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A Feira de Guadalajara
PublishNews, 27/11/2012
A Feira de Guadalajara

Depois de uma cansativa viagem de vinte e oito horas, que incluiu uma decolagem abortada em um avião da Embraer, cheguei a Guadalajara para participar de uma mesa no evento "La Otra Mirada", no fórum Internacional de Editoras. O tema foi o desafio digital: seria possível criar uma rede de distribuição de conteúdos digitais fora das "redes dominantes" e das grandes corporações?

Eu estava na companhia de Javier Sepúlveda, da Ebooks Patagônia, Blanca Rosa Roca, da Roca Editorial e da Barcelona Ebooks, e de Buenaventura Porcel, do grupo Trevenque, mediados pelo colega colunista do PublishNews, Octávio Kulesz.

A conclusão geral foi a de que sim, é possível, mas com muitas dificuldades.

Gostei muito da apresentação de Blanca Rosa Roca, que põe a mão na massa e procura distribuir por todos os canais possíveis, incluindo também as grandes corporações. Seus livros estão na Amazon, Apple e são distribuídos no México pela Random House Mondadori (a mesma que se associou recentemente à Penguin e que, portanto, passa a ser sócia da Cia. das Letras).

Na minha perspectiva, acredito que as livrarias poderão sobreviver no meio digital, se:

a) Juntos, os editores levarem a sério as questões dos metadados. Ser descoberto é o maior desafio do mundo digital, para editores e livreiros, e nisso eles serão parceiros ou cúmplices. Como já comentei várias vezes, a situação no Brasil no que diz respeito a isso é simplesmente catastrófica. Se editores e livreiros nacionais não se derem conta disso e começarem a levar o assunto a sério, a Amazon - e a Kobo - vão forçá-los a isso, e para sua vantagem, não das pequenas livrarias ou das editoras.

b) Quanto às livrarias, acredito ser imprescindível que organizem uma plataforma de vendas comum, nem que seja com um dos e-readers já existentes, como a ABA fez com a Kobo. Mas, sobretudo, é fundamental que criem um "ecossistema" onde os clientes/leitores possam navegar com a mesma fluidez como navegam na Amazon. Ou seja, precisam aprender a ser interdependentes para manter sua independência.

As condições para que isso aconteça não são impossíveis, mas certamente muito difíceis. As livrarias não conseguem se organizar para melhorar sua logística em comum, têm sérias deficiências de gestão, seus sistemas de informática não facilitam a busca de livros - já comentei sobre isso e não o farei novamente aqui - e enfrentam, no caso do Brasil, as facilidades abusivas que as editoras concedem às cadeias nas condições de venda dos best-sellers em descontos, por exemplo.

Mas o campo das possibilidades está em aberto.

A Feira de Guadalajara é um caso à parte. Conseguiu se colocar (bem abaixo de Frankfurt, evidentemente), como polo de negociações de direitos, tal como Bolonha e Londres.

Como é controlada pela Universidad de Guadalajara, os eventos de ordem acadêmica e profissional são muito intensos e significativos. Um detalhe importante: os horários de visitas para o público em geral e para os profissionais são diferenciados, o que permite a estes efetivamente encarar a feira como participantes de uma comunidade de negócios e não apenas como administradores dos estandes. Desse modo, a presença dos diretores das empresas é muito mais significativa que nas nossas Bienais, por exemplo.

As atividades para crianças e escolares se desenvolvem principalmente em um pavilhão separado, o que diminui muito a balbúrdia da molecada circulando entre os estandes. Devo dizer, entretanto, que como estou aqui nos dias profissionais, talvez essa minha percepção possa ser equivocada.

Outro grande achado de Guadalajara foi a de convidar e pagar passagens e hospedagens para bibliotecários americanos, que para cá vêm com recursos para aquisição de acervos. Infelizmente a crise por lá fez diminuir muito essa fonte de recursos, mas a iniciativa continua, inclusive com encontros profissionais para bibliotecários.

Enfim, Guadalajara pode proporcionar vários exemplos de alternativas para a organização das nossas duas grandes e polêmicas Bienais do livro, a do Rio e a de São Paulo. Resta saber se os responsáveis pela organização delas estão atentos e dispostos a aprender e melhorar.

Isso, porém, tal como a sobrevivência das livrarias no meio digital, só o tempo dirá.

Felipe Lindoso é jornalista, tradutor, editor e consultor de políticas públicas para o livro e leitura. Foi sócio da Editora Marco Zero, diretor da Câmara Brasileira do Livro e consultor do CERLALC – Centro Regional para o Livro na América Latina e Caribe, órgão da UNESCO. Publicou, em 2004, O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura, política para o livro, pela Summus Editorial. Mantêm o blog www.oxisdoproblema.com.br. Em sua coluna, Lindoso traz reflexões sobre as peculiaridades e dificuldades da vida editorial nesse nosso país de dimensões continentais, sem bibliotecas e com uma rede de livrarias muito precária. Sob uma visão sociológica, ele analisa, entre outras coisas, as razões que impedem belos e substanciosos livros de chegarem às mãos dos leitores brasileiros na quantidade e preço que merecem.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

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