não precisa inteirar-se do que essa coisa é”, que alternativas nós encontraremos?

A certeza é que não existem saídas individuais, nem para um setor específico, nem para as economias dos países. A única saída é com ações e respostas globais, de interdependência, no sentido de envolver todos. Teremos essa capacidade? Venceremos a animosidade lá do início do texto?

Com esperança e trabalho cooperativo, sim!


* Sobre Jaime Mendes - Desde janeiro de 2020 Jaime Mendes reside em Portugal onde cuida da empresa Nova Guanabara, do Grupo GEN, que distribui os livros do grupo para o mercado português e para outros países da Europa e África. Ele trabalha com livros desde 1981 quando, ao entrar para a faculdade de História no IFCS/UFRJ, foi um dos responsáveis pela cooperativa dos estudantes. Em 1986, já formado e com o fim da cooperativa funda, com mais quatro amigos, a Livraria Bruzundangas no próprio IFCS. Sai da sociedade em 1988 ao ser contratado pelo Arquivo Nacional | MJ. Em 1992 foi um dos sócios-fundadores da Contra Capa Livraria. Em 1995 pediu exoneração do emprego público para se dedicar exclusivamente à livraria que abriu a segunda loja em 1998, no Leblon. Jaime deixa a sociedade, por opção pessoal, em setembro de 1999. Em outubro desse mesmo ano entrou na editora Zahar, onde trabalhou por quase 12 anos, na função de gerente comercial. Entre maio de 2011 e novembro de 2012 trabalhou na editora Cosac Naify em São Paulo onde exerceu a função de diretor comercial. De janeiro de 2013 a dezembro de 2019 exerceu as funções de diretor comercial no GEN | Grupo Editorial Nacional, holding fundada em 2007, e que é líder no segmento de publicações e conteúdos CTP (científico, técnico e profissional) no Brasil.

** As ideias expostas não representam as de quaisquer empresas ou instituições a que estou ou estive vinculado.

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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[20/05/2020 08:20:00]