Publicidade
Publicidade
Novo modelo, novas formas
PublishNews, 13/08/2014
Novo modelo, novas formas

Ao se tornar dono de um livro físico, duas circunstâncias decorrem para o leitor, no campo dos fatos, (a) ele estará sempre ao seu dispor para a leitura, e (b) você poderá ler uma página, uma linha, ou todo o livro de uma jornada só. “Irra, mas que talento!” para fazer essas observações dignas do Pacheco (personagem de Eça de Queirós, característico por suas obviedades).

Num segundo plano, o da destinação do preço pago pelo leitor, geralmente 10% vão para o autor e o restante é dividido entre a livraria, distribuidor e editora, que por sua vez paga o papel, impressão, tradutor, revisor, capista, diagramador, etc...

Mudo o canal para o livro digital, mais especificamente o lançamento do Kindle Unlimited, sistema em que o leitor paga US$ 9,99 por mês e lê tudo o que quiser no acervo, por ora disponível somente nos EUA.

Em discussão recente – parabéns ao Galeno Amorim pelo debate transmitido on line sobre livro digital; deve ser repetido com outros temas – foi abordada a remuneração do uso do livro digital, nessa modalidade de serviço que a Amazon lançou.

Surgem então dois conceitos que, no plano digital, justificarão a obviedade do primeiro parágrafo este artigo. As editoras seriam remuneradas (a) pela mera disponibilidade do livro na plataforma digital, para que os leitores possam lê-lo, se e quando quiserem, ou (b) pela efetiva leitura do livro, desde que ao menos um leitor lesse mais que 10% da obra.

A rapidez da evolução tecnológica altera os conceitos e novos critérios vão surgindo em função dos novos hábitos. Os e-readers (aparelhos de leitura) abundam e ficam cada vez mais baratos; as novas gerações leem muito mais na telinha e menos no papel; é muito prático carregar um tablet e ter milhares de livros à disposição, em qualquer lugar, a qualquer hora.

Mas se a ponta da leitura muda, o miolo do setor editorial também se transforma. Essa fase de acomodação de critérios, que se desenrola muito rapidamente, permite acompanhar em ritmo de notícia de jornal a evolução das novas peças na engrenagem do publishing. Quais seriam as mudanças, em termos de remuneração das editoras?

Se prevalecer o critério da disponibilidade, basta o provedor de leitura - no caso o Kindle, mas pode ser qualquer outro - ter um exemplar de cada livro em seu “estoque” ou “livraria”, ou “acervo”, para que seja acessado pelos leitores. Nesse caso, supõe-se, o provedor comprará um exemplar de cada título, de modo que, se disponibilizar 600 mil títulos, por certo terá adquirido 600 mil exemplares. Esse é o critério que poderíamos qualificar, também, de potencial.

O segundo critério, o da leitura efetiva, é um pouco mais complexo. Se o serviço de leitura compra apenas um exemplar de cada título, teoricamente somente um leitor pode ler o livro escolhido de cada vez. Do contrário, o Kindle compra um exemplar daquele título da editora e, eventualmente, mil leitores podem ler o mesmo livro simultaneamente.

Duas soluções intermediárias: (a) a editora estipularia um preço especial de venda – melhor dizendo, de licença de leitura – para os provedores de leitura, ou, (b) haveria uma conjugação de fatores para determinar o preço do livro, (i) o preço fixo pela disponibilidade, mais (ii) o preço variável pelo número de leituras efetivas, pago a cada leitura.

São conjecturas feitas no rebuliço do lançamento do produto, que tende a alterar a equação de remuneração provedor-editoras. Daí surgirão várias indagações e comentários, inclusive a ponderação de que se o cliente nada ler aquele mês, os US$ 9,99 iriam somente para o provedor.

Por ora, a reflexão contribui para se encontrar o melhor modelo de negócio para essa inovação tecnológica, mas ainda perdura o mistério sobre o “missing link”, o contrato que ligará as editoras ao Kindle Unlimited, tudo indica baseado nas licenças. Vamos aguardar.

Só para lembrar que ainda falta lançar luz sobre outros aspectos, temos o critério de remuneração do autor, mas isso fica para outro artigo.

Gustavo Martins de Almeida é carioca, advogado e professor. Tem pós-doutorado pela USP. Atua na área cível e de direito autoral. É também advogado do Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL) e conselheiro do MAM-RIO. Em sua coluna, Gustavo Martins de Almeida aborda os reflexos jurídicos das novas formas e hábitos de transmissão de informações e de conhecimento. De forma coloquial, pretende esclarecer o mercado editorial acerca dos direitos que o afetam e expor a repercussão decorrente das sucessivas e relevantes inovações tecnológicas e de comportamento. Seu e-mail é gmapublish@gmail.com.

** Os textos trazidos nessa coluna não refletem, necessariamente, a opinião do PublishNews.

Publicidade

A Alta Novel é um selo novo que transita entre vários segmentos e busca unir diferentes gêneros com publicações que inspirem leitores de diferentes idades, mostrando um compromisso com qualidade e diversidade. Conheça nossos livros clicando aqui!

Leia também
Seja qual for o suporte do livro, o exemplo doméstico é fundamental para desenvolver o costume
Em novo artigo, Gustavo Martins fala sobre o crescimento do áudio como meio transmissor de conteúdo e da necessidade de proteger os conteúdos de reproduções indevidas
Em novo artigo, Gustavo Martins usa como ponto de partida o desejo de Fernanda Torres de encenar uma peça de Eça de Queiroz para explicar os trâmites jurídicos de uma adaptação teatral
Em novo artigo, Gustavo Martins discorre sobre os tempos de leitura e compara impressos com audiolivros
Em novo artigo, Gustavo Martins comenta a decisão judicial americana referente ao comércio gratuito de livros
Publicidade

Mais de 13 mil pessoas recebem todos os dias a newsletter do PublishNews em suas caixas postais. Desta forma, elas estão sempre atualizadas com as últimas notícias do mercado editorial. Disparamos o informativo sempre antes do meio-dia e, graças ao nosso trabalho de edição e curadoria, você não precisa mais do que 10 minutos para ficar por dentro das novidades. E o melhor: É gratuito! Não perca tempo, clique aqui e assine agora mesmo a newsletter do PublishNews.

Outras colunas
A editora-assistente do PublishNews, Talita Facchini, também fala no episódio sobre a Bienal do Livro Rio e a Feira Internacional do Livro de Pequim
Clóvis Wey, como um xamã das palavras, evoca fantasmas e futuros e nos faz pensar que talvez o que nos falta não seja progresso, mas escuta
Todas as sextas-feiras você confere uma tira dos passarinhos Hector e Afonso
Espaço publieditorial do PublishNews apresenta nesta semana obras publicadas pela Ases da Literatura
Leitor é convidado a mergulhar em narrativas cômicas e emocionantes que revelam o cotidiano das famílias nordestinas, com suas nuances, memórias e afeições
Prefiro dizer que minha literatura trata do insólito e não do fantástico. O insólito pode acontecer fisicamente.
Braulio Tavares
Escritor brasileiro - Flip 2019

Você está buscando um emprego no mercado editorial? O PublishNews oferece um banco de vagas abertas em diversas empresas da cadeia do livro. E se você quiser anunciar uma vaga em sua empresa, entre em contato.

Procurar

Precisando de um capista, de um diagramador ou de uma gráfica? Ou de um conversor de e-books? Seja o que for, você poderá encontrar no nosso Guia de Fornecedores. E para anunciar sua empresa, entre em contato.

Procurar

O PublishNews nasceu como uma newsletter. E esta continua sendo nossa principal ferramenta de comunicação. Quer receber diariamente todas as notícias do mundo do livro resumidas em um parágrafo?

Assinar