Algo incontestavelmente tradicional no universo das artes são as premiações.
O recebimento de um prêmio, além de inflar os agraciados de orgulho e satisfação, também se mostra um excelente propulsor de vendas. Quem nunca resolveu folhear com certa curiosidade uma obra abarrotada daquelas chamativas folhas de louro na capa?
Com os audiolivros não poderia ser diferente. Contudo, como sua expansão foi mais intensificada somente nos últimos anos, muito na esteira da massificação dos smartphones, ainda são poucas as premiações existentes.
No bilionário mercado americano de audiolivros, um evento anual é motivo de alta expectativa para os editores, narradores, produtores e demais integrantes dessa indústria: o Audie Awards. Organizado pela influente Audio Publishers Association (APA), o Audie Awards possui, assim como o Oscar, 24 categorias cujos vencedores são revelados em uma cerimônia cheia de gala, black-ties e vestidos esvoaçantes.
No último dia 5 de março, realizou-se a 24ª edição do Audie Awards, em Nova York. A condução da cerimônia ficou a cargo de Tan France, especialista em moda da série Queer Eye, sendo ele mesmo um narrador de três audiolivros (destes, dois são obras biográficas escritas pelo próprio).
Ao analisarmos os premiados nas categorias mais relevantes, é possível extrair algumas interessantes observações deste próspero mercado.
Audiolivro do ano
A mais importante categoria da premiação. São avaliados, além da excelência no conteúdo e produção - um binômio que nem sempre caminha junto -, os esforços de marketing e publicidade, o sucesso comercial, e seu papel na formação de novos apreciadores de audiolivros.
A produção que leva este prêmio é considerada quase uma embaixadora do segmento. Algo como: “Quer começar a ouvir audiolivros? Que tal iniciar pelo melhor do ano?”.
Turpin, que em 2018 abocanhou o Audie de melhor narradora, impressiona por sua caracterização vocal dos personagens e pelas nuances dramáticas. Embora tenha recebido algumas críticas pela pronúncia por vezes infiel de alguns trechos em Yorubá – sim, quanto mais maduro o mercado de audiolivros, mais exigente é o público.
No ano passado, a obra Lincoln in the Bardo recebeu este mesmo prêmio. Mas, diferentemente de Children of Blood and Boné que segue a linha mais clássica dos audiolivros com somente uma pessoa narrando integralmente o livro, Lincoln in the Bardo contava com 166 vozes captadas num monumental processo de gravação em 17 estúdios diferentes.
Melhor Narrador
A voz de Edoardo Ballerini, embora cative e seja agradável, não é extremamente marcante. Contudo, sua habilidade na construção das histórias, e a riqueza que concede aos diferentes personagens, tornam-no um grande narrador. Não à toa, recebeu essa premiação por sua narração para Watchers, de Dean Koontz, publicado pela editora de audiolivros Brilliance Publishing.
Na sala de gravação, há um objeto que nunca falta para Ballerini: um travesseiro. Ele o usa para cobrir a barriga e evitar que barulhos estomacais causem sons indesejados. Explica-se: ao gravar um audiolivro, são utilizados microfones de alta sensibilidade que captam os mais ínfimos ruídos corporais.
Ballerini é um dos casos cada vez mais comuns de atores que tiveram destaque mediano no cinema ou teatro, mas que atingiram maior sucesso na carreira de narrador, chegando a deixarem de lados papéis em outros segmentos para se dedicarem à arte da narração.
Claro, muitos dos narradores que abraçam vigorosamente esta atividade não o fazem exclusivamente pela arte. Hoje, a briga pelos direitos de áudio de um livro com potencial de sucesso é nada menos que feroz. Não sendo raro que grandes plataformas como a Audible, ou mesmo editoras de áudio, como a própria Brilliance, arranquem das editoras dos livros impressos esses direitos. Isso torna os cachês para os narradores destes audiolivros, igualmente polpudos.
Melhor narradora
Enorme sucesso comercial, o audiolivro Educated, originário do livro escrito por Tara Westover e publicado pelo braço de áudio da Penguin Random House [por aqui, o livro recebeu o nome de A menina da montanha e teve a versão impressa publicada pela Rocco], recebeu a cuidadosa - e agora premiada- narração de Julia Whelan. Além de conquistar esta categoria, Educated também foi considerado o melhor audiolivro de Autobiografia/Memória.
Essencialmente uma narradora de audiolivros de ficção, ela explicou em uma entrevista que recebe poucas propostas para gravar não ficção por ser uma mulher. Whelan creditou isso ao fato de que a maioria dos livros deste gênero é escrito e consumido por homens, ou que talvez tenha sido formada no inconsciente de nossa cultura, uma errônea concepção de como uma voz “confiável” deve soar.
Seja como for, ela justamente recebeu o prêmio de Melhor Narradora por uma das poucas obras de não ficção de seu portfólio.
Com a progressiva expansão do mercado de audiolivros, a tendência é que surjam mais eventos deste gênero. Mas, será que em um dia passaremos também a ter uma categoria para audiolivro e conteúdo falado em outras premiações de relevo, a exemplo do que ocorre no Grammy com seu prêmio Best Spoken Word Album (que em 2019 premiou o audiolivro Faith: A Journey for All escrito e narrado pelo ex-presidente americano Jimmy Carter?).
Vou acompanhando por aqui com os olhos atentos e fones nos ouvidos.
André Calgaro é contador de histórias em áudio, empreendedor e pesquisador do universo do áudio digital. É fundador da Narratix, empresa especializada em áudio storytelling em vários idiomas, incluindo a produção de audiolivros, podcasts e outros conteúdos falados. Também criou a NarraKids, um selo editorial de áudio que oferece conteúdos premium voltados para crianças e famílias. Seu contato é andre.calgaro@narratix.com.br.
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