Um dos pontos que me chamou a atenção durante a leitura é que o livro repete o nome da personagem e esta frase no início dos capítulos:
O nome dela é Luana da Silva, doutor.
O nome dela é Luana da Silva. Isso mesmo, escreve normal.
O nome dela é Luana da Silva.
O nome dela é Luana da Silva, doutora.
O nome dela é Luana da Silva, anota aí.
O nome dela é Luana da Silva. Dá uma olhada nessas fotos aqui?
Na literatura, a repetição é um recurso estilístico que pode ser usado não apenas na poesia, mas também na narrativa. Aqui temos uma busca da personagem de ser ouvida, de ser vista e de que o nome de sua filha seja lembrado por diversas autoridades distintas (justiça, escola, igreja).
No livro, acompanhamos a jornada de Maria, que após perder a guarda de sua filha Luana devido a uma acusação infundada de maus tratos motivada por intolerância religiosa, se vê lutando contra um sistema que as ignoram – mãe e filha, mulheres negras e periféricas – completamente. Sem dúvidas, existem várias formas de violência e silenciamento de mulheres numa sociedade que é estruturalmente machista e, neste romance policial, essas questões são centrais.
Em meio ao desespero, Maria encontra apoio em Mirela, uma delegada que, apesar de seu passado doloroso, decide ajudá-la a encontrar Luana. Sem falar de sororidade, mas trazendo isso por meio de personagens e cenas, temos mulheres que se ajudam, ainda que não instantaneamente, porque, no fundo, há uma identificação no que se refere a esse silenciamento imposto, às dores sofridas e às cicatrizes deixadas.
Conforme a busca por Luana avança, Maria e Mirela descobrem uma rede cruel que usa a fé para acobertar muito além da intolerância religiosa, bem como na série Pecado revelados, dirigida pela cineasta premiada Susanna Lira. É uma ficção imersa na realidade e este suspense policial aborda questões complexas e ainda por discutidas na vida e na literatura, como: o racismo, a misoginia, o abuso sexual, a corrupção e a injustiça social.
Continuo a repetir que a literatura salva. Ciente de que a literatura também denuncia. Não que haja uma obrigatoriedade de nós, escritores, produzirmos uma literatura engajada, porque o objetivo de um livro de ficção é emocionar e levar o leitor a uma catarse. Mas sim, por meio das personagens, das cenas e da linguagem também é possível refletir, questionar e promover mudanças – dentro de si e consequentemente no mundo.
Vanessa Passos é escritora, roteirista, professora de escrita criativa, doutora em Literatura (UFC) e pós-doutora em Escrita Criativa (PUCRS), sob orientação de Luiz Antonio de Assis Brasil. É idealizadora do Programa 321escreva, do Método Mais Vendidos e do Encontro Nacional de Escritoras. Lidera uma comunidade de escritoras que tem voz em mais de 9 países, orientando centenas de escritoras a escrever, publicar e divulgar seus livros. Autora do volume de contos A mulher mais amada do mundo (2020). Seu romance de estreia A filha primitiva foi vencedor do Prêmio Kindle de Literatura (2021), do Prêmio Jacarandá (2022), do Prêmio Mozart Pereira Soares de Literatura (2023) e vai ser adaptado para o cinema pela Modo Operante Produções, agora publicado pela José Olympio. É colunista do Jornal O POVO e do PublishNews. Nas redes sociais, a escritora pode ser encontrada no perfil: @vanessapassos.voz.
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