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FIL niños – Outro Planeta
PublishNews, 04/12/2012
FIL niños – Outro Planeta

Todos que frequentam as Bienais do Livro – do Rio e de S. Paulo – enfrentam a balbúrdia e a barulheira da chamada “visitação escolar”. Assim são chamados os programas que promovem a visita de alunos, de escolas públicas e particulares, às feiras. Além das bienais mais antigas, essa prática vem se expandindo na maioria das iniciativas de feiras de livros.

A razão e justificativa dessas visitas é sempre a de colocar as crianças em contato com os livros, com a diversidade de oferta que se apresenta nos grandes eventos.

Só que, na realidade, o que se vê é uma confusão absolutamente desorganizada. A garotada para nos estandes de algumas editoras que apresentam “atrações”: mocinhas que pintam tatuagens laváveis, contadores de histórias (a melhor das opções), palhaços e mímicos... e por aí vai. Quando não põem para tocar nos estandes músicas em uma altura que se equipara à inanição das letras.

Nenhum adulto de bom senso se atreve a ir às feiras nos “horários escolares”. A meninada correndo, o barulho, a confusão, nada contribui para quem queira procurar um livro.

Por outro lado, as editoras de livros infantis e juvenis – que muitas vezes convocam, através de seus divulgadores, os alunos de algumas escolas para que visitem seus estandes – argumentam que esse é um dos aspectos mais importantes e positivos das feiras. Afinal, em boa parte delas, os governos municipais ou estaduais desenvolvem programas de cheques-livros ou similares, que permitem que os alunos adquiram algum exemplar do que queiram.

Quem observa as bienais já constatou, à farta, que os livros adquiridos são os que estão nos estandes de saldos. Estandes que não têm o menor pudor em colocar os preços precisamente no valor desses cheques ou vales dados pelas secretarias de educação. No que, obviamente, atuam apenas como comerciantes que tentam recuperar seu investimento.

Já disse em outra ocasião que considero o mercado de saldos um elementos importante da circulação de livros em nosso país carente de livrarias. Mas não nas bienais e feiras de livros, onde a ênfase deveria se dar na apresentação das novidades.

O fato é que essas visitas conseguem irritar muita gente e fazem a felicidade de alguns segmentos do mercado editorial, e todos acabam tolerando isso em nome da bendita oportunidade de apresentar os alunos aos livros.

Em suma, todos pagam o ônus no altar de abrir os olhos das crianças e jovens para o mundo dos livros.

Mas, será essa a única opção para interessar os estudantes em livros, ajudada por palhaços,tatuadores e maquiadores?

Na minha recente estada na Feira Internacional do Livro de Guadalajara tive oportunidade de ver mais de perto um programa que estava começando da última vez que estive lá, em 2001: o FIL NIÑOS.

FIL NIÑOS teve este ano um mote: “É Outro Planeta!”

E é mesmo.

A ideia, na verdade, é muito simples, e repousa em alguns pilares:

1) Espaço separado para as atividades com os escolares. As pessoas que entram para a FIL podem acessar a área infantil, em horários predeterminados nos dias para profissionais (nesses dias, somente após as 17 horas, quando a FIL abre para o público em geral), mas as crianças que participam da programação não “vazam” para dentro da área de adultos;

2) Os escolares chegam ali com uma programação estruturada que dura três horas: oficinas de atividades adequadas para os grupos etários; hora do lanche e espetáculo teatral ou musical em torno dos temas de livros e leituras; visita aos estandes das editoras e livrarias de livros infantis que estão dentro do espaço;

3) Os estandes de editoras e livrarias são sempre daquelas que também têm espaços na área de adultos. Como o espaço é reduzido e há espaço para estandes de patrocinadores, há sempre fila de esperas (acho que poderiam aumentar a área e abrigar mais expositores);

4) As oficinas são pagas a preços subsidiados, pois são preparadas e ofertadas pelos patrocinadores especiais da FIL NINÕS. Os preços são muito baixos: adultos, 20 pesos (R$ 3,2); crianças, estudantes e professores com credencial, 15 pesos (R$ 2,4);

5) Escolas públicas de áreas carentes se inscrevem e estão presentes graças ao programa FILantropia: empresas que pagam uma cota para custear as despesas das escolas – ônibus, participação nas oficinas, lanche, espetáculo, camiseta e um livro. Mas há um detalhe: o patrocínio inclui entregar um peso às crianças, para que “paguem” o livro que recebem. Os patrocinadores maiores, que têm estandes, podem ser tanto instituições públicas – a Secretaria de Educación Pública, o MEC mexicano, por exemplo, e a CONACULTA, o órgão executivo do Ministério da Cultura – ou particulares, que incluem editoras (SM, Alfaguara), fundações e empresas diversas: Infinitum (provedor de banda larga), Kinder Ovo, Faber Castell, Megacable (outra provedora de banda larga e TV a cabo), Kodak, etc. São os “padrinhos” da FIL NIÑOS.

Segundo Ana Luelmo, a coordenadora de FIL NIÑOS, este ano foram cadastradas 185 escolas públicas e particulares, com um total de 22.000 estudantes. Além desses, nos dias e horários de acesso ao público geral, crianças acompanhadas dos pais entram pela exposição principal e passam para a área infantil, onde podem participar das oficinas e assistir os espetáculos. Os estudantes que vão com as escolas cadastradas, entretanto, não podem passar para a área de adultos. São razões de segurança e também para evitar a balbúrdia de grupos soltos, segundo Luelmo.

As oficinas são estruturadas por grupos de idade: de 3 a 6 anos; de 7 a 9 anos e de 10 a 12 anos. Todas duram cinquenta minutos e começam na hora cheia. Alguns exemplos de oficinas:

De 3 a 6 anos:

- La máquina del tempo (Educação ambiental) – Oficinistas Áurea Ayón e Julia LimenezLandey. Há muitíssimos anos os maias escreveram um segredo em seu livro sagrado, o Popo l Vuh. Nesta oficina você viajará em uma máquina do tempo para conhecer o Grande Xamã, que contará histórias de quando o mundo era novo e foi criado pela primeira vez. Você também trará ao futuro a árvore sagrada e poderá dar nova vida ao planeta.

De 7 a 9 anos:

- Las puertas del assombro (Filosofia) – Oficinista – Assombratorium. Aprender a perguntar é a porta para todas as respostas. Nesta oficina as ideias de grandes filósofos se traduzirão em exercícios divertidos que encherão sua mente de assombros e lhe permitirão descobrir que um mundo se abre cada vez que você formula perguntas. Aqui você aprenderá a capacidade para questionar, inventar e comparar de forma divertida.

De 10 a 12 anos:

- El planeta del Jubo-Jubo (Improvisações literárias). Oficinistas: José Castillo e Marisa Herzlo. O mais famoso orador de limericks é o Chapeleiro Maluco. Essa poesia do absurdo, onde as palavras ricocheteiam e riem, oferecem uma aproximação apaixonante às letras. Acompanhados pelos limericks de Lewis Carrol e Edward Lear, você criará seus próprios jogos e escreverá quantas rimas lhe apeteçam em um exercício dinâmico de imaginação.

Evidentemente não se trata de transplantar a experiência de FIL NIÑOS para outras feiras. Mas a pergunta que não quer calar é: os representantes da CBL que estavam lá na Feira de Guadalajara se deram o trabalho de visitar a área infantil? Será que eventualmente isso não lhes provocou comichões que possam contribuir para mudar a nossa espantosa, anárquica (no mal sentido) e barulhenta visitação escolar? E o mesmo vale para o pessoal do SNEL. Afinal, os editores (alguns) estavam lá.

Será que ainda querem, e têm capacidade e imaginação para aprender alguma coisa?

Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura, política para o livro, pela Summus Editorial. Mantêm o blog www.oxisdoproblema.com.br. Em sua coluna, Lindoso traz reflexões sobre as peculiaridades e dificuldades da vida editorial nesse nosso país de dimensões continentais, sem bibliotecas e com uma rede de livrarias muito precária. Sob uma visão sociológica, ele analisa, entre outras coisas, as razões que impedem belos e substanciosos livros de chegarem às mãos dos leitores brasileiros na quantidade e preço que merecem.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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