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Torelli – A CBL irá buscar um maior protagonismo
PublishNews, 25/02/2015
Felipe Lindoso entrevista Luis Antônio Torelli, candidato à presidência da CBL

O editor Luís Antonio Torelli, da Trilha Educacional, será eleito presidente da CBL na eleição para o Biênio 2015-2017, por chapa única, que acontece amanhã (26). Torelli, que já tem uma longa carreira no mercado editorial, foi presidente da Associação Brasileira de Difusão do Livro (ABDL) e já participou das últimas diretorias da entidade que reúne editores, livreiros e distribuidores. Depois da confirmação da inscrição de sua chapa “Mais livros em todos os sentidos”, entrevistei o novo presidente da CBL. Abaixo, suas principais declarações. Eventuais comentários meus aparecem em itálico.

Torelli é uma pessoa afável – como é necessário em sua vida de bom vendedor de livros – e vem construindo seu pensamento sobre os problemas da entidade já há vários anos, inclusive como representante da CBL no Conselho Nacional de Política Cultural e na Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC). Declarou-se como uma pessoa de diálogo, disposto a conversar para alcançar consensos nas ações que pretende desenvolver à cabeça da entidade.

Tanto a afabilidade quanto o diálogo reforçam sua posição, muito clara: a necessidade de aumentar o protagonismo da entidade não apenas nas discussões, mas nas propostas e nas ações relacionadas com as políticas para o livro e a leitura no Brasil.

Quando perguntado sobre um dos pontos chaves de sua plataforma, a de que a administração do PNLL poderia ser feita “por uma ou mais organizações sociais”, Torelli elaborou a resposta a partir das discussões sobre a criação do fundo para o desenvolvimento das bibliotecas e programas de leitura, que havia sido acordada quando da promulgação da desoneração das editoras, já lá em 2003.

“Há uns dois ou três anos chegou a ser feita uma proposta para arrecadar esses recursos, em um mecanismo parecido com os do Sistema S. O Ministério da Fazenda argumentou que o custo que teria para arrecadar seria maior que o resultado. Isso colocou uma pá de cal no assunto, e a partir daí não aconteceu mais nada. O Instituto Pro-Livro não arrecada mais nada, também está parado. A proposta de usar uma OS para gerir recursos para o PNLL vem um pouco daí.

Você sabe que as mudanças na administração dos órgãos relacionados com o livro no governo federal paralisaram as discussões sobre qualquer coisa por mais de um ano, inclusive no CNPC. Quando coloco a necessidade e a importância da CBL ser mais protagonista nas questões das políticas para o livro e da leitura, isso vem um pouco daí. Nosso setor não pode mais ficar dependente de que essas coisas aconteçam no ritmo da administração pública, que é determinado por circunstâncias que dizem respeito a todo país. Então, temos que tomar iniciativas. Pois, quando fazemos isso, as coisas podem começar a acontecer. Existem coisas que a CBL pode fazer e não depende do governo. E outras, quando se leva uma proposta com começo, meio e fim, podem romper impasses. O que não dá é para ficar só na plateia, assistindo as coisas. Temos que encontrar os caminhos e apontar soluções, através do diálogo e do consenso.”

A pesquisa de produção editorial, que é patrocinada conjuntamente pela CBL e pelo SNEL, e atualmente executada pela FIPE, é objeto de preocupações.

“É sempre uma complicação. Não pode parar, mas há coisas que precisam ser vistas mais de perto. Alguns resultados não satisfazem, não encaixam. Houve um momento em que percebi que a pesquisa estava sendo mais um incômodo do que um fator positivo de apresentação de resultados e útil para os sócios. Isso deve ser mais bem discutido. O que queremos? A pesquisa vira um monstro de dificuldades. E o pior é que acho que é pouco usada depois. Uma parcela grande dos associados não tem a menor ideia do que fazer com ela. Fazer esse esforço só para dizer que vendeu mais ou menos livros é pouco. Mas isso tem que ser consensuado com o SNEL. Poderíamos dar uma parada e pensar melhor nisso, com a Nielsen, a GfK, seja com quem for. Precisamos pensar mais em pesquisas domiciliares”.

Nessa altura comentei com o Torelli o trabalho que é feito pela BISG – Book Industry Study Group-, dos editores dos EUA, inclusive do papel normalizador que essa instituição desempenha. O novo presidente da CBL ficou interessado em saber mais sobre o assunto.

Sobre a proposta de Lei de Direitos Autorais, Torelli disse que estava atento, mas que era necessário aguardar a formação da equipe do retornado ministro Juca Ferreira, e quais as propostas que serão apresentadas. Mas está disposto a ser mais propositivo, com uma atuação mais incisiva nessa discussão. Assinalou, entretanto, que na conversa que já teve com Juca Ferreira sentiu uma disposição maior para o diálogo. “Às vezes penso que ele nem sabia direito o impacto que aquilo estava provocando no meio editorial”, comentou. “Mas sinto uma disposição para o diálogo.

Oxalá, pensei com meus botões.

A gama de questões tratadas na entrevista foi bastante extensa:

Programas de apoio à leitura

“Precisamos de maneiras mais eficazes de promover a leitura no Brasil. O que foi feito, principalmente propaganda na TV, é caro e não teve continuidade. E não me lembro mais de nenhuma iniciativa ampla, exceto o Prêmio do PNLL, que também andou parado, descontinuado. Existem esforços de pessoas e instituições pelo Brasil afora, que são louváveis e importantes, mas não há nada realmente mais amplo, a nível nacional.

Não podemos morrer com a afirmação de que as crianças não leem porque os professores não são leitores. Os pais também não são. Todos sabemos disso. O que podemos fazer? Que ideias existem, com começo, meio e fim? Você viaja pelo Brasil e vê bibliotecas lotadas de gente, e com as deficiências que têm. A questão do acesso é fundamental.

Essa coisa das escolas obrigarem as crianças a ler um livro de um determinado autor. Temos que perder o pudor de dizer que só valem os livros dos grandes e consagrados autores. O hábito de leitura se cria dando oportunidade de escolher o que ler. Os garotos escolhem tudo, menos o que ler. Assim não vai avançar.

Temos que chamar todos os componentes dessa cadeia para tentar construir algumas propostas com começo, meio e fim. E se tiver que corrigir, voltar atrás, sabemos que a ideia inicial foi consensual, e que o recuo também deve ser discutido. Não há condições de impor projetos, por melhores que sejam. É preciso haver uma discussão prévia e um consenso sobre as ações. E considero que a CBL tem o pique e a força para desenvolver esses projetos e assim assumir um maior protagonismo na política de fomento à leitura. Não sei se conseguiremos fazer isso em dois anos, mas é preciso começar com essa perspectiva.”

Feiras de livros

Torelli também pretende lutar para que seja retomado o projeto de pequenos subsídios para as feiras de livros, que são grandes motivadoras da leitura.

“Recebemos muitas consultas e pedidos para apoiar feiras. A CBL pode montar um “be a bá” com as condições para esse apoio seja dado, com todos os requisitos para que as feiras funcionem bem”.

Lembrei que a instituição já teve algo semelhante. Nas administrações de Altair Brasil e Raul Wassermann, o Circuito Paulista de Livros, feito em colaboração, na época, com a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, promovia feiras pelo interior com essas condições. A Feira de Ribeirão Preto nasceu assim, e é um dos melhores exemplos de sucesso desse tipo de iniciativa.

Bienal

A Bienal Internacional do Livro de S. Paulo não poderia ficar fora da conversa. Questionei Torelli sobre o fato de que, há duas Bienais, a área vendida diminuiu, e existem reclamações sobre os estandes com saldos e a eterna barulhada das crianças. Mencionei o exemplo da Feira de Guadalajara como uma possível solução para a área infantil e juvenil.

Torelli respondeu: “Os vendedores de saldos compram dos editores, e querem vender. E são sócios da CBL e pagam pelo espaço. Mas eles também têm um problema com a Bienal. Dois ou três que não participaram da última me disseram que o custo é alto demais. É preciso vender muito, e com a margem reduzidíssima, isso fica cada vez mais difícil. Existem propostas para colocar os vendedores de saldos em área separada, e essa ideia é do agrado de pessoas com quem conversei. E também a possibilidade de promover outras feiras em locais de grande trânsito de pessoas e custo menor. Não sei se isso é possível, mas é uma equação a ser estudada.

As deficiências do Anhembi têm que ser enfrentadas. Fiz uma reunião com o secretário de Turismo da Prefeitura – com a Reed presente – e discutimos as questões de infraestrutura, como os problemas com internet, por exemplo. O secretário disse que o problema será resolvido, assim como as questões de sinalização. O secretário se mostrou muito aberto, e disposto e a implementar propostas que fossem levadas, desde que não chocassem com o projeto de revitalização já aprovado pelo prefeito Fernando Haddad. Essa, então, é uma tarefa imediata, para que a Bienal de 2016 possa ser feita com sucesso.

Tivemos dificuldades de comunicação, por exemplo, com o pessoal do Metrô, que não sabia informar aos usuários onde tomar os ônibus gratuitos que levavam ao Anhembi. Um absurdo.

Torelli disse que iria à Feira de Guadalajara este ano, e que está disposto a enfrentar os problemas assinalados, “com diálogo”, o que parece ser uma palavra-chave para o novo Presidente da CBL.

Metadados

Conversamos ainda sobre questões de logística, o fracasso do CANAL, que partia do uso do ISBN para a construção do banco de dados e recolhimento das informações de metadados. Depois de gastar muito dinheiro com o projeto “gratuitamente” cedido pelos espanhóis, o assunto está parado, mas não nos projetos do novo presidente, que já marcou reuniões sobre o assunto.

Todos esses temas serão acompanhados, na prática, na verificação de como se desenvolverá a nova administração. Deixo aqui os melhores votos de sucesso para o novo presidente da CBL e sua equipe, prometendo estar atento às suas ações e comentá-las no devido tempo.

****

Aguardo comentários e questões no blog www.oxisdoproblema.com.br, no qual escrevo com a possível regularidade, além das colunas no PublishNews.

Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura, política para o livro, pela Summus Editorial. Mantêm o blog www.oxisdoproblema.com.br. Em sua coluna, Lindoso traz reflexões sobre as peculiaridades e dificuldades da vida editorial nesse nosso país de dimensões continentais, sem bibliotecas e com uma rede de livrarias muito precária. Sob uma visão sociológica, ele analisa, entre outras coisas, as razões que impedem belos e substanciosos livros de chegarem às mãos dos leitores brasileiros na quantidade e preço que merecem.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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