Tenho comprado revistas boas ou estúpidas para ler sobre empresas, os mais diversos tipos, dos mais diversos lugares. Quero saber sobre estratégia, TI, criatividade, inovação e motivação e não sei como acharia esses assuntos em publicações ligadas à área em que trabalho, então leio sobre qualquer área. Acho que leria sobre outras áreas ainda se tivesse a opção de só ler sobre mercado editorial, porque sinto que meu cérebro gosta mais de ser expandido por possibilidades (“o que não fazemos”) do que ser limitado pela realidade (“o que e como se faz”).

Das principais coisas que me motivaram nessas revistas, três pequenas entrevistas foram o auge: uma minúscula com Mikhail Baryshnikov, uma maiorzinha com David Allen e Tony Schwartz e outra pequenina com Ferran Adrià.

Na entrevista deste último, ele diz que um problema comum a todos os setores é que “o pessoal no comando está sempre muito distante da pesquisa e do desenvolvimento (P&D). Quem toma as decisões deveria ter um canal direto com gente por trás de novas ideias e produtos”. Transferindo para nossa área, podemos começar (e terminar) dizendo que não é comum termos departamentos de P&D, o que temos mais frequentemente é fofoca (pesquisa) sobre o que a concorrência está produzindo e tentar fazer igual (desenvolvimento). Outra coisa intrigante é o que ele chama de “novos produtos”. Tenho dificuldade até para pensar em o que seria um novo produto pra gente. Ouço, em minha mente, um coro grego de editores definindo “Editora faz livro, e livro é sempre igual”. E o dono do El Bulli vai fechar o restaurante frequentemente considerado o melhor do mundo porque “a pressão para servir o público não permite a tranquilidade necessária para criar”! Rezo todo dia para o deus dos e-books continuar nos forçando a estudar mais, vejo neles uma possibilidade mais real de P&D.

Baryshnikov fala sobre decisões artísticas versus decisões administrativas em uma resposta, e isso dá assunto para um livro, uma série... Difícil esgotar esse assunto em nosso trabalho. Mas o que ele mais repete diz sobre “se despojar do ego” e “abrir oportunidade para os outros”. Lógico que isso é interessante de cima para baixo, e não a pobre da assistente editorial mais uma vez produzir uma apresentação que o diretor diz que foi ele que fez, por exemplo. Quer uma ideia? Vai pra Frankfurt, diretor? Leva a assistente! Leva um a cada feira internacional. Tem muita gente do editorial com excelente feeling para aquisições, mas outros podem ir apenas para conhecer pessoas, editoras, “a vida lá fora”.

Por fim, David Allen e Tony Schwartz falam sobre gerenciamento de energia mental e método para ter dias produtivos. Lógico que eles falam de trabalho, mas garanto que serve para os finais de semana sem frila também! Essa entrevista foi tão importante pra mim, que vou deixar pra vocês lerem inteira também. E, claro, não vou dizer os nomes das revistas porque, apesar de o Google facilitar tudo, qualquer pesquisa e qualquer desenvolvimento são irmãos...

Nada do que “os vencedores” falaram é novidade, eu sei. Mas por que coragem para inovar, despojamento de ego, criatividade, coaching, busca de preservação da energia mental dos funcionários e de si mesmo, método de trabalho, pesquisa, pesquisa, pesquisa (que é o que frequentemente publicamos!) não costumam ser parte do nosso cotidiano? Por que mirar no “vencedorzinho do bairro” quando podemos seguir, no mínimo, “o supervencedor”, que não raramente mirou apenas no “oceano azul” de si mesmo?