Nova editora em Portugal vai publicar livros escritos por autores brasileiros
PublishNews, Talita Facchini, 14/08/2024
A Língua Mátria foi idealizada por Jaime Mendes e Bianca Vivarelli e pretende focar na diversidade de títulos e temas

Portugal vai ganhar uma nova editora para publicar livros em português, a Língua Mátria. Idealizada por Jaime Mendes – profissional do mercado com passagens pela Cosac Naify, Zahar e GEN e um dos sócios fundadores da Saudade Livraria e Distribuidora – e Bianca Vivarelli, psicanalista, cantora e musicoterapeuta, a nova casa editorial pretende levar obras de autores brasileiros para a Europa.

Logo da Língua Mátria, desenvolvido por Tereza Bettinardi
Logo da Língua Mátria, desenvolvido por Tereza Bettinardi
Conhecedor do mercado editorial português, Jaime entendeu as especificidades do país desde que iniciou a operação da Saudade, em 2020: com 10,4 milhões de habitantes e o tamanho do estado de Pernambuco, o mercado português vende por ano 13 milhões de exemplares e valoriza a diversidade de títulos.

Pensando nisso – e no fato de perder oportunidades de importar determinados autores brasileiros que muitas vezes fazem sucesso no país e têm os direitos comprados por editoras portuguesas –, Jaime e Bianca decidiram que era hora de fazer o negócio sair do papel. “Aqui, eu acabo sendo uma espécie de embaixador da edição brasileira em Portugal, porque estou abrindo essas fronteiras. Eu estou gerando essa demanda e estou mostrando toda a diversidade”, explica Jaime. “A partir da distribuidora, eu percebo antes o que é que pode ser interessante pra cá e também posso publicar muitos títulos que as editoras portuguesas não vão publicar aqui”.

Além da questão dos direitos autorais e de trazer uma maior visibilidade à literatura brasileira, o ponto da comercialização e distribuição também pesou na decisão de abrir um novo negócio. “O livro importado tem um custo muito maior. O custo para trazer o livro para cá é cerca de 20% do preço de capa ou 40% do custo líquido”, explica.

Sobre a linha editorial, a Língua Mátria pretende focar na diversidade. “Todos os livros com questões de racismo, de xenofobia, de homofobia... são poucas as editoras que vão publicar por aqui. E eu vendo bem”, conta Mendes. Ele dá o exemplo de Djamila Ribeiro: o livro Cartas para minha avó foi publicado em Portugal, “mas o Pequeno manual antirracista ainda não. E a questão do racismo é algo que eu quero martelar muito por aqui”, comenta.

Jaime conta ainda que mesmo que as editoras não publiquem livros com essa diversidade de temas, os leitores procuram por eles. “Eles adoram. Nas feiras do livro tenho estantes só com livros de racismo, feminismo, LGBTQIAP+ e as pessoas compram. Vende bem”. Vale ressaltar que o “vender bem” em Portugal é diferente de “vender bem” no Brasil. “Vendo algumas dezenas, mas de muitos títulos, o mais importante para mim é essa diversidade”, especifica.

Segundo levantamento feito por sua equipe, 224 autores brasileiros estão publicados em Portugal, incluindo 17 em domínio público.

Primeiros planos

A Língua Mátria chega para aumentar esses números, primeiramente, com dois títulos que estão na fase final de fechamento de contrato: A filha primitiva, de Vanessa Passos, e O diário de Pilar na Grécia, de Flávia Lins e Silva, e que Jaime indicou para a Zahar anos atrás. A ideia é que as obras sejam publicadas até o final do ano.

Jaime frisa que só trabalhará com autoras e autores que escrevem em português. “Porque exatamente quero dar muita visibilidade para a maioria dos autores que não estão no radar, para quem está começando, esse é o objetivo”, comenta.

A questão da distribuição também é uma vantagem da Língua Mátria. “Eu já tenho a distribuição em Portugal pela Saudade”, diz ele, fazendo questão de lembrar que são empresas diferentes e separadas comercialmente.

A identidade visual da editora ficou à cargo da designer Tereza Bettinardi. “A marca da Língua Mátria buscou representar o que nos une para além do próprio idioma. Pensamos na representação gráfica do oceano que também nos conecta e torna possível tantas conexões culturais”, explicou Tereza ao PN. A ideia da editora também é manter as capas originais publicadas no Brasil. “O design gráfico brasileiro, na produção gráfica, é muito melhor”, elogia Jaime.

[14/08/2024 08:00:00]