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O 'Oscar' do mercado americano de audiolivros
PublishNews, André Calgaro, 22/03/2019
Em artigo especialmente escrito para o PublishNews, André Calgaro (Narratix) conta detalhes do Audie Awards, evento que dá reconhecimento ao mercado americano de audiolivros

Algo incontestavelmente tradicional no universo das artes são as premiações.

O recebimento de um prêmio, além de inflar os agraciados de orgulho e satisfação, também se mostra um excelente propulsor de vendas. Quem nunca resolveu folhear com certa curiosidade uma obra abarrotada daquelas chamativas folhas de louro na capa?

Com os audiolivros não poderia ser diferente. Contudo, como sua expansão foi mais intensificada somente nos últimos anos, muito na esteira da massificação dos smartphones, ainda são poucas as premiações existentes.

No bilionário mercado americano de audiolivros, um evento anual é motivo de alta expectativa para os editores, narradores, produtores e demais integrantes dessa indústria: o Audie Awards. Organizado pela influente Audio Publishers Association (APA), o Audie Awards possui, assim como o Oscar, 24 categorias cujos vencedores são revelados em uma cerimônia cheia de gala, black-ties e vestidos esvoaçantes.

Tan France | © Divulgação
Tan France | © Divulgação
Como seria de se esperar de uma forma de arte em que a interação com seu conteúdo se dá ouvindo, parte dos premiados dificilmente seria reconhecida por sua aparência, mas, sim, pelo timbre vocal e por suas modulações interpretativas. À exceção de narradores muito consagrados, como Simon Vance e Robin Milles (ambos, por sinal, figuram em um Hall of Fame criado pela opulenta plataforma Audible para homenagear os mestres da narração) e, claro, de celebridades da indústria cinematográfica e da música, tipos cada vez mais atuantes nos audiolivros.

No último dia 5 de março, realizou-se a 24ª edição do Audie Awards, em Nova York. A condução da cerimônia ficou a cargo de Tan France, especialista em moda da série Queer Eye, sendo ele mesmo um narrador de três audiolivros (destes, dois são obras biográficas escritas pelo próprio).

Ao analisarmos os premiados nas categorias mais relevantes, é possível extrair algumas interessantes observações deste próspero mercado.

Audiolivro do ano

A mais importante categoria da premiação. São avaliados, além da excelência no conteúdo e produção - um binômio que nem sempre caminha junto -, os esforços de marketing e publicidade, o sucesso comercial, e seu papel na formação de novos apreciadores de audiolivros.

A produção que leva este prêmio é considerada quase uma embaixadora do segmento. Algo como: “Quer começar a ouvir audiolivros? Que tal iniciar pelo melhor do ano?”.

Bahni Turpin | © Divulgação
Bahni Turpin | © Divulgação
A glória deste ano ficou com o Children of Blood and Bone, de Tomi Adeyemi, narrado por Bahni Turpin e publicado pela Macmillan Audio [aqui no Brasil, o livro em papel é publicado pelo selo Fantástica, da Rocco]. Um livro elogiadíssimo que deu origem a um audiolivro poderoso, muito em decorrência do trabalho de narração.

Turpin, que em 2018 abocanhou o Audie de melhor narradora, impressiona por sua caracterização vocal dos personagens e pelas nuances dramáticas. Embora tenha recebido algumas críticas pela pronúncia por vezes infiel de alguns trechos em Yorubá – sim, quanto mais maduro o mercado de audiolivros, mais exigente é o público.

No ano passado, a obra Lincoln in the Bardo recebeu este mesmo prêmio. Mas, diferentemente de Children of Blood and Boné que segue a linha mais clássica dos audiolivros com somente uma pessoa narrando integralmente o livro, Lincoln in the Bardo contava com 166 vozes captadas num monumental processo de gravação em 17 estúdios diferentes.

Melhor Narrador

A voz de Edoardo Ballerini, embora cative e seja agradável, não é extremamente marcante. Contudo, sua habilidade na construção das histórias, e a riqueza que concede aos diferentes personagens, tornam-no um grande narrador. Não à toa, recebeu essa premiação por sua narração para Watchers, de Dean Koontz, publicado pela editora de audiolivros Brilliance Publishing.

Edoardo Ballerini | © Divulgação
Edoardo Ballerini | © Divulgação
Ballerini, que também é ator e possui no currículo filmes e séries (incluindo uma participação em The Sopranos) tem uma produtividade absolutamente invejável. Já narrou mais de 250 títulos, incluindo o incrivelmente extenso My Struggle, de Karl Ove Knausgaard, obra de 133h, dividida em seis audiolivros e gravada ao longo de cinco anos.

Na sala de gravação, há um objeto que nunca falta para Ballerini: um travesseiro. Ele o usa para cobrir a barriga e evitar que barulhos estomacais causem sons indesejados. Explica-se: ao gravar um audiolivro, são utilizados microfones de alta sensibilidade que captam os mais ínfimos ruídos corporais.

Ballerini é um dos casos cada vez mais comuns de atores que tiveram destaque mediano no cinema ou teatro, mas que atingiram maior sucesso na carreira de narrador, chegando a deixarem de lados papéis em outros segmentos para se dedicarem à arte da narração.

Claro, muitos dos narradores que abraçam vigorosamente esta atividade não o fazem exclusivamente pela arte. Hoje, a briga pelos direitos de áudio de um livro com potencial de sucesso é nada menos que feroz. Não sendo raro que grandes plataformas como a Audible, ou mesmo editoras de áudio, como a própria Brilliance, arranquem das editoras dos livros impressos esses direitos. Isso torna os cachês para os narradores destes audiolivros, igualmente polpudos.

Melhor narradora

Enorme sucesso comercial, o audiolivro Educated, originário do livro escrito por Tara Westover e publicado pelo braço de áudio da Penguin Random House [por aqui, o livro recebeu o nome de A menina da montanha e teve a versão impressa publicada pela Rocco], recebeu a cuidadosa - e agora premiada- narração de Julia Whelan. Além de conquistar esta categoria, Educated também foi considerado o melhor audiolivro de Autobiografia/Memória.

Julia Whelan | © Divulgação
Julia Whelan | © Divulgação
Os audiolivros narrados por Julia Whelan (que assim como os outros narradores citados acima é também uma atriz), são sempre precedidos de pesquisa sobre pronúncias, sotaques e, muitas vezes, as discussões sobre estas abordagens ocorrem diretamente com os autores. Todo este trabalho de análise é forjado por sua voz envolvente e de leve rouquidão no final das sentenças. Seus personagens são críveis, e Whelan consegue estruturar as progressões narrativas de forma habilidosa. O audiolivro The Witness de Nora Roberts, narrado por Whelan também ergueu um Audie na categoria Romance em 2013.

Essencialmente uma narradora de audiolivros de ficção, ela explicou em uma entrevista que recebe poucas propostas para gravar não ficção por ser uma mulher. Whelan creditou isso ao fato de que a maioria dos livros deste gênero é escrito e consumido por homens, ou que talvez tenha sido formada no inconsciente de nossa cultura, uma errônea concepção de como uma voz “confiável” deve soar.

Seja como for, ela justamente recebeu o prêmio de Melhor Narradora por uma das poucas obras de não ficção de seu portfólio.

Com a progressiva expansão do mercado de audiolivros, a tendência é que surjam mais eventos deste gênero. Mas, será que em um dia passaremos também a ter uma categoria para audiolivro e conteúdo falado em outras premiações de relevo, a exemplo do que ocorre no Grammy com seu prêmio Best Spoken Word Album (que em 2019 premiou o audiolivro Faith: A Journey for All escrito e narrado pelo ex-presidente americano Jimmy Carter?).

Vou acompanhando por aqui com os olhos atentos e fones nos ouvidos.

André Calgaro é contador de histórias em áudio, empreendedor e pesquisador do universo do áudio digital. É fundador da Narratix, empresa especializada em áudio storytelling em vários idiomas, incluindo a produção de audiolivros, podcasts e outros conteúdos falados. Também criou a NarraKids, um selo editorial de áudio que oferece conteúdos premium voltados para crianças e famílias. Seu contato é andre.calgaro@narratix.com.br.

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